17 - Novo Mundo

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Eadan

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Eadan

Travei quando ouvi aquelas três palavras. Nem em meu sonho mais esperançoso esperava que Mikhail fosse me dizer aquilo tão na lata. Susto se mesclou à satisfação em meu peito, e o abracei pelas costas para impedir que notasse o sorriso bobo em meu rosto. Não podia estar mais feliz com aquilo, mas como alegria de pobre dura pouco, Mika começou a tremer e chorar em desespero.

Eu sabia de todos os problemas dele, todos que ele se dispôs a me contar. Mensurava os que ele não falava sobre pelos gritos que ele dava durante a noite. O moleque assustado girou o corpo e afundou o rosto em meu peito, o envolvi e acariciei como podia, nenhuma palavra seria suficiente para curar aquela ferida. Eu sabia, e ele também. Mas sempre me pegava querendo fazer mais.

— Eu também te amo, Mikhail — sussurrei na esperança de que o afeto ajudasse em algo.

Mika apertou minha camisa com mais força, soluçou mais alto e balbuciou algo que não me pareceu nenhuma língua humana. Amar e ser amado podia ser uma dádiva, mas não uma tão grande a ponto de exorcizar demônios do passado. Eu sabia disso melhor do que ninguém. Então, por que me doía tanto ver ele sofrer?

Ficamos em pé no convés até ele se acalmar. O sol que ainda se punha quando chegamos, dera espaço à lua e a escuridão da noite tornou impossível que ele enxergasse mais que um palmo na frente do próprio nariz. Às vezes, era difícil lembrar que o resto das pessoas não pode enxergar com pouca luz ambiente, mas tentava me manter atento a Mikhail e tudo que ele pudesse precisar.

— Me desculpe.

— Você não fez nada errado, Misha. — Beijei-lhe a testa. — Já está tarde, que tal passear na cidade? Se achar os ingredientes certos faço um jantar de gente fresca pra você.

— Gente fresca? — Riu.

— Sim, os primos dos caras de nobre passa-fome.

O fiz gargalhar com a idiotice, o que me bastava. Acendi uma lamparina para que ele pudesse enxergar o caminho para fora do galpão comigo, apesar dos olhos inchados, Mikhail parecia um pouco feliz de estar comigo. Seus olhos se acenderam junto as luzes da cidade, todas as cidades do Império brilhavam à noite. A maioria dos postes de luz pública estavam acesos, dando um brilho alaranjado para as construções cobertas pela argamassa de calcário de cor branco-amarelada.

As ruas de Pyllu eram estreitas o suficiente para encherem de gente fácil nos dias de comércio mais avivado, mas não impediam que carroças transitassem entre os pedestres sem noção. As docas sempre estavam vazias nesse horário, um trecho escuro e tão próximo do mar não é chamativo à noite.

— Onde vamos? — perguntou o moleque quando chegamos mais perto da rua com movimento.

Uma porção de línguas se misturavam na boca do povo. Havia gente de todos os tipos, nacionalidades e jeitos de vestir. Um batedor de carteira mirim trombava com desavisados, sorrindo toda vez que contava as moedas de cobre antes de esconder na cueca; piratas vestidos em roupas leves se mesclavam aos moradores fixos em túnicas, togas, vestidos e calças largas de todas as cores; turbantes, lenços, chapéus e toucas protegendo cabeças. Senti muito falta disso tudo. Meu lar. Mas sentia ainda mais falta de Ísis e Daryn.

Ruby da Fortuna: Raposas do MarWhere stories live. Discover now