duodecim

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Harry não é do tipo que cai nos braços do sono logo que se deita para dormir. São raras as vezes que isso acontece. O que costuma rolar é uma espécie de prova de merecimento, o seminarista precisa conquistar o sono toda santa noite.

Estende-se, portanto, um intervalo de tempo em que é necessário ficar tão quieto que, se não fosse pelos pensamentos tagarelas, ele entraria num estado de meditação. 

São penosos minutos de antecipação.

E lidar com a hiperatividade da mente, tentar silenciá-la, é o que torna o desafio diário ainda mais estressante. 

Para o pescoço e as pernas, nenhuma posição mostra-se confortável a longo prazo. Sem mencionar os olhos, que se recusam a permanecer fechados por mais de alguns segundos. As pálpebras tremulam, incomodam. E ser privado da visão não lhe é nada agradável.

Harry também não suporta encarar o lado da parede. Dar as costas para o cômodo em que dorme lhe causa uma sensação de vulnerabilidade. Não vigiar o quarto, não estar atento a cada mudança no ambiente, a cada ameaça que de repente surja, soa como um erro gravíssimo; por mais que parte de si - a parte ainda mais medrosa, pelo menos, a que prefere não noticiar nada fora do comum - discorde.

Esee é um daqueles comportamentos que surge na tenra infância, que nasce a partir de medos comuns, como o medo do escuro, do monstro dentro do guarda-roupa ou debaixo da cama, do de achar que a família o abandonou em casa. E costuma ser superado no decorrer dos anos. Não foi o caso de Harry. Na verdade, a sua curiosidade traiçoeira tem um parcela de culpa. Se não fosse por ela, o garoto não teria assistido metade dos filmes de terror que viu.

Como já dito antes, para evitar sonhos indesejados Harry adquiriu o hábito de acordar hora ou outra durante a madrugada e, ao perceber-se com o rosto virado para o lado abnegado, prontamente retoma o campo de visão mais importante. 

E é exatamente o que ocorre neste instante. 

O estado de sonolência que lhe verte a mente e que o ajudará a apagar logo maia, entretanto, se espraia quando um toques ressoam à sua porta. 

Harry não se alarma. O barulho deve ter sido fruto de sua imaginação sonâmbula.

Bom. A situação muda quando a porta é aberta com cuidado e uma cabeça invade o quarto. 

É difícil reconhecer a quem ela pertence. A única fonte de luz disponível agora é a do início do corredor, meio afastada dali, e é inútil, pois a pessoa está contra ela. 

Além disso, o seminarista não está num bom estado mental. Está confuso e atordoado e até o minuto anterior sua única preocupação era manter o sono ao alcance do que adaptar os olhos à escuridão do quarto.

O desconhecimento não perdura muito, no entanto. Harry tão logo distingue a voz murmurada do Diretor. 

– Tá acordado, filho?

O questionamento o atinge como um raio forte. Causa uma grande queda de energia que desliga todos os nervos do aeu corpo.

Num ímpeto, ele fecha os olhos e finge que não, não está.

Parece a melhor atitude a se tomar... Só vai ser obrigado a lidar com o homem se for chacoalhado na cama. Deus queira que não cheguem a tal ponto.

– Harry? - o homem tenta outra vez, num tom mais baixo.

Nada. Harry visivelmente não está acordado.

Ele gostaria que isso fosse verdade. 

Maldita hora em que decidiu dar corda à uma mania. 

immaculate sin of the lovers • L.S.Where stories live. Discover now