Prólogo

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Eadan

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Eadan.

Por longas horas naquela tarde, um calor feroz engoliu o navio e o céu estava tão azul e limpo que faria o mais experiente dos marujos ficar de pernas trêmulas. A costa de Wulftarg é sempre complicada, se não pelas pedras afiadas, por conta da marinha desgraçada que nos persegue para todo lado, todavia, não acho que tenha visto um clima tão surreal quanto aquele em toda minha vida. Num instante era calor, céu aberto, quase sem vento, foi preciso usar os remos para sairmos do lugar. E então, quando finalmente avistamos a porcaria do porto, uma chuva grossa, pesada e voraz nos engoliu como uma maldita tromba d'água. 

A costa, antes clara como o dia, sumiu na cortina cinzenta de água, trovões surgiram do nada e raios caíam aos montes de uma forma que só poderia descrever como Ira divina, por certo a Raposa estava descontente conosco.

— Eadan, as cordas! — berrou meu pai e capitão, forçando todo seu peso contra o timão. — A Raposa há de nos guiar para fora da tormenta, senhores, mas segurem bem porque ela não vai tirar ninguém do mar hoje, muito menos eu!

E gargalhou como o velho maluco que é, mas mal era possível ouvir a risada característica de nosso capitão ensandecido. Fiquei frustrado com a tarefa, afinal, não era um moleque qualquer como os aprendizes dele, havia coisas melhores para o futuro capitão fazer durante uma tempestade épica daquelas.

— Capitão, precisamos sair daqui! — gritou o navegador da proa, como se não fosse óbvio.

— Me conte algo que não sei, Amon! — respondeu Thierry na lata quase rosnando de ódio, o timão querendo escapar de suas mãos.

Segui minhas ordens e desci para o deque inferior, pertences pequenos eram sacudidos para lá e para cá, batendo em mim e quicando soltos pelo navio. Jurei pela Raposa que estrangularia o infeliz que largou um tamborete de madeira solto, pois vi estrelas quando aquela porra acertou minha canela, desci outro nível de escadas e tive que conferir barril por barril, caixa por caixa, se a carga estava bem amarrada. E não estava, quase fui esmagado por três barris de água, mas quando o navio guinou para o sentido oposto os segurei no lugar com meu próprio peso e dei o nó mais rápido da minha vida. Retornei para o nível intermediário e conferi os canhões, todos muito bem presos, restavam as munições, mas era preciso contornar pelo convés para chegar até o compartimento.

Ao sair no convés, temi por minha vida. Um estrondo ecoou tão alto nos céus que o navio estremeceu sob meus pés, senti que o mundo estava se rachando ao meio e seriamos engolidos por algum buraco sem fundo. Depois disso houve um clarão, e um zumbido alto que enlouqueceu minha cabeça, estava caído no convés, assistindo o mastro principal em chamas. Fizemos algo para enfurecer a Raposa? Não é possível que simples homens sejam assim tão azarados.

— Eadan! — chamavam vozes ao meu redor.

O raio não me atingiu, então por que cai? Por que estava paralisado? Por que não conseguia formular uma mísera palavra? Que merda estava acontecendo? E então, lá estava ela, majestosa e inconfundível, bailando entre as nuvens furiosas como se estivesse em casa. A silhueta vulpina alaranjada serpenteou pelos céus, seguindo para estibordo, seus olhos vermelhos como os meus se focaram no mar, e então em mim como duas lanças, mas se voltaram para o mar outra vez e como dois faróis iluminaram a superfície da água.

Ruby da Fortuna: Raposas do MarWhere stories live. Discover now