24 - Descansando nas Profundezas do Abismo

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Daryn

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Daryn

Eadan se partiu entre meus braços de maneiras que eu jamais seria capaz de remendar. Nosso pai estava morto, não o cobraria por sobriedade, postura, nem nada do tipo. Eu também estaria chorando no chão agarrado no pescoço de alguém se pudesse. A questão sempre foi justamente essa, Daryn Zaki Foxarlett não podia ser visto fraquejando. Como Primeira Cauda, Imperador, irmão, pai e marido de dois nobres mais frágeis do que deixavam transparecer, eu não estava em posição de me sentar e chorar.

O consolei tanto quanto seria possível, chamei Maksim para que houvesse alguém responsável por receber as outras Caudas. Não demoraria para os líderes da Corte Vermelha se apresentarem se Yuriko os tinha convocado. Bill se comprometeu com o preparo do cadáver para um funeral, o que me deu certo alívio. Eadan não estava em condições de me ajudar, me atrapalharia com toda certeza, então o acompanhei até o quarto e Mikhail que desse cabo do resto.

Dois adultos, eram dois adultos. Precisei ficar me dizendo para conseguir me afastar com o peito dolorido. Meu irmão, meu caçula, que já perdeu a mãe e Killian; e agora o pai. Compartilhava de suas perdas, mas eu ainda era o mais velho ali.

Meu estômago embrulhou foda, não quis tomar café e gastei toda a manhã com um maldito agente funerário discutindo detalhes da pior festa que eu poderia dar na vida. Meu próprio funeral eu receberia de bom grado, mas do meu pai era pedir demais de mim. Funerais em barcos no Ksaarto não são tão incomuns, então havia opções de botes, tipo de madeira e tudo mais.

Quem raio se preocupava com o cheiro da lenha? Federia a gente queimando, era óbvio. Eu conhecia o futum da morte e não queria estar perto da fumaça independente dos "toques de ervas" que ele poderia dar com sei lá que pau.

— Alguma preferência de flores, majestade?

— Você tem alguma flor feita de absinto?

O sujeito riu de nervoso, parecendo cogitar se eu estava falando sério. Como toda desgraça pra monarca é pouca, Aryl me fez o favor de entrar correndo na sala. O abutre ousou sorrir para minha filha até notar que aquilo não me agradou nem um pouco. A última coisa que eu precisava na vida era de um agente funerário tendo acesso as medidas das minhas filhas. Perturbador, pra dizer o mínimo.

— Aryl, estou trabalhando.

— Você não trabalha na sala de jantar — Cruzou os braços, me olhando de cima a baixo, como se ela mandasse em mim e não o contrário.

— Querida, agora não. Vá brincar em outro lugar.

— Quero brincar com você — Fez bico.

Ótimo, o agente funerário também precisaria de um agente funerário se ela não parasse de me desaforar na frente dele.

— E eu quero não ter que lidar com você hoje, mas não se pode ter tudo. Agora passa fora ou vou chamar tua mãe.

O bico se tornou cara de choro, mas daquela vez não funcionaria comigo. Ela saiu berrando no corredor, o que me fez sentir culpa, mas não remorso. Se é que não são sinônimos.

Ruby da Fortuna: Raposas do MarWhere stories live. Discover now