Capítulo 4

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Sarah desesperadamente queria sair do acordo.

Na verdade, ela pensou que Gil nunca seria capaz de encontrar alguém com as qualidades necessárias. Conhecida, mas não famosa, precisando de um trabalho, mas não desesperada, sem amarras, lésbica ou bi e bonita. Por que Gil tinha que ser tão bom em seu trabalho? Como se tudo isso fizesse parte de seu trabalho.

Sarah sabia que precisava de alguém que não beijasse o chão em que ela andava. Até algumas outras celebridades podem agir com a mesma imprudência que os fãs, e isso a cansaria mais rápido que o cinismo de Juliette. O que a incomodava era a maneira como essa mulher a observava, como seus olhos pareciam ver dentro de sua alma, todo segredo e toda vulnerabilidade que ela tinha. Para depois rir dela. Com aqueles olhos zombeteiros e uma careta na boca, a irritava. E também, não era verdade. Olhos que olhavam dentro de sua alma?

Sarah se deu conta que estava sendo ridícula. Embora pensando bem, talvez um fã fosse exatamente o que ela precisava. Alguém jovem no ramo que aceitasse tudo que ela dissesse. Alguém que a ouvisse e seguisse suas instruções sem dúvidas porque elas vieram da boca de alguém muito bem-sucedida, muito famosa, como Sarah Andrade.

Juliette Freire era exatamente o oposto disso. Deus. Será que ela e Gil haviam tomado a decisão errada?

Sarah congelou, querendo saber como terminar o acordo aqui e agora. Observou Juliette andando em direção à porta de vidro. Um fã não andaria. Esperaria suas instruções com os olhos tão grandes quanto os de um filhote de cachorro faminto.

Mas Juliette não. Ela abriu a porta e deixou a luz do sol quente tocar seu rosto. "Mal posso esperar para sair daquele hotel em que estou hospedada," ela disse encostada na moldura da porta.

Sarah caminhou até lá e parou ao seu lado, com os braços cruzados na defensiva, como haviam passado a maior parte da manhã. "Não tem amigos aqui?"

"Eu tenho, mas como você pode ver, sou uma vadia agora e não queria fingir que sou uma boa hóspede. Você não pode simplesmente ficar na sala, você tem que brincar com seus filhos para compartilhar no jantar e sorrir. Um hotel era muito mais fácil."

"Você precisa se curar" disse Sarah. Juliette olhou para ela com aqueles grandes olhos castanhos e Sarah desviou o olhar rapidamente.

Juliette Freire era a pessoa certa para o trabalho, ela gostasse ou não. Embora isso irritasse Sarah, Juliette parecia ser honesta e direta, sem mencionar forte. Sim, Juliette passou por muita coisa no ano passado, mas Sarah pôde ver toda a força por trás dela. Na verdade, ela a achava mais atraente do que podia admitir. Mas isso nunca iria acontecer, as coisas não eram assim. Isso era um acordo de negócios. Ponto.

Sarah saiu "apenas relaxe um pouco. Acomode seus pensamentos e em alguns meses, você pode retomar o controle do seu mundo."

Juliette tirou suas sandálias, mergulhou um dos dedos na piscina e virou a cabeça. "Sendo sincera?" Sarah assentiu. Juliette hesitou por alguns segundos e depois disse "Eu realmente precisava disso."

Sarah viu que era difícil para Juliette admitir. Estava tentando esconder bem, mas a dor pela qual ela passara era evidente. Tomando Juliette pelo cotovelo, ela disse "Tudo bem, vem comigo. Eu acho que você vai gostar do seu novo alojamento."

Sarah a guiou depois da piscina e em direção a uma pequena casa de hóspedes. "Você terá total privacidade aqui, tudo é novo. Você será a primeira a ficar aqui desde que eu o renovei há algum tempo."

Juliette entrou, seus olhos se arregalaram em choque. "Isso é maior que meu apartamento em Nova York. Tem uma cozinha completa também? Eu amo cozinhar."

O RoteiroWhere stories live. Discover now