A casa dos meus pais é situada bem em frente à Avenida Vilarinho, o portão automático se abre para deixar o carro entrar e avistamos a casa de dois andares. Por fora a pintura mudou, antigamente era laranja, hoje é vermelho, provavelmente por conta da minha avó. Tem dias em que ela se levanta com a pá virada e se deixar destrói e constrói a casa toda de novo.
Noto que a pequena horta de minha avó cresceu, antes era uma pequena parte protegida por tijolos no canto inferior da casa, hoje compõe uma grande parte do terreiro.
Sina e eu retiramos nossas malas do carro e seguimos juntas para a porta, conseguimos ouvir os gritos de minha avó antes mesmo de entrar.
- Eu já disse que não quero comer, inferno!
- Chegamos!
Sungyoon passa por nós duas e segue para a cozinha. A maior parte do dia minha família sempre está na cozinha, quando não, está no terreiro tomando um litrão e dançando. Nunca pensei que poderia sentir tanta falta de casa, mas ao adentrar a cozinha e ver meus pais meus olhos lacrimejam e um aperto dentro de mim se instala.
- Ah querida - Mamãe se aproxima e me abraça. - Não precisa chorar.
- Oi, mãe.
- Vejam só, está magrinha - Diz apertando minhas bochechas - Em Los Angeles eles não tem comida não?
- Uai, querida, pensei que estava morando em Nova Iork - Diz papai sorrindo - Ou era São Francisco?
- Já te falei um milhão de vezes que é Los Angeles, Jaewon. - Diz mamãe me soltando e segurando a mão de Sina. - Fiquei feliz em saber que a minha filhinha está com alguém, faz tanto tempo que Heyoon não namora.
- Não tem tanto tempo assim, mãe - Cruzo os braços - Faz parecer que tem anos.
- Uai, e não tem? Já deve ter teias de aranha por aí.
- MÃE.
- Ou não, por essa carinha - Mamãe segura nossas mãos e nos puxa para nos sentarmos. - A comida acabou de ficar pronta, como temos uma convidada de fora, decidi fazer meu famoso Frango com Quiabo e Angu.
- Quem é essa aí? - Pergunta minha avó analisando Sina - Você mudou a cor do cabelo, Heyoon?
- Estou aqui, vovó.
Seus olhos passam para mim e um sorriso enorme e carinhoso se forma em seus lábios. Vovó pode ser esquecida as vezes, mas sempre se lembra dos netos... isso é o que minha mãe diz. Particularmente penso que ela escolhe a quem dar atenção.
- Veja só como está linda - Diz ajeitando os óculos e franzindo a testa - Quem é essa do seu lado, então?
- Minha namorada. Sina.
- Namorada? - Vovó se aproxima tanto que seu rosto fica a poucos centímetros ao de Sina - Como é linda. Sabe... - Vovó volta a se sentar na cadeira - Eu já dei uma ou duas bitoquinhas em algumas garotas na minha época.
- E lá vamos nós. ‐ Diz Sungyoon revirando os olhos e se sentando.
- Era verão de 1964, estava ainda com meus 24 anos. Como a juventude era rica. Tinha que ir a pé para casa de um senhorio ajudar nas tarefas domésticas, naquela época eu e minha mãe tínhamos que dar um jeito de ajudar em casa, João Goulart tinha acabado de ser...(uma parte da família da Heyoon vai ser brasileira)
-Vovó - papai coloca a mão gentilmente em seu ombro - Tenho certeza que as meninas irão escutar essa história, mas acabaram de chegar de viagem, com certeza estão com fome. E a senhora precisa comer.
- Já disse que não quero comer!
- Se a senhora comer - Diz Sina - Fico mais que feliz em te ajudar com a horta.
- Trás pra cá esse prato, Haeun.
Papai suspira aliviado e sorri em forma de agradecimento, foi uma jogada de sorte ter comentado casualmente sobre a horta da minha avó com minha acompanhante. Mamãe e papai deixam que nos sirvamos à vontade e todos esperam Sina dar sua primeira garfada, até mesmo vovó parou de brigar com o Angu no prato e observou.
Quando os olhos da minha acompanhante brilharam em puro deleite, mamãe sorri e bate palmas.
Agora sim podemos comer.★★★
beijinhos amores
YOU ARE READING
A Acompanhante - Siyoon
Fanfiction{CONCLUÍDA} Após mudar-se para Los Angeles em busca de um recomeço, Heyoon consegue toda a estabilidade financeira que sempre sonhou. Três anos se passaram e, apesar de tentar seguir em frente, ela se vê em uma encruzilhada quando tem que voltar a s...