Capítulo 35

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SINA

É a sexta vez que ligo para Heyoon só hoje, pensei que trocando de número haveria uma remota possibilidade de ela me atender, ainda mais estando fora do país. Queria mandar mensagens, mas não seria apropriado, eu preciso ouvir a sua voz.

Está cada vez mais difícil aguentar esperar, tive que me controlar para não pegar o primeiro voo até Portugal quando Alex me contou. Mas não posso deixar as minhas obrigações de lado, ainda mais quando sou a única nos plantões.

Estou conversando com a enfermeira Emma a respeito de um cardiograma quando uma ambulância para em frente a porta do hospital e entra com um homem na maca. Ando rapidamente até o paramédico e começo a checar os sinais vitais.

— Homem. - Diz o paramédico. — 35 anos, vítima de um atropelamento no centro da cidade. Ele estava caminhando quando um carro o atingiu. A pessoa que o atropelou disse que não o viu. Fratura exposta na região lateral direita do tórax, aparentemente duas costelas. Averiguar se houve perfuração no pulmão. A vítima também sofreu traumatismo cranioencefálico.

Olho todo aquele sangue fazendo trilha no chão do hospital.

— Ele precisa de um neurocirurgião. Emma, chame o Doutor Charlie.

A enfermeira Emma desaparece através das portas e volta minutos depois, após algumas averiguações, o paciente é encaminhado a sala de cirurgia.

A noite vai ser longa.

☆☆☆

Cinco horas depois, transfiro o paciente para um dos quartos da UTI. A cirurgia foi um sucesso.

Não demora muito para que entrem em contato com a esposa, caminho até a sala de espera do hospital para dar as boas notícias. O alívio em seu rosto faz com que eu ganhe o meu dia.

É por isso que amo o meu trabalho.

Ao final do meu plantão, atualizo o médico que ficará no meu lugar sobre o ocorrido e possíveis cuidados.

— Não deixe de me avisar caso o quadro dele mude. - Aviso.

Junto todas as minhas coisas e caminho em direção ao estacionamento, olho as horas em meu relógio e decido ir novamente até a antiga empresa de Heyoon, eu preciso tentar contatá-la por todos os meios possíveis, independentemente de qualquer coisa.

Os pais de Heyoon ligam semanalmente para saber como estou, a pedido dela, eles não dão muitas informações, vovó me ajudou muito quando me deu o endereço de seu trabalho.

Entro no elevador e quando chego ao quinto andar, caminho em direção ao escritório de Alex. Fiquei duas semanas sem vê-lo pois sua secretária informou que ele havia viajado para resolver umas pendências.

Bato na porta uma vez e aguardo.

— Entre.

Abro a porta.

Quem eu estava esperando diz sorrindo. Confesso que fico esperando sua companhia todos os dias, fiquei desacostumado quando estive fora.

— Alguma notícia? - Pergunto sorrindo.

— Nossa, não vai nem perguntar como eu estou?

— Como você está? - Reviro os meus olhos.

— Ótimo, obrigado por perguntar. Passei duas longas semanas em Lisboa com a minha esposa, foram maravilhosas. Inclusive, tive contato com uma certa coreana de olhos castanhos...

Aproximo-me de sua mesa e espalmo as duas mãos na fria madeira.

— Onde ela está?

— Ei, ei. - Levanta as mãos. - Calma. Primeiro vamos nos lembrar das ordens de etiqueta, sim?

Seus olhos passam de minhas mãos para meu rosto, respiro com dificuldade algumas vezes antes de me recompor e me sentar na cadeira.

Alex limpa a garganta.

— Pois bem. Como disse, a política da empresa não me permite vazar informações sobre meus funcionários. Mas, não fala nada sobre um certo alguém, acidentalmente, abrir a tela do meu computador e analisar algumas conversas. Isso, claro, comigo não estando presente.

Ele se levanta e caminha até a porta.

— Vou dar uma mijada e fumar um cigarro, isso dá até alguns minutos a mais para que essa pessoa tenha um pouco de tempo antes de eu voltar... faça minha amiga feliz, Sina, querida.

Fico perplexa por um momento antes de cair em mim e ir direto para sua cadeira, abro suas conversas do Skype e vejo o nome "Administrativo Portugal", clico na aba e rolo todas as mensagens.

Heyoon diz que está indo bem com o treinamento do novo funcionário, passo alguns detalhes técnicos sem importância. Vejo a foto de uma passagem de avião para daqui dois meses e meio.

Alex diz que a passagem já foi comprada e está sendo processada.

Heyoon vai voltar. Minha garota vai voltar e eu preciso fazer algo a respeito.

★★★

A Acompanhante - SiyoonWhere stories live. Discover now