15 - A Orca Caçadora

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Mikhail

O capitão não ficou muito feliz com minha rejeição, então fui gentilmente expulso da cabine e me ocupei em trabalhar pelo resto do dia.

Como Jean jogou os rejeitos dos peixes no mar enquanto ninguém estava olhando, levou alguns dias para que os golfinhos parassem de nos perseguir em busca de comida fácil. Mesmo assim, tínhamos muito peixe salgado para compor as sopas de horror do cozinheiro, e os suprimentos para viagem deveriam durar o suficiente. Tudo indicava que aquela seria uma viagem tranquila até o Império Kserato, e o meu medo de morrer lá foi engolido pelas águas tranquilas onde velejávamos.

Eadan não falou mais sobre as intenções da Raposa, nem as de seu pai, e eu não me vi em posição de julgar seu silêncio. Ainda conversávamos à toa, e as vezes ele dividia doces caros comigo, tudo estava bem entre nós. Palavras sobre os desejos de terceiros não importavam, eu queria saber dele, e ele de mim.

— Preste atenção nisso, moleque — bronqueou Bill pela décima vez.

Estava pilando as sementes exatamente como ele me mostrou, e não tinha culpa se atividades repetitivas me entediavam. Balancei a cabeça em concordância e voltei a me focar na pasta se formando dentro do pilão de madeira.

— Para quê isso serve mesmo?

— Pra calar a boca de curioso. Me deixe trabalhar!

Parte de mim desejou saltar de um penhasco mais alto com aquela resposta, mas ri de nervoso e voltei a trabalhar em silêncio. Contaria a Eadan a nova resposta atravessada que aprendi quando o encontrasse. Quando terminei, Bill me pediu para limpar a enfermaria já que vivia socado lá dentro mesmo — nas palavras dele. E eu preferia limpar ali na sombra do que ter que esfregar o convés debaixo do sol, portanto não iria reclamar.

O sino do navio ressoou pela primeira vez desde que havia embarcado nele, segurei a pistola no coldre por reflexo enquanto nós dois avançávamos para o convés, Gillie nos acompanhou com uma peixeira em mãos, uma vez que era preciso passar pela cozinha para sair. 

A primeira coisa que percebi no convés foi que não havia nenhum navio emparelhado conosco, e isso era muito bom. Mas ainda não era suficiente, já que a segunda coisa que percebi foi Thierry esbravejando em plenos pulmões que trucidaria alguém. Nós três olhamos em volta, confusos, até que bem ao longe na direção das três horas enxerguei um navio que jamais conseguiria esquecer nem mesmo a posição das tábuas. 

Pintada de preto e branco, a fragata de guerra não era muito maior que nossa caravela, um navio feito para poder interceptar embarcações piratas e ter a mesma velocidade delas. A Orca Caçadora, um navio que só meu pai tirava do porto. A Orca ostentava seus três mastros em meia vela, a madeira escura lustrando mesmo ao longe. A figura na Proa do Guerreiro de braços cruzados me causou arrepios, o deus me olhava com desaprovação mesmo que fosse um simples ponto no mar à distância. Pude jurar que Jurg estava em pé ali na proa, me olhando com raiva suficiente para me fazer cogitar pular na água na esperança de encontrar um tubarão mal-humorado.

Ruby da Fortuna: Raposas do MarWhere stories live. Discover now