Prólogo

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31 de Outubro de 2000

Algo pesava em meio aos seios de Hermione, comprimindo-a um pouco mais à cama e lhe incomodando o suficiente para fazer-la acordar. Ela abriu seus olhos ainda com as pálpebras pesadas pelo sono acumulado e se deparou com  Crookshanks a encarando com seus grandes olhos amarelos. 

— Bom dia — ela murmurou para ele, que miou  em resposta. 

Quando sentou-se na cama, o gato pulou para o lado, dando-lhe espaço para se espreguiçar. Em seguida ela se levantou e com o coração doendo deixou a sua cama para trás. Podia ouvir o barulho de chuva à medida em que caminhava rumo à cozinha e e se encolheu ainda mais em sua blusa de tricô marrom - era o seu uniforme de sábado. Hermione pegou a chaleira sobre o balcão e levou para a pia para enchê-la com água, quando um barulho horroroso a fez pular e derrubar a água pelo chão. Granger ia reclamar quando ouviu uma voz conhecida chiar da sala:

— Já disse que odeio aparatar na chuva? 

Ela saiu da cozinha para a sala e se deparou com Ginny Weasley levantando-se do chão, completamente encharcada. A cacheada tapou a boca com a mão para conter a risada escandalosa que ameaçava explodir por de seus lábios.

— Você precisa de tapetes decentes — Gin prosseguiu resmungando, arrancando a blusa molhada por sua cabeça. 

— Merlin! E você precisa aprender a usar um guarda-chuva, ou pelo menos o elevador — replicou Hermione. 

— Como se fosse mais prático — a ruiva desdenhou, em seguida abriu os braços para a castanha e sorriu de orelha a orelha — Surpresa! 

Era impossível zangar-se com ela. Hermione riu e deu um passo para abraçá-la. Não via sua melhor amiga há quase dois meses. Culpa da agenda extremamente cheia das Harpias de Holyhead. 

— Graças a Merlin que você pode limpar essa molhaceira em cinco segundos, não é mesmo, Ginevra Weasley?! — disse Hermione, se desvencilhando da ruiva.

Ginny fez um som de ânsia à menção de seu nome, arrancando um risinho da amiga.

— Se quiser um banho, ainda não fiz o chá. 

— Não, obrigada! Espero não estar interrompendo nada, aliás... — Gin ergueu a voz, provavelmente supondo que seu irmão dormira com Hermione. 

— Ron não está aqui, Gin — Hermione respondeu em meio a um suspiro, dando as costas à ela e regressando para a cozinha a fim de limpar sua própria bagunça - embora também tenha sido ocasionada pela ruiva. 

— Brigaram de novo?

Mesmo sem olhá-la, a castanha sabia que Gin revirou os olhos com a sua própria conclusão. 

— O que você acha? — perguntou enquanto vasculhava a dispensa, em meio aos vidros das mais variadas ervas e plantas para chá, à procura de seu preferido. 

— Eu acho que Ron é um babaca e que você precisa por ele em seu devido lugar — Ginny disse aproximando-se.

Então ela puxou uma cadeira da pequena, redonda e branca mesa de Granger, e se acomodou ali, olhando-a como uma mãe zangada. Com aceno rápido de sua varinha, secou o chão abaixo de Hermione, que esqueceu-se completamente do acidente com a menção de Rony.

— Isso não é uma relação séria, nós apenas… 

— Exatamente, Mione. — Gin suavizou a voz — Eu o amo, mas vamos ser sinceras? O Ronald não quer crescer. Não perca o seu tempo. 

Embora Ginny estivesse dizendo o óbvio, ela precisava ouvir aquilo. Gin sabia dos sonhos de sua amiga e sabia que Ronald não se encaixava em nenhum deles - por mais que ambas quisessem. Depois da guerra, do caos e dos pesadelos - com esse último ainda como um perseguidor cruel - Hermione ansiava por uma vida normal, sem dramas ou inseguranças. 

Doce Acaso - Dramione Onde histórias criam vida. Descubra agora