ūndecim

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Manhã de sábado. Ass correntes de ar rodopiam robustamente como se fossem um conglomerado de bailarinas cheias de graça e de desenvoltura e de pressa, sobretudo. Carregam nas bainhas das saias a umidade invernal e os braços trazem movimento a qualquer coisa que atravesse seu percurso. 

Da garoa fina que lá fora despenca das nuvens carregadas no céu às páginas do livro que Harry lê, nada escapa de sua dança ruidosa.

Elas, agressiva e suavemente, lançam-se contra os rostos juvenis à janela, e bagunçam as mechas de seus cabelos. Avançam para além deles. Desgarram-se no pátio e alcançam o seminarista solitário sentado num dos degraus mais baixos da escada, obrigando-o pressionar os dedos contra as folhas a fim de mantê-las abertas e no devido lugar.

- Imagina como isso aqui vai ficar quando a primavera chegar - divaga Isaac um tom acima do vento, de braços deitados no batente de um dos janelões. Ele e Louis aproveitam a ventania fria como se fosse uma brisa de verão, os olhares perdidos na enfadonha paisagem de céu pálido e nuvens carregadas - Deve ser bonito. O campo minado de flores, a figueira carregada de frutas…

Campo não passa de uma palavra generosa para o tapete de uns 6 ou 7 metros que separa a porta da Congregação do asfalto da rodovia. Atualmente a extensão está coberta por lama - que impregna-se na sola dos seus sapatos, formando uma crosta marrom difícil de se livrar, cada vez que os rapazes se encaminham para o compromisso dominical -, no entanto, em temporadas mais quentes, o gramado surge em destaque. 

Quando chegaram no ano passado, os seminaristas puderam vê–lo, bem como presenciaram a figueira, única árvore de propriedade da Congregação, no fim de seu ciclo verdejante e frondoso, durante a fase de douração e secura das folhagens até o instante em que o outono fez cair a última delas, deixando nu os galhos esqueléticos.

Pelo visto, Isaac é um dos que aguarda ansiosamente o reaparecimento de todos esses  tons esverdeados.

- Fiquei sabendo que eles tentaram cultivar uma horta uns anos atrás - comenta Louis - Mas desistiram quando começou a aparecer muitos caracóis, aranhas, ratos. Os pássaros e os esquilos detonavam tudo também. Tiveram que dedetizar a casa, duas vezes, e mesmo assim demorou meses para que a situação voltasse ao normal.

- Você acha mesmo que a infestação foi controlada? - Mitch, encostado noutra janela tragando um cigarro, contesta - Já deu uma olhada nos cantos das paredes? Tipo ali, olha.

Harry está tão dedicado ao livro que sequer levanta o olhar para saber ao que ele se refere. Apenas supõe que seja uma teia de aranha. Já notou várias delas por aí

- Estão por todo lugar, cara - continua ele - Não duvido que tenham ratos morando sob nossas cabeças. 

- Ratos? Acho que não - descrê o outro - Senão já teríamos visto ou ouvindo um. Por acas já viu um? Porque eu não.

Se Niall estivesse ao seu lado, Harry certamente zombaria com ele. Algo como: o rato que você vê no reflexo do espelho não conta, Mitch, diga se viu um de verdade, ou algo assim. Mas, como o amigo não está, ele permanece de boca fechada. No final das contas, é uma piada boba. Uma piada boba fruto de uma mente banal.

Harry pisca até restabelecer a ordem dos pensamentos e assim, retoma a leitura guiada pela ponta do dedo indicador.

A discussão sobre ratos e pragas não se desenvolve. Em vez disso, é sufocada por um assunto mais interessante, nascido a partir do devaneio anterior de Isaac. Um papo que envolve a fantasia de uma estação florida, de clima ameno, onde passeios fazem parte da rotina dos propedeutas.

- Vocês já pensaram em, sabe, de vez em quando sair pra dar uma caminhada? Acho que não seria uma má ideia.

A sugestão que apenas pairava sobre eles encontra, enfim, seu eco no tom vibrante de Louis. E não poderia ter soado mais melodiosa, nem mais agradável. Harry podia sentir a excitação exalando dos poros dos outros colegas. 

immaculate sin of the lovers • L.S.Where stories live. Discover now