quattuordecim

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Na madrugada desse mesmo dia Harry teve um pesadelo. Foi durante um breve cochilo, daqueles ao invés de aliviar o cansaço, só o agravam. Porém, a sensação que teve foi de passar horas aprisionado nele.

Preso. Não existia outra maneira de descrevê-lo. Ele estava acorrentado em si mesmo.

Enquanto consciência funcionava como de costume, caótica, o corpo estava estranho. Havia algo de errado com ele.

Seus comandos não alcançaram os membros. Nem os mais simples, como mover os dedos, abrir a boca, engolir em seco ou sequer piscar, eram respondidos.

O tato era o único que não havia sofrido danos. Harry sentia o cobertor e o colchão da cama contra sua pele. Sentia os poros contraídos, os pelos eriçados pelo frio. Mas nada podia fazer. Somente observar e pensar.

Pela visão periférica, viu que a cômoda não bloqueava a porta.

Não podia ter se esquecido. Arrastar a mobília era a primeira coisa que fazia ao regressar para passar a noite. Era sua única medida de segurando.

Agora qualquer um podia entrar livremente para visitá-lo.

Elw queria tanto poder se levantar para concertar esse erro.

Somente quando o sino de bom dia soou estridente no corredor, a preocupação de desavinuou um pouco.

O seminarista confiava que o homem não se atreveria a aparecer ali em plena luz do dia, quando todos estavam acordados. Ambos sabiam que o que os atos que cometia eram decididamente questionáveis.

Ainda assim, a situação de Harry continuava péssima. Ele ainda estava imobilizado. E, por Deus, seria menos aflitivo saber que estava acorrentado à cama por algemas apertadas do que não ter noção do que estava rolando.

Toda a força de vontade, todo empenho mental para se mover eram inúteis. O corpo continuava inacessível. Tanto que não pôde pedir ajuda. As cordas vocais se recusavam a vibrar em seu favor.

Mas sua ausência não passaria despercebida. Pelo menos, era nisso que se agarrava em busca de conforto. Restava-lhe então esperar até que alguém aparecesse - de preferência, um dos seus colegas.

Não demorou para que suas preces fossem atendidas.

De repente, um Isaac sorridente irrompeu para dentro do quarto anunciando o novo dia. Com tranquilidade, o amigo foi à cômoda e pegou um estojo de plástico azul guardado na primeira gaveta - nele estavam guardados seus itens de higiene pessoal. A seguir, aproximou-se de Harry, o livrando do cobertor e perguntando se estava com fome.

Como nunca antes, responderia o rapaz, se pudesse. Ele sentia a barriga revirada pela cólica.

O porte físico de um era praticamente o reflexo do outro. Entretanto, Isaac tomou Harry pelas laterais do corpo e o puxou da cama com a mesma facilidade que a pequena Gemma recolhia suas bonecas do baú de brinquedos. Ele o carregou como se o tamanho e o peso de Harry não fossem nada demais.

No corredor depararam-se com Louis. Isaac o virou de frente para o rapaz de topete baixo e disse, num tom infantilizado:

- Olha só quem está aqui! Diga oi pro Louis - então ele mesmo respondeu, forçando uma voz mais grave: - Bom dia Louis, dormiu bem?

O rapaz concordou. E perguntou à Isaac se estava o levando para o café da manhã.

- Ainda não. Já viu o cabelo dele?! Parece um ninho de passarinhos, não sei como ele consegue bagunçar desse jeito. Vamos ao banheiro primeiro.

- Deixa que eu cuido disso.

- Tem certeza? Precisa escovar os dentes também

- Absoluta. Pode deixar comigo - assegurou, já o pegando para si, não como Isaac fazia, mas carregando-o nos braços como uma criança grandinha. Pegou também o estojo azul.

immaculate sin of the lovers • L.S.Where stories live. Discover now