07 - Os Golfinhos de Wulftarg

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Mikhail

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Mikhail.

Quis implorar por perdão assim que Eadan acatou meu pedido claramente frustrado, mas não consegui verbalizar uma mísera palavra. Me encolhi onde estava tentando esconder minhas lágrimas, meu corpo tremia irracionalmente mesmo que eu não estivesse com frio.

— Está tudo bem?

Eadan me chamava de uma distância segura, provavelmente receoso que seu toque fosse piorar meu estado. A pior parte é que aquela cautela toda era muito bem-vinda, eu poderia me partir ao meio se ele encostasse em mim, estava apavorado por tudo que o calor das mãos dele me trazia. Era patético para dizer o mínimo.

— Você é louco?! — acusei me desmanchando em choro.

— Não venha me dizer que não quer, Mikhail, puta merda. Se acalme — reclamou em resposta.

— Pro inferno o que eu quero, Eadan — ralhei furioso. — O que faria se Thierry...

— O que tem meu pai?

Não consegui responder, a vergonha e o pânico me consumiam. Ouvi-o bufar alto e então senti o calor de sua mão em meu ombro, eram os músculos de um homem tenso e irritado, mas acima de tudo, preocupado. Quis me debater para afastá-lo, cogitei dar um murro naquela cara cínica pelo menos uma vez na vida, mas como faria qualquer dessas coisas com alguém legitimamente preocupado comigo?

— Ei, Misha, me desculpe. Está bem? Eu sabia que ia dar nisso e fiz mesmo assim, está tudo bem — assegurou usando aquele tom aveludado tão raro para meus ouvidos.

— O que vou fazer se os outros souberem, eu não aguento mais isso, não outra vez — choraminguei como o menino assustado que ainda era.

O moleque de quinze aos que fugiu de casa para não morrer, o mesmo menino imbecil que se apaixonou por um homem que o trocou pela Legião. Pyotr não estava errado, todos nós fomos treinados para colocar o bem da legião acima de nossas prioridades, mas eu havia escolhido ele. Eu o protegi de Jurg, mantive seguro mesmo quando praticamente me torturavam atrás do nome do "culpado por desvirtuar meu filho" nas palavras de meu pai, fiz tudo que consegui. Então, por que não havia sido o suficiente?

Por que nada nunca era suficiente? Meus esforços com a esgrima jamais me tornariam tão bom quanto Maksim, ou sequer Alana, claro, eu tinha que ser o infeliz a apanhar de uma mulher para desgraça de minha Casa. Alana pode ser a melhor lança de Wulftarg, uma legionária temida por qualquer pessoa sã, mas toda vez que me destruía num duelo justo me transformava na piada do mês entre colegas e familiares. "Mikhail bate que nem mulher", "Mikhail não sabe segurar uma espada", "Mikhail é um fraco". Meus esforços políticos eram inúteis uma vez que me atrapalhava com textos simples em velocidade recorde, mesmo sendo alfabetizado e capaz de entender as palavras. Não fazia sentido. Por que justo eu?

Puxei o ar com força. Se voltasse a pensar nessas coisas, se deixasse esses demônios me alcançarem outra vez... voltaria para o topo daquele penhasco e faria a mesma coisa. Não pensaria, até porque era doloroso demais pensar.

Ruby da Fortuna: Raposas do MarWhere stories live. Discover now