ūndēvīgintī

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– Antes de dizer o vou dizer, não pense que isso vai acontecer sempre. É sério, não tente se aproveitar da minha boa-vontade. Eu adoro você, mas esse é o único privilégio que eu vou te dar aqui.

O horário em que o sr Horan o puxa da bancada ao lado da cozinha e se tranca com ele no escritório não é um dos mais favoráveis para bater-papo. É verão e a casa está cheia. Pedidos não param de chegar e os chefes não param de gritar. Louças e panelas sujas chegam aos montes para os pobres três, quatro pares de mãos lavarem, secarem e polirem o mais rápido que puderem. 

Urgência é o mandamento número um ali.

Não dá para se perder tempo com conversas paralelas.

O que quer que o pai de Niall diga a seguir, deve ser importantíssimo.

Harry está apreensivo por essa introdução, pois o gerente grisalho de estresse que está diante de si é assombrosamente diferente do homem afável que Harry conhece fora do trabalho.

Não que ele seja tirano ou que dite ordens aos gritos. Ele não é. Tampouco precisa ser. A gravidade gutural e o tom medido que usa consegue ser mais intimidante que o olhar cerrado de desagrado da mãe de Harry, às vezes soa até mais terrível do que a ameaça disfarçada de conselho que o Diretor Espiritual deu para Harry na última interação que tiveram.

Ninguém ousa tardar em atender seus pedidos no segundo seguinte. Nem mesmo Landolf, o chefe mais mal-humorado que há naquela cozinha, se atreve a contrariá-lo.

Harry tem certeza que sr Horan nunca usou aquele tom com o filho. Niall seria um garoto muito mais obediente se isso tivesse acontecido alguma vez.

Mas essa faceta do homem não é novidade para os rapazes. Eles a nos períodos de férias de verão do ensino médio, quando vinham lavar pratos à noite.

Por isso, Harry tem noção de que pouco importava a relação deles longe do restaurante, ali eles eram chefe e empregado e nada mais.

– Termine de polir os talheres e pode ir embora mais cedo hoje.

Como nem seu pai, nem sua irmã têm regalias desse tipo, essa era última coisa que Harry poderia esperar para si mesmo. Então, naturalmente, ele fica desconfiado.

Ele está sendo testado? 

Mas por que raios o sr Horan iria querer testá-lo?

– Mas eu não pedi pra sair cedo - retruca, cauteloso.

– Eu sei. Mas tem alguém lá fora querendo falar com você. Um amigo do seminário. Louis. Está há um tempão esperando. Tinha até um outro menino com ele, acho que também era do seminário, mas já foi embora.

Involuntariamente Harry dá uma risada sem humor do tipo "rá, muito engraçado, tô morrendo de rir, agora posso voltar pros meus talheres?", mas logo em seguida percebe que não é brincadeira. 

Se nem Niall poderia brincar com isso - já que, afinal, não fazia ideia da existência de Louis -, seu pai também não pode. 

Só uma pessoa poderia mencionar esse nome para tirar uma com sua cara: Mitch.

Sim, é isto. Só pode ser ele. 

Uma pena que não esteja aqui para ver o quanto deu certo.

Ainda assim, o que diabos Mitch veio fazer ali? Pois mesmo que seja Mitch, continua sendo uma aparição inesperada. 

Em nenhum momento Harry cogitou rever seus colegas propedeutas. Nunca lhe passou pela cabeça que um deles - ou melhor, dois deles - viessem procurá-lo após terem concluído a primeira etapa da formação. 

immaculate sin of the lovers • L.S.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora