03: traumas

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Lorena Castro17:27PM

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Lorena Castro
17:27PM

Descendo a rua mais um pouco podia sentir o vento batendo em meu rosto. Dessa vez era diferente, talvez eu sentisse um pouco de liberdade ao invés do pânico. Em São Paulo eu não conseguia sair na rua sozinha por sempre ter que passar no mesmo lugar, o lugar que fui levada e jogada como se eu não fosse um ser humano, um pedaço de nada. Morar no mesmo lugar me lembrava do quanto eu era fraca, do quanto eu não consegui me salvar e nem me libertar. Mas dessa vez eu sinto que vai ser diferente, eu sinto que posso respirar sem sentir o peso da culpa me corroer.

Ei, você! —Escutei a voz de alguém gritando e antes mesmo de me virar senti meu cabelo sendo agarrado.

—O quê? —Resmunguei não conseguindo ficar em pé quando fui puxada para trás, fazendo o meu corpo se colidir com o chão.

—Achou mesmo que eu não fosse descobrir? Sua vagabunda do caralho! —A mulher esbravejava enquanto puxava o meu cabelo.

—O que tá acontecendo? —Minha expressão era pura confusão. Nunca tinha visto essa mulher em toda a minha vida e a única coisa que eu sei era que ela estava me confundindo com alguém.

—Agora vai se fazer de inocente, caralho? Que porra você tava fazendo com o Paçoca? —Minhas sobrancelhas se uniram.

—Quem é Paçoca? Você tá me confundindo com outra... —Ela não me deixou terminar de falar pois puxou meu cabelo mais uma vez.

—Tá sentando pro meu macho e agora vai fazer a linha sonsa? —Ela gritava enquanto meu corpo era puxado, podia sentir as pedrinhas incomodando onde minha bunda passava.

—Pelo amor de Deus, eu nem sei quem é você ou o seu marido... —Tentei me justificar pela última vez sentindo minha paciência esvaindo do meu corpo.

—Na hora de tá sentando tu sabia quem era ele né? De baixo do meu teto sua vagabunda, teve a coragem de ir no meu barraco sentar no meu macho.

Respirei profundamente enquanto segurava as suas mãos que ainda estavam no meu cabelo. Lentamente fui fazendo força até me colocar de pé e então encara-lá frente a frente. Fazendo assim ser uma briga justa. Onde já se viu chegar pelas costas de alguém?

—Você tá me confundindo! Da pra soltar meu cabelo? —A morena chegou ao seu limite quando vi ela revirar os olhos se aproximando mais uma vez.

Por um momento realmente achei que iria começar uma briga que não era minha. Sei que não sou amante de ninguém e nunca seria, já que o meu caráter não me permitiria chegar a esse nível de carência. Meu corpo já estava em alerta para se caso ela encostasse em mim eu pudesse me proteger, mas de relance vi um homem se aproximar de nós e como se fosse automático meus ombros caíram e eu me afastei. A garota ainda gritava xingamentos na minha direção enquanto ele a segurava, só então percebi que ele era um dos que foi deixar a gente na nova casa. VT era como ele se chamava se eu não estivesse enganada.

UM LANCE PERIGOSO (MORRO)Where stories live. Discover now