13 - Raposas e Golfinhos

23 4 4
                                    

Mikhail

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Mikhail

Eadan, como grande idiota que era, me fez o favor de cair no sono dentro do posto de vigia depois daquela declaração estranha. Me daria trabalho demais tentar tirá-lo dali, e estava fora de cogitação pedir ajuda a outrem, continuei meu trabalho risonho como nunca garantindo que ele dormisse em paz. No fim da madrugada, o breu do crepúsculo era intenso demais para que eu pudesse enxergar qualquer coisa, ele acordou resmungando algo sobre estar com a boca seca e desceu sozinho pelas cordas sem me dar mais trabalho.

Pude ir para o convés inferior em busca do conforto de minha rede com isso, já que Zahra apareceu para ficar no posto pelas primeiras horas da manhã. Não fazia ideia dos problemas que aquilo me traria, ou das consequências que poderia encarar no futuro, fosse nas mãos de Thierry, Daryn ou de Jurg por ter dito aquilo a Eadan. Nada daquelas coisas importava, não naquele dia e hora, eu podia tirar uma folga das preocupações de vez em quando.

Dormi como um menino nos braços da mãe, só acordei no meio da tarde com alguém gritando algo sobre o almoço. Bocejei e girei na rede, não queria levantar nem que fosse para comer. Até que um cheiro estranho e caramelado chamou minha atenção, aquela bebida com gosto amargo que Eadan costumava tomar para ressaca. Olhei em volta, logo o encontrei na rede mais próxima, sentado em silêncio e me encarando com a caneca metálica nas mãos.

— Bom dia — murmurei me certificando que não havia mais ninguém por ali.

A sobrancelha erguida dele praticamente gritou "bom dia pra quem?" em resposta. Fui obrigado a rir, me perguntando o quanto aquele gambá ruivo precisou beber para ter coragem de falar comigo, era raro vê-lo sequer sentir efeitos de álcool.

— O que fizemos ontem?

— Até onde se lembra?

— Que conversamos e depois nos beijamos, mais nada depois disso — admitiu encarando o líquido em sua caneca.

— Então não fizemos nada, você caiu no chão e dormiu a noite toda. Um pé no saco, por sinal — esclareci me sentando aos poucos. — Sério que precisou beber para me cobrir de xingamentos dos pés à cabeça?

— Cala boca, Carveryon.

— Estava todo envergonhado, tão bonitinho — Me levantei, me livraria daquela distância o mais rápido possível.

— Você que é insu-

Tomar a caneca de suas mãos e me encaixar no colo dele foi suficiente para fazê-lo se calar, ri disso. Talvez ele ficasse quietinho se o beijasse, era uma estratégia funcional e divertida que eu pretendia executar mais cedo ou mais tarde.

— Sou o quê? — O envolvi com meu braço livre, aproximando nossos rostos o suficiente para enxergar bem a expressão dele com a pouca luz disponível.

A barba rala roçava em minha pele, e aquelas íris que semanas atrás me despertavam medo estavam dilatadas e rendidas por um simples gesto meu. Aquilo devia ser o sabor da vitória, aproveitei para bebericar daquele chá estranho, o gosto era péssimo, mas estranhamente enérgico. Com o choque passado, Eadan envolveu minha cintura com seus braços e afundou o rosto em meu pescoço. Tive a impressão de ouvi-lo sussurrar que queria fazer aquilo há muito tempo.

Ruby da Fortuna: Raposas do MarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora