Capítulo 6

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A casa dos meus pais é situada bem em frente à Avenida Vilarinho, o portão automático se abre para deixar o carro entrar e avistamos a casa de dois andares. Por fora a pintura mudou, antigamente era laranja, hoje é vermelho, provavelmente por conta da minha avó. Tem dias em que ela se levanta com a pá virada e se deixar destrói e constrói a casa toda de novo.

Noto que a pequena horta de minha avó cresceu, antes era uma pequena parte protegida por tijolos no canto inferior da casa, hoje compõe uma grande parte do terreiro.

Sina e eu retiramos nossas malas do carro e seguimos juntas para a porta, conseguimos ouvir os gritos de minha avó antes mesmo de entrar.

- Eu já disse que não quero comer, inferno!

- Chegamos!

Sungyoon passa por nós duas e segue para a cozinha. A maior parte do dia minha família sempre está na cozinha, quando não, está no terreiro tomando um litrão e dançando. Nunca pensei que poderia sentir tanta falta de casa, mas ao adentrar a cozinha e ver meus pais meus olhos lacrimejam e um aperto dentro de mim se instala.

- Ah querida - Mamãe se aproxima e me abraça. - Não precisa chorar.

- Oi, mãe.

- Vejam só, está magrinha - Diz apertando minhas bochechas - Em Los Angeles eles não tem comida não?

- Uai, querida, pensei que estava morando em Nova Iork - Diz papai sorrindo - Ou era São Francisco?

- Já te falei um milhão de vezes que é Los Angeles, Jaewon. - Diz mamãe me soltando e segurando a mão de Sina. - Fiquei feliz em saber que a minha filhinha está com alguém, faz tanto tempo que Heyoon não namora.

- Não tem tanto tempo assim, mãe - Cruzo os braços - Faz parecer que tem anos.

- Uai, e não tem? Já deve ter teias de aranha por aí.

- MÃE.

- Ou não, por essa carinha - Mamãe segura nossas mãos e nos puxa para nos sentarmos. - A comida acabou de ficar pronta, como temos uma convidada de fora, decidi fazer meu famoso Frango com Quiabo e Angu.

- Quem é essa aí? - Pergunta minha avó analisando Sina - Você mudou a cor do cabelo, Heyoon?

- Estou aqui, vovó.

Seus olhos passam para mim e um sorriso enorme e carinhoso se forma em seus lábios. Vovó pode ser esquecida as vezes, mas sempre se lembra dos netos... isso é o que minha mãe diz. Particularmente penso que ela escolhe a quem dar atenção.

- Veja só como está linda - Diz ajeitando os óculos e franzindo a testa - Quem é essa do seu lado, então?

- Minha namorada. Sina.

- Namorada? - Vovó se aproxima tanto que seu rosto fica a poucos centímetros ao de Sina - Como é linda. Sabe... - Vovó volta a se sentar na cadeira - Eu já dei uma ou duas bitoquinhas em algumas garotas na minha época.

- E lá vamos nós. ‐ Diz Sungyoon revirando os olhos e se sentando.

- Era verão de 1964, estava ainda com meus 24 anos. Como a juventude era rica. Tinha que ir a pé para casa de um senhorio ajudar nas tarefas domésticas, naquela época eu e minha mãe tínhamos que dar um jeito de ajudar em casa, João Goulart tinha acabado de ser...(uma parte da família da Heyoon vai ser brasileira)

-Vovó - papai coloca a mão gentilmente em seu ombro - Tenho certeza que as meninas irão escutar essa história, mas acabaram de chegar de viagem, com certeza estão com fome. E a senhora precisa comer.

- Já disse que não quero comer!

- Se a senhora comer - Diz Sina - Fico mais que feliz em te ajudar com a horta.

- Trás pra cá esse prato, Haeun.

Papai suspira aliviado e sorri em forma de agradecimento, foi uma jogada de sorte ter comentado casualmente sobre a horta da minha avó com minha acompanhante. Mamãe e papai deixam que nos sirvamos à vontade e todos esperam Sina dar sua primeira garfada, até mesmo vovó parou de brigar com o Angu no prato e observou.

Quando os olhos da minha acompanhante brilharam em puro deleite, mamãe sorri e bate palmas.
Agora sim podemos comer.

★★★
beijinhos amores

A Acompanhante - SiyoonWhere stories live. Discover now