trēdecim

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A morte da sra. Dahlia não foi a resposta divina que esperava receber.

Harry podia até tentar não buscar sentidos, razões em acontecimentos aparentemente aleatórios; mas este tinha sido pessoal demais para não lhe causar receio. Parecia um alerta, um aviso para permanecer quieto, para não dar corda a nenhuma pretensão.

Com efeito, acabou por não sondar Mitch. Mas já tinha certeza de que seria inútil. 

Não é possível que os dois estivessem vivenciando a mesma experiência. 

Mitch não se importa em criar conflitos. Se ele quer fumar, irá fumar; se uma aula o desagrada ou ele a abandonará ou passará a refutar tudo o que dizem, como uma criança petulante. Ninguém o impede de fazer o que bem entende. E se para isso ele precise enfrentar alguém, ótimo, melhor ainda, e que se dane se houver consequências.

Ele é destemido. Assertivo. Provocador. Harry não acha que o colega aceitaria calado uma situação desagradável. Apenas uma ameaça grave poderia conter um alarde seu, ralvez. 

Mas não parece o caso.

Não dá pra saber se é proposital, mas o Diretor nunca os convoca quando estão sozinhos. Posto isso, Harry já viu Mitch reagir aos seus chamados algumas vezes. Os olhos se giram na própria órbita e, com a voz carregada de tédio, ele pergunta "isso é mesmo necessário?" ou então "o Senhor não tem nada mais interessante pra fazer agora?". Ele não transparece nenhum tipo de desconforto, apenas atrevimento.

É diferente com Harry. Ao depara com o homem, ele sempre fica apreensivo. E quando seu nome é aquele escapa da boca alheia, a pressão sanguínea cai. E apesar de se esforçar em não demonstrar hesitação, às vezes ele falha e passa um ou dois segundos paralisado, cogitando não atendê-lo. 

Foi o que aconteceu uns dias atrás. Harry só despertou ao sentir um toque no antebraço, era Louis questionando se havia escutado. Metade dos rapazes estavam na biblioteca com eles, mas apenas Louis e Isaac o fitavam com curiosidade. 

O seminarista assentiu e levantou, tentando adestrar seu nervosismo. Mas ele soube que chamou a atenção dos amigos porque, ao reencontrá-los, quiseram saber se estava legal.

Louis acusou, com cautela, que não era a primeira vez que o via assim. Deu a entender que as porções que comia - que tornavam-se cada vez menores, pois Harry não sabe quando o Diretor irá o chamar e quanto mais coisas tiver na barriga, mais difícil será lidar com o refluxo - podia estar lhe causando esses repentinos mal-estar. Isaac lhe deu razão.

O quanto soaram convicto de suas conclusões. Conseguiram fazer Harry nasalar uma risada sincera.

Contar para eles o que estava rolando não é uma opção. 

Quer dizer, Harry sequer entende perfeitamente isso. Desde o início, formulou uma única explicação. Ele se masturbou durante a formação, dentro da Congregação, emquanto a refeição de natal ainda pesava no estômago. Sabendo que o quão errado e ultrajante isso era, ainda assim ele o fez. Como expurgaria esse pecado se não sofrendo com uma punição.

Evidente que, hora ou outra, o rapaz questiona os métodos de correção do Diretor. Mas com base em quê, exatamente? No que julga melhor para si? Sério, justo Harry? Julgando as atitudes do Diretor Espiritual, que tem referências para estar na posição que batalhou para conquista? 

E, no final das contas, qual foi a última vez que ele ficou excitado, tentado por desejos libidinosos? Sem dúvidas, desde que o outro começou com isso. 

É sinal de que a metodologia funciona.

Ainda assim, Harry precisa saber se é ou não o único passando por isso. E como a própria experiência lhe comprovou, está claro que a melhor maneira de descobrir se algo do gênero está se repetindo com os outros é observando suas reações diante do Diretor.

immaculate sin of the lovers • L.S.Where stories live. Discover now