20 - Os Deuses do Sul

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Mikhail

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Mikhail

A caravana partiu antes que o sol se erguesse, estava enjoado e com dor de cabeça graças a Izsla, mas acompanhei todos em silêncio. Além da tripulação, uma escolta armada de cinco guardas imperiais foi conosco. A carga se distribuía nas costas de camelos, homens e mulas, mas o recurso mais valioso era a água com toda certeza. Inicialmente, seguimos pelos prados longos de mata irregular e não vi muitos animais pela estrada. Mas, quando a primeira luz do dia tocou a terra, o Dar'Sasary se ergueu com ela.

Uma imensidão de coisa nenhuma pode parecer um cenário incompreensível, mas lá estava ela. Dunas e mais dunas de areia até onde o horizonte se dobrava, a areia estava fria e fui aconselhado por Eadan a tomar cuidado com serpentes, "elas saem com o sol de manhã". Fizemos uma pausa no limiar do prado, a carga foi inteira revisada para garantir que nada cairia sob circunstância alguma e as provisões recontadas.

Três dos guardas estavam montados em mulas seladas, os animais eram magros e altos demais. Eu era acostumado com cavalos, mas elas eram muito maiores e mais esguias do que qualquer espécie que eu já tinha visto em Wulftarg. A caravana levava também oito camelos, seis deles destinados unicamente a carregar peso, e dois serviam de locomotiva para Thierry e Bill.

— O que eles estão fazendo? — Eadan e eu ficamos na retaguarda da fila, e todos paravam antes de entrar no deserto, pegavam um punhado de terra do chão e soltavam falando alguma coisa que eu não era capaz de ouvir.

— Pedindo permissão ao Dar'Sasary — Ajeitou a alça da mochila em suas costas. — Antes de entrar, nos ajoelhamos em respeito aos Deuses e fazemos uma prece ao Deserto pedindo uma viagem segura.

— Achei que só cultuassem a raposa.

— Minha família tem ela como principal, as religiões locais não são afetadas por isso.

Um por um, todos os homens faziam a mesma coisa antes de pôr o pé no primeiro punhado de areia. Eu podia não acreditar em um deserto consciente capaz de me garantir viagens seguras, assim como não via Yuriko como uma Deusa, mas senti que aquilo era inofensivo demais para importar. Me ajoelhei e repeti as palavras de Eadan como todos os outros, era hipocrisia por um lado, mas era o melhor que eu poderia ter feito.

Todos usavam roupas grossas e pesadas, alguns cobriam o rosto e a cabeça com partes extras de pano. Eu mesmo não tinha mais que o nariz de fora no corpo, enfiado nas roupas que Eadan disse serem melhores para o clima. Não levou mais de meia hora para o sol estar nos escaldando, refletido pela areia por vezes me cegava. O ar sufocava, quente e seco demais para ser respirado. Não estávamos nem perto do sol a pino e eu já teria me socado em qualquer sombra se tivéssemos achado uma. Aquilo era tortuoso o suficiente para ser divino, e pude entender os mitos locais. O Deserto era uma coisa assustadora demais para não ser ato divino ou demoníaco, eu já tinha atravessado nevascas menos agressivas do que simplesmente respirar naquele lugar.

Ruby da Fortuna: Raposas do MarWhere stories live. Discover now