19 - O Calor do Império

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Mikhail

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Mikhail

Pyllu era uma cidade linda, e quando o sol da manhã brilhou sobre nossas cabeças acabei descobrindo que nem tudo em Yerk era deserto. Pela varanda do quarto de Eadan vi uma paisagem de prados longos, com grama alta e árvores bem espalhadas, mais de um olho d'água para qualquer animal interessado. Além disso, no fim do meu campo de vista, quatro picos rochosos se erguiam com tanto verde em suas bases que não houve dúvida de que se tratava de uma floresta densa.

Eu também tinha uma vista de dar inveja dentro do quarto, mas essa estava começando a se tornar mais comum para mim, diferente da beleza exótica do continente sul.

— Volta pra cama, amor. Tá cedo — Eadan girou para esconder o rosto do sol, se enrolando num lençol fino como se a brisa morna da manhã o incomodasse.

Me sentia idiota por estranhar que ele me chamasse de "amor", o que tinha de tão errado com aquela palavra? Eu já tinha dito em voz alta, seria impossível negar. E não é que eu não gostasse de ouvir o sotaque marcado pelo valguir no jeito de Eadan falar "amor" em wulfgar, ou não me sentisse amado. Parte de mim só tinha medo demais de ser visto usando aquela palavra com um homem, mesmo naquele país que claramente não se importava com isso.

Estiquei a coluna e voltei para o quarto, após fechar a porta da varanda e garantir que ele não se encolheria ainda mais — se é que isso seria fisicamente possível. O abracei, fechei os olhos, e apreciei até o ronco baixinho do imbecil. Eu merecia um pouco de paz depois de tantos anos na merda.

Yuriko me apareceu em sonho, mas dessa vez não quis se comunicar por poesias comigo. Tinha a forma de uma raposa comum, um cachorro pequeno de pelo encantador, esfregou-se em minhas pernas como um gato e correu para dentro do deserto. A segui, mesmo que minha mente não quisesse, o corpo não estava sob minha posse no sonho. A areia pesou em cada passo meu, e as dunas pareciam infindáveis, sequer poderia ter certeza de não estar andando em círculos. E então, eu vi um rio tão largo quando a base de um castelo grande com uma cidade erguida ao seu redor.

O sol me cegava, reluzindo contra as pedras claras que erguiam as estruturas, e um milhão de pessoas falavam ao mesmo tempo em diferentes línguas por ruas, becos e vielas. A raposa continuou correndo cidade adentro e eu fui atrás dela. Cego, confuso e cansado. Oito pirâmides sem ponta cresciam no horizonte em diferentes cores, uma era verde, outra azul, havia também laranja, roxo, rosa, cinza, marrom e amarelo. Construções brutas e enormes, com tamanho suficiente para abrigar milhares de pessoas com toda certeza, eram majestosas, divinas até, mas nenhuma se comparou a última pirâmide. Toda erguida em arenito com detalhes vermelhos minúsculos, a nona pirâmide possuía a ponta triangular que cortava os céus e desafiava os homens a enfrentar sua pequeneza diante dela.

E, em pé, no topo da escadaria de acesso à construção, um Foxarlett de cabelos e olhos rubros olhava para mim. Vestia uma bermuda local na altura dos joelhos, o peito exposto exibia cicatrizes incomuns. Apesar de ser pequeno, ele não me pareceu pouca merda, o nariz empinado e os quilos de ouro adornando seu corpo não deixavam dúvida sobre ser alguém da nobreza. Ele sorriu, e a raposa saltou sobre seus ombros, brincando com ele.

Ruby da Fortuna: Raposas do MarWhere stories live. Discover now