Prólogo

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ALERTA DE POSSÍVEL GATILHO:
ABUSO SEXUAL.

"Ô moça, ontem eu tava caminhando
Perto daquela praça e um homem me parou
E me deixou marcas
Mas não eram de batom
Não eram de batom
E eu não sou a culpada
Pelo estupro, a pedrada
Pelo meu sangue que vaza
Pela minha pele que racha"

Disque denúncia — Nina Oliveira

Disque denúncia — Nina Oliveira

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Lorena Castro
Outubro de 2017

Já passa das 21:00, a rua está silenciosa, escura e completamente deserta. Não consigo entender o porquê. Sempre foi uma rua lotada de pessoas e por incrível que pareça hoje está totalmente apagada, quase nenhum poste de luz funcionava. Não havia chovido, não havia tido brigas e muito menos algum tiroteio.

Senti um vento gelado bater contra o meu corpo, avisando para todos os meus sentidos ficarem em alerta, um arrepio passou por toda a minha coluna. Apressei os meus passos assim que vi um carro velho vermelho se aproximando lentamente. Levantei o capuz do meu moletom olhando ao redor procurando por uma única pessoa em meio a escuridão. Minha respiração estava ofegante, parecia que eu estava correndo uma maratona durante todo o dia. O meu sangue estava gelado e eu começava a soar frio. De repente o carro parou ao meu lado e o homem sozinho no carro me chamou.

—Ei, garota? —Somente o olhei de relance e continuei andando sem me importar. —Eu só quero uma informação. —Respirei fundo parando e o observando.

—O quê? —Mal podia reconhecer a minha própria voz quando ela saiu em um sussurro.

—Chega aqui perto, não dá pra te escutar direito. —Meus sentidos me dizia para sair correndo, mas eu fui contra eles quando me aproximei segurando a barra do meu moletom firmemente.

No mesmo instante um arrependimento corroeu meu corpo como se me avisasse o quão burra eu fui. Fui puxada com tudo para dentro do carro e um soco de repente acertou o meu rosto, mesmo forçando os meus olhos a ficarem abertos lentamente minha visão foi se escurecendo. Mesmo que eu implorasse para o meu corpo ficar acordado. Foi em vão. Ele me abandonou.

...

Acordei sentindo um frio percorrer todo o meu corpo, como se um balde de água tivesse sido jogado em mim. Abri meus olhos piscando algumas vezes tentando enxergar algo na escuridão. No fundo do quarto estava ele, um homem alto, olhos escuros, barba bem feita, ele era magro com uma cicatriz no pescoço e tinha um sorriso diabólico nos lábios que me fazia estremecer.

Tentei me soltar e percebi que eu estava totalmente amarrada por correntes gélidas de ferro, meus pulsos doíam e logo percebi que eles estavam cortados pelo sangue que estava em meus braços. Olhei para o meu corpo e me vi nua. Nesse momento eu percebi o que realmente estava acontecendo, eu sabia que iria morrer aqui. As lágrimas começaram a cair, meus pensamentos implorava para Deus não me deixar morrer, para apenas me deixar sair ilesa, mas eu sabia que isso não seria o suficiente.

—Você é uma gostosa. Uma delicinha... —Seu toque fazia o meu estômago embrulhar, eu tentava tirar suas mãos do meu rosto mas era em vão.

—Por favor, me solta. Me deixe ir embora. —Eu implorei enquanto fechava os meus olhos.

—Primeiro vamos nos divertir, amor. —Ele me levantou do chão sujo em que eu estava me jogando em cima de um colchão velho.

Me colocando deitada de bruços suas mãos começaram a tocar o meu corpo, passava as mãos por meus seios e descia até minha intimidade. Eu implorava para que ele não fizesse isso, mas em seu olhar estava pura maldade. Seus dedos entraram na minha intimidade como se me rasgasse, mesmo que eu tentasse fechar as minhas pernas não era suficiente. Enquanto me tocava diversas vezes uma de suas mãos segurava meu cabelo fortemente. Mas tudo foi pior quando ele tirou a roupa enfiando os dedos na minha boca e logo passando em seu pênis.

Sem qualquer tipo de calma ele entrou na minha intimidade me fazendo soltar um grito estridente. Por mais que eu gritasse para ele parar não fazia diferença, ele não se importava. Minhas vistas ficaram totalmente embaçadas de tantas lágrimas, eu queria que ele fizesse isso comigo dopada para que não pudesse passar por toda essa dor. A dor era enorme, eu sentia como se estivesse me quebrando, me rasgando de dentro para fora. Eu implorava e chorava. Eu me contorcia e ele me dava tapas e socos.

—Eu quero escutar você gemendo. Sua puta! —Sua mão estava agarrada no meu cabelo enquanto a outra distribuía tapas pelo meu corpo.

—Por favor, para! —Implorei mais uma vez, mas já sem forças.

—Você é tão apertada... Você é gostosa demais. Fala que tá gostando, eu quero escutar. —Sua mão se soltou do meu cabelo indo até o lado pegando uma arma, senti todo o meu sangue se congelar ao ouvir ela sendo destravada.

—Eu tô gostando... —A últimas palavras que poderiam sair da minha boca me destruíram completamente.

Logo senti um líquido quente dentro de mim e ele arfando, sua expressão era de prazer e a minha de dor. Minha inocência foi roubado de mim. Nesse momento eu só conseguia ver toda a minha vida se esvaindo, todos os motivos para me fazer ficar viva sumindo lentamente. Ele me tirou uma coisa que eu não queria, não poderia ter feito isso. Por que eu merecia isso?

Ele me levantou tirando aquelas correntes dos meus pulsos que ardiam como se tivessem jogado gasolina em cima. Jogou roupas em mim enquanto passava o cinto na sua calça. Eu só conseguia chorar e tremer. Olhei para ele que agora já estava vestido e continuava com o sorriso no rosto.

—Veste essa porra logo! —Ele gritou me fazendo estremecer mais uma vez. Tirando forças do além me levantei passando as roupas pelo meu corpo.

Ele saiu me puxando pelo braço me jogando dentro do carro de novo, só então percebi que estavamos no meio do nada, completamente no meio do nada. Ele acelerou o carro e voltou adentrando a cidade. Por minutos eu tive a esperança de voltar viva, mas o medo de ele me jogar em uma vala era maior que tudo.

—Por favor, me deixe sair. —Implorando pela última vez minha voz saia como outro sussurro.

—Cala a boca, vadia!

Ele parou no mesmo lugar que me achou e me jogou na calçada, apontou a arma para mim e ali pensei que seria meu fim. Mas não, ele acelerou o carro me deixando ali. Abracei as minhas pernas e chorei, chorei como se aquilo fosse aliviar a minha dor. Percebendo que ele poderia voltar, depois de alguns minutos eu me levantei caminhando em direção a minha casa. Meu corpo todo doía, eu estava com o rosto inchado e minhas pernas bambas com sangramentos. Mas eu precisava chegar em casa.

Nesse momento eu só queria morrer, eu sentia nojo de mim mesma, eu me sentia suja. Eu só queria que aquilo fosse um pesadelo.

A dor que eu senti era difícil de descrever. Eu senti raiva, uma angústia, nojo, tristeza... Eu senti tudo de uma vez. E ali sentada naquele ponto de ônibus eu só pedi para morrer o quanto antes. Eu implorava para que não tivesse que aguentar tudo isso.

...

UM LANCE PERIGOSO (MORRO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora