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A semana que se seguiu após o sonho não foi nada fácil para Harry. Mas a situação piora quando ele precisa encarar a escultura de Cristo crucificado acima da fonte de batismo na paróquia no domingo de manhã.

Estar diante do sofrimento do Salvador, que aceitou ser o mártir de todos os homens para livrá-los do pecado, no momento de sua penitência injusta é suficiente para entalar a garganta de Harry com um baraço de vergonha. 

O seminarista recai o olhar para o próprio colo e assim passa boa parte do início da missa e da liturgia do livro de Êxodo - uma passagem tensa sobre a ira do Senhor e sua ameaça de extermínio do povo corrompido que é acaba sendo dissuadida por Moisés. 

Ele mal presta atenção no sermão do Reverendo mais novo. Disfarça bocejos e perde-se no labirinto de seus pensamentos. E em todos os corredores que percorre cheio de esperanças de encontrar liberdade, sempre acaba dando de cara com um beco sem saída. Sua culpa, pichada grosseiramente em todas as paredes.

Deveria ter se confessado e se livrado desse tormento. 

Porém, por mais que entendesse o princípio da confissão, de que não estava na confessando a um Reverendo, mas sim ao próprio Senhor, só de cogitar relatar o ocorrido pelava-se de receio e perturbação.

Harry tentou na quinta-feira. Todavia, nem alcançou o batente da porta do Diretor Espiritual. Chegou a hiperventilar, tamanho descontrole dos nervos. Uma reação exagerada, sim. No entanto, desde que iniciou o Seminário ele ainda não tinha se confessado. Ficou ansioso, temente ao que o Reverendo pensaria de si. 

O medo o deteve, o fez dar meia volta e o afastou dali. Ele buscou refúgio na biblioteca até o horário da aula de Direito Canônico.

Não tentou outra vez. Acabou convencendo a si mesmo de que não tinha de fato cometido um pecado, apenas sonhado, portanto, não era tão grave a ponto de ter que confessá-lo, não é?!

A decisão deveria ter dado conforto ao seu espírito, entretanto, a paz ainda está distante dele.

Pois, afinal, se não era tão ruim assim, contar a alguém não deveria ter se tornado uma grande questão. 

O motivo de todo o alvoroço não era por ter tido apenas um sonho erótico. Harry teve um sonho erótico com Louis Tomlinson, seu colega de Seminário!

E justamente ele fora designado para ser o primeiro propedeuta a subir no altar para ler a próxima liturgia. Evidentemente a escolha não podia ter sido diferente; se algum deles tinha de ser o primeiro, este  tinha que ser o que mais se destacava positivamente.

Harry torna a bocejar e a lagrimar de sono quando o Reverendo mais novo termina o sermão. Os seminaristas cantam. Em seguida, todos na igreja se ajoelham para reverenciar o Salmo Responsorial proclamado pelo Diretor.

O clamor por piedade e misericórdia, por purificação, por lavagem do pecado e pelo apagamento completo da culpa avassalam Harry. Uma maresia salina inunda as linhas d'água dos seus olhos. Ajoelhado e escondendo o rosto entre as mãos, sua voz embargada sussurra em uníssono com a do Diretor: - Meu sacrifício é minha alma penitente, não desprezeis um coração arrependido.

No silêncio que se segue, o rapaz constata que não pode guardar aquele fardo consigo. Precisa livrar-se dele logo. Tem que se confessar o mais breve possível. 

Na verdade, deveria tê-lo feito antes da cerimônia. Agora é tarde demais; em poucos minutos a hóstia será dada, e como ele fará a comunhão estando do jeito que está? Não pode. Isso sim seria pecar.

Do banco cumprido de madeira escura onde está, ele é o último a se sentar de novo. Os olhos avermelhados e a tentativa de secar o rosto disfarçadamente acabam chamando a atenção do colega ao lado, Isaac, que tem o cabelo ondulado e uma covinha funda no queixo. O seminarista abre um sorriso simpático que Harry imediatamente retribui. Depois ambos os olhares tornam-se para o altar.

immaculate sin of the lovers • L.S.Where stories live. Discover now