vīgintī quīnque

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– Eu sei o que você fez - acusa Harry – Quando o Diretor me ligou, eu tive a certeza de que você fez o que não devia. Eu te disse pra não ir atrás dele, não disse?! Por que você não me ouviu?

Os ombros tensos de Louis despencam com um suspiro complacente. Finalmente teriam a conversa que tanto antecipou, confessa seu corpo. 

O aborrecimento de Harry, porém, é aplacado pela sincera agonia com que ele questiona: – Para onde mais eu podia correr? Tô há meses no escuro. Primeiro você me pediu pra esquecer isso, eu tentei. Aí você me pede pra ficar de olho em David e eu fico perdido, incerto sobre que passo dar. Se queria que eu não me preocupasse, por que me pediria isso?

O garoto de cabelos encaracolados mordisca a parte interna da própria bochecha e, involuntariamente, um sorriso culpado lhe estampa um rosto. Louis tem razão.

 – Foi mal. Não tive a intenção. Nem sei onde eu estava com a cabeça.

– Mas é onde sua cabeça ainda está, não está? Porque você pergunta sobre David vez ou outra, então ainda quer que eu insista nele. Por quê? - pausa - Pelo jeito com que ele se esquiva sei que vocês compartilham o mesmo mistério. Ou um parecido, pelo menos.

Harry acredita nisso, portanto se permite um breve lamento. Pobre David, ele quase diz. Será que um dia se livrará disso? Como raios ele consegue aguentar tanto assim? Será que não se incomoda? Certamente, não ao ponto de desistir. 

É aí que Harry pensa se não foi drástico demais, dramático demais.

O labirinto que é a sua mente revela-se então mais incognoscível que há um passo atrás.

A determinação vacila, enfim.

Mas Louis torna a falar: – Fiquei bem assustado quando você apareceu no meu quarto, e isso piorou quando você desapareceu na manhã seguinte, aos olhos de todo mundo. Ah, Harry, só consigo imaginar coisas horríveis como respostas para o quer que isso seja. 

Abraçados do jeito que estão, a limitada proximidade de seus corpos impede que o seminarista sinta o quão freneticamente o coração do outro ribomba. Pelo menos é o que Harry acha. O que é uma pena. Se Louis sentisse tal cadência, talvez entendesse a magnitude das coisas horríveis que, de fato, ocorreram.

Terá sua imaginação se aproximado da realidade? Ou será que ela recusa-se a supor algo tão sórdido assim? 

Harry acaricia-lhe a costa tentando confortar a si mesmo e ao amigo.

Pobre Louis.

Não é melhor poupá-lo? Ele não precisa encarar os fatos, não importa o quanto acredite no contrário.

O monólogo aflito segue adiante.

– …Pior que isso é a sensação de estar de mãos atadas, porque eu podia ter te ajudado de algum jeito naquela noite. Não foi pra isso que você me procurou? Mas eu não consegui.

– Conseguiu, sim - acode o outro – Eu só não queria ficar sozinho e ter uma noite ruim. Funcionou.

– Ainda assim você foi embora.

– Era o que tinha que fazer.

– Quem o forçou a isso? Por quê?

Harry passa um minuto calado.

– Como foi a conversa com o Diretor? - indaga então. 

Louis soa desconfortável, receoso. 

– Bom, ele não me contou nada que eu já tivesse percebido antes. Só quis saber por que alguns garotos tinham que se encontrar com ele e nem mencionei seu nome mais que o necessário. Eu também disse que, na minha opinião, com David não está funcionando. Porque não está mesmo. Não sei por que ele te ligou.

immaculate sin of the lovers • L.S.Where stories live. Discover now