12 - Cicatrizes de Guerra

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Mikhail

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Mikhail

Donkor era realmente um escravo, ele não me disse com essas palavras nem se deu ao trabalho de facilitar minha vida. O garoto estava desconfiado comigo como se fosse eu o homem que apontou uma arma para ele, e não Eadan. Mas além das feridas de grilhões nos pulsos e tornozelos, ele tinha uma porção de comportamentos que eu só poderia ligar a um homem sem liberdade.

— O senhor é mesmo um Carveryon? — Encolheu-se encostado no mastro.

Estava cogitando se minhas roupas serviriam nele, porque o rapaz precisava de um banho e algum cuidado.

— Costumava ser.

Puxei seu braço para examinar aquelas marcas mais de perto, e ele já havia ignorado três vezes quando o pedi para ver. Uma porção de feridas cicatrizadas se uniam a feridas recentes num mosaico macabro. Precisávamos lavar aquilo e enfaixar seus pulsos com toda certeza, suspirei, porque não era o meu trabalho.

— Como assim?

— O que sabe sobre os Carveryon? — Soltei seu braço tentando me manter calmo.

— Que Pyotr tem a proteção deles.

Ouvir aquele nome foi um soco no estômago, quando somado ao colar era impossível supor que fosse outro homem. Mas treinado entre aristocratas como era, eu não deixaria emoções indesejadas desfilando por aí.

— E quem é esse?

— O tenente do navio — disse seco. — Se você é Lorde Mikhail, sabe muito bem quem ele é.

Alguns homens deram risada com a menção àquele título, e eu me juntei a eles. Jamais recebi essa alcunha, e só deveria receber um título formal além do de cavaleiro quando tivesse dezesseis anos, mas enfiei os pés pelas mãos antes disso. Ou melhor, enfiei coisas que não devia em Pyotr. O que desagradou muito meu pai e todos os outros homens da Casa.

— Olhe, eu não sei o que ouviu sobre mim. Mas não sou um Lorde, e há muitos Pyotr em Wulftarg para me lembrar de todos eles. Agora, se não vai me dar informação útil, você precisa ver o médico.

O garoto falou algo que muito soou como um xingo para mim, mas sequer fui capaz de reconhecer a língua em questão. Korn, que acendia os lampiões do convés parou um instante, deu risada e respondeu naquele mesmo dialeto estranho. Logo ele e Donkor conversavam em alto e bom tom, e não acho que qualquer outro marinheiro a bordo tinha mais noção do que estava sendo dito do que eu mesmo.

Korn sorriu pela primeira vez desde que eu tinha chegado ali, afinal seu escárnio não contava. O homem marrom de cabelos negros veio até o mastro, ignorando seu trabalho, e saiu levando o garoto consigo até a enfermaria. Me sentiria muito mais estúpido se os outros não parecessem tão surpresos quanto eu, mas acabei dando de ombros, não queria brincar de babá por aí. Fui acender o resto dos lampiões para aguardar que Eadan saísse da cabine.

Ruby da Fortuna: Raposas do MarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora