duodēvīgintī

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Vodka com suco. Harry não pensava em voltar a beber essa combinação tão cedo.

O mais inesperado, porém, é isso estar acontecendo na presença da irmã e dos amigos dela numa noite de sábado após o trabalho.

Durante o percurso de carro até a margem do Rio Dane, pela conversa que rolou, Harry previu que não seriam os únicos e tampouco seriam os primeiros a chegarem lá. E estava certo.

Apesar de nunca ter ido, desde muito novo sabia que todo início de primavera os jovens das redondezas se reuniam para encher a cara por aquelas bandas. Mas, somente quando chegaram, Harry viu a proporção que o evento tinha.

A fama em torno dele é meio incoerente, para ser sincero. O lugar não é soturno como a estação abandonada, mas há alternativas melhores, como os parques que a esta hora ficam desertos ou o galpão que, vez ou outra, era alugado para festas desse tipo.

Ali, por outro lado, nenhuma estrutura improvisada pode proteger seus tornozelos do lamaçal causado por dez minutos de chuva. Mas, ok, os festivais em Chester sofrem desse mesmo mal. 

O mais preocupante de fato é o perigo de se organizarem a poucos metros de uma ribanceira tão desconcertante alta que Harry, ao invés de perguntar se alguém já caiu, quer logo saber:

– Quantas pessoas já se afogaram aqui? 

 Afinal, em se tratando de jovens bêbados, não espera menos que isso.

De resposta, no entanto, ele recebe risadas espirituosas, um comentário "tomara que a Justine, aquela piranha, se afogue hoje" e um copo de papel com a mistura sabor cranberry preparada pelo do namorado de Gemma, Jesse.

Ao contrário da dona do comentário, Harry não quer testemunhar nenhum acidente ou tragédia hoje. E como também não quer protagonizá-los, fica longe da margem não cercada. 

Enfim, como ia pontuando, a fama é incoerente, mas também inegável. Há mais gente ali do que ele é capaz de contar, dispersos em grupinhos ao redor de carros e coolers.

De vista, Harry reconhece a maioria dos presentes, senão todos. E como a vida aparentemente não está muito afim de lhe permitir uma noite de sossego, um desses é o rapaz a quem ele certa vez empurrara para defender Niall e cuja reação fora um soco bem no seu rosto. 

O pior é que, pelo franzir de cenho e riso cínico após um contato visual rápido, o cara também deve se lembrar do ocorrido.

Naturalmente, ele age com cautela e vigilância pelos minutos seguintes, antecipando o momento em que o outro se aproximaria para tirar uma com sua cara.

Embora nem de longe Harry tenha o pavio curto - na verdade, sua tolerância a provocações  e atitudes desagradáveis chega a ser alarmante -, nada impediria o outro de caçar um motivo para socá-lo uma segunda vez.

Se isso se suceder, tudo que deve fazer é torcer para alguém intervir em seu favor já que fugir está fora de questão - não pagaria de covarde na frente dos amigos da irmã - e tentar se defender ou rebater golpes seria mais desastroso que aceitar o destino.

De qualquer forma, Harry apenas não quer ser pego desprevenido.

Não obstante, um tempo considerável se passa sem que nada demais aconteça. Tanto que a bebida que pensou que duraria a noite inteira - Jesse encheu seu copo - já está perto de acabar.

Parte de Harry está intrigada com a rapidez com que o líquido foi ingerido, enquanto a outra parte se orgulha dele mal sentir o álcool no corpo.

É verdade que conhece o baque que rola depois, mas mesmo que tenha sido uma experiência única, ele comete o erro de já se considerar familiarizado com ela.

immaculate sin of the lovers • L.S.Where stories live. Discover now