vīgintī quattuor

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– Senti sua falta - exclama Harry, cujos braços enlaçam o pescoço do seminarista num abraço apertado – Como está sua família? Te mimaram muito? Choraram na hora de você voltar?

Em resposta ao afeto exagerado de Harry, as mãos de Louis lhe afagam a costa com devoção. O outro, por sua vez, mal sente os pés tocarem o chão e, por isso, segurar o amigo firmemente, tentando não correr o risco de sair flutuando por aí.

– Não muito. Mas tentaram esconder  a chave do carro - revela o seminarista, com o humor vibrante de quem teve os melhores dias lá.

– É claro que sim. Não esperava menos que isso.

Apesar de Isaac estar ao lado deles, amistosamente sorrindo para os dois, o garoto cacheado não tem pressa em se desvencilhar do de topete.

Ele só o faz quando chega ao limite do aceitável. Harry não quer matá-lo sufocado nem abraçá-lo pelo resto da tarde, então já estava de bom tamanho, não é?!

Além do mais, este contato não-tão-breve teve a força de propiciar o que nenhum outro havia conseguido até agora, ou seja, despertar nele a energia efervescente de um novo ano, deixando-o quase extasiado pelo bombardeio repentino de possibilidades futuras.

Harry agora se sentia disposto a mudar de vida.

Sente-se disposto a não se preocupar demais com frivolidades, a melhorar sua alimentação e a começar uma rotina intensa de exercícios físicos. Também se sente capaz de não guardar mais no peito as emoções mais intensas. Ele certamente aprenderia a perdoar com mais sinceridade e voltaria a se dedicar inteiramente à igreja outra vez. E mais do que nunca trataria melhor as pessoas, incluindo a si mesmo.

Tudo isso se tornou palpável por um instante.

Por isso, sem nem se dar conta, ele está repetindo o ato com Isaac, esforçando-se para que este não se sinta excluído nem menos querido por ele. Pois, ora, além de Louis, Isaac é o único que não desprezou sua companhia após o fim do seminário. Harry precisa ser mais digno com ele.

Enfim. Ao contrário do rapaz que ficou na região, os que viajaram para casa no recesso têm muito o que contar. Nada terrivelmente fora do comum. Mas, sinceramente, Harry entende o entusiasmo deles diante de qualquer rompimento da rotina engessada de todo dia.

Eles fizeram questão de aproveitar o feriado em família como um grande evento Relataram-no como dias extraordinários. E isso fez Harry sorrir como um irmão mais velho ouvindo o mais novo contar do passeio escolar. Como se com ele próprio as coisas fossem muito diferentes.

Seu riso bobo falha somente quando Louis se refere à sua boa aparência.

– Você deve ter se divertido muito por aqui.
Assim Harry relembra o que rolou e o que não rolou no feriado. A doença fictícia - que em nenhuma ligação foi mencionada à Louis -, a visita à casa da tia, o encontro com primo e sua namorada e a manhã seguinte com Kristen.

Sem sombra de dúvidas, ele já viveu circunstâncias mais favoráveis.
– Foi normal - responde, dando de ombros – A mesma coisa de sempre. Tudo perfeitamente normal.

– É mesmo? - descrer Louis.

Harry assente enfático enquanto verbaliza um sim.

É meio contraditório. Por mais que ele queira esquecer tudo, parte dele está louca para relatar ao amigo o que Kristen e ele fizeram.

Mas é preciso esperar por uma ocasião melhor.

Ele precisa estar sozinho com Louis… e quem sabe nem assim ele conte, quem sabe só durante uma ligação, quando estiverem seguramente distantes. Quem sabe isso não ocorra de jeito nenhum e acabe se perdendo no passado.

immaculate sin of the lovers • L.S.Where stories live. Discover now