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Vittoria

Gisele insiste para que eu desista de preparar o jantar, mas não cedi a isso, iria enlouquecer se não fizesse algo, estava cansada de andar de um lado ao outro para o quarto, ir até o jardim e olhar tudo por duas vezes também não ajudou, assim como bisbilhotar cada canto da casa, que eu podia, o escritório do meu marido era um local proibido e trancado, assim como o sótão, ali não queria nem imaginar o que havia escondido, até mesmo minha curiosidade se escondeu com a porta entreaberta espionando e assustada.

— Santo Dio! — suspiro orgulhosa e muito faminta, não iria esperar para me limpar, precisava afogar minhas mágoas nessa massa deliciosa. Havia feito uma lasanha, usando meus mantimentos que trouxe comigo, não sabia quando comeria algo com ingredientes vindo da Itália, seria uma forma de matar minha saudade além da minha fome — Santo Dio! — volto a dizer, em um gemido quando lambo o dedo que mergulho em um pouco do molho. Fiz tudo do início, desde o molho a massa, se tivesse leite fresco poderia preparar meu próprio queijo.

— Sua apreciação por Deus só não é maior que por sua preferência a esse molho — pulo assustada com a voz de Luca, ele parece levemente divertido, enquanto me observa atentamente.

— Isso é blasfêmia, Luca! — me pego dizendo, e me calando assim que passo a observá-lo.

Já era noite, se não fosse dez da noite, estava muito perto disso. Ele parece muito bem para alguém que passou todo o dia fora e dormiu muito tarde, coisa que estou supondo uma vez que ele ficou por horas no banheiro e depois não o vi sair. Seu paletó está preso entre seu cotovelo e antebraço, as mangas de sua camisa social branca arregaçadas, sua calça social escura se agarrando perfeitamente em seu corpo, meus olhos vibram para que eu incline a cabeça e dê uma espiada, mas me seguro, então deixo minha mente me recordar de quão perfeito fica.

Luca joga sua cabeça para trás e gargalha. Eu nunca o vi gargalhar, era um sorriso ou outro. Ele fica ainda mais lindo, radiante, meu deus-sol, meu Febo!

Sorrio o observando.

— Então nem quero saber o que é quando vou à missa aos domingos depois de esquartejar alguém — eu o olho abismada, coisa que não deveria, parando totalmente de sorrir.

Papai e meu irmão, nunca falavam esse tipo de coisa ou qualquer coisa sobre a famiglia em minha presença. Demorei anos para descobrir o que fazíamos.

— Pecado é pecado — dou de ombros — Irei te servir! — digo buscando um prato há mais, havia desistido de esperá-lo quando Gisele disse que ele não costumava jantar, foi a única coisa que arranquei dela sobre ele, e que pretendia mudar, mas não hoje, ainda bem que saiu fora do planejado — Vinho? — pergunto de costas e levo outro susto quando ele está há poucos passos de mim. Meu corpo todo se arrepia do jeito que considero bom. Imagina não se sentir atraída por seu marido? Horrível — Tudo bem? — ajo como uma boboca. Eu poderia gaguejar.

Luca desce seus olhos lentamente do meu rosto vasculhando cada centímetro dele se demorando mais em meus lábios, principalmente no inferior que é mais cheio. Desce para meu pescoço, seios, onde volta a se demorar, estômago coberto pelo vestido e avental que uso, coxas e pernas, até meus pés descalços ele analisa. Então, corre seu polegar por seu lábio inferior, voltando ao meu rosto.

— Coma por mim — responde naquele tom mais baixo que gosto e deixa meu ventre agitado — E na próxima, deixe que uma das empregadas faça seu serviço. Fique limpa também, me casei com a garantia que você sabe como ser uma verdadeira dama e não é a imagem de uma que está a minha frente. Mais parece uma moleca serviçal — solta e me dá as costas, inflando uma raiva tão grande quanto meu desejo por ele, que nem sabia ser capaz de sentir.

Largo o prato com mais força do que pretendia sobre o balcão da cozinha, o que o faz olhar para trás e me olhar, sem me dar nada.

— Você nunca come não é, marido? — espero que minha intenção fique muito clara, mas tenho amor a vida mesmo que não esteja parecendo, pego a travessa com a lasanha e me apresso para fora da cozinha.

Ele ainda me observa e fico esperando que me puxe pelo braço e me faça engolir minhas palavras, mas, Luca só faz jogar sua cabeça para trás novamente e gargalhar, me olhando sair dali, após lhe devolver a falta de respeito na mesma moeda. Quem ele pensa que é para me dizer que não sou uma dama? Moleca? Argh! Que grande babacão!



(...)

A mulher morena e baixinha que é Gisele, fecha sua boca e muda toda sua postura para uma tensa, quando olha para além de mim, na mesa que a cozinha acomoda deixo de brincar com a torrada e sigo em sua direção. É Luca com mais dois homens, Juliano e um careca muito parecido com ele, se não fossem irmãos, no mínimo deveriam ser primos. Ambos possuem a pele bronzeada, alto e musculosos, igualmente a Luca, mas a questão é como suas feições se assemelham junto aos mesmos olhos verdes.

— Vão — Luca os libera, que nem hesitam.

Meus olhos vão deles para Luca que caminha até minha direção e se senta na cabeceira da mesa, como o líder que é. Um rei em seu mundo, criminoso e assustador, mas um rei.

— Na próxima, foque seus lindos olhos azuis em um único homem. Eu — diz abrindo o jornal. Engulo seco. Gisele se atrapalha com o bule e logo se recompõe — Não há ovos? — questiona a mulher sem olhar para ela.

— Irei providenciar, senhor! Pensei que não ficaria para o café. Sinto muito!

Me levanto, a ficha caindo.

— Eu nunca ousaria traí-lo, então, peço que nunca mais faça esse tipo de insinuação.

Luca passa para a próxima página.

— Gisele, me responda: fui claro? — a mulher entende muito mais rápido que eu.

— Sim, senhor!

— Bom, então, querida esposa, acredito que eu não tenha insinuado, fui muito certeiro. Então, mantenha seus olhos no lugar certo, principalmente se tem apego a eles.

Respiro fundo.

Busco por calma, o que não deveria ser difícil, eu sou sempre na minha, mas esse homem está testando a minha paciência de um jeito que nunca imaginei ser testada e só estamos há dois dias casados e sequer é um casamento de verdade.

— Não houve nenhuma má intenção no que fiz, Luca, me desculpa! — digo por fim, não compraria uma briga, muito menos por uma já perdida — Com licença.

Paro de andar quando sua voz retorna outra vez.

— Vamos ver se cozinha realmente bem. Gisele, deixe que minha esposa prepare meu café — a ironia junto há um grande descaso está lá, quando se refere a mim como sua esposa.

Quando vou para o fogão, dou o melhor de mim, mesmo que seja para preparar ovos mexidos. Será o melhor que ele já comeu em toda sua vida. Uma vez pronto, o sirvo. Gisele e eu esperamos ansiosas por alguma reação sua, enquanto Luca observa a comida como se fosse um crítico de renome e conhecido por sua antipatia, meio que não deixa de ser.

— Coma, por favor! — digo quando não me aguento mais.

Luca que até então ainda segurava o jornal, o deixa de lado e puxa algo do seu bolso, seu celular, que logo vai para seu ouvido.

— Apenas diga — diz para a pessoa na linha, me ignorando e dando as costas.

Minha irritação é tamanha que tenho vontade de chorar.






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Nas Mãos Do Don - 2ª livro da série Nas Mãos Do Amor Where stories live. Discover now