Conhecida como a patricinha revoltada que a mídia insiste em perseguir, Bella Lancaster não tem escolha a não ser comparecer em mais um aniversário de casamento dos pais.
Filha de uma socialite e de um dos magnatas mais prestigiados do Reino Unido...
Fiz todas as coisas que você disse que eu não faria
Eu te disse que eu nunca seria esquecida
E tudo, apesar de você
Eu ainda estou respirando. ❞
♫ Alive, Sia
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Marylebone, Londres [1997]
BELLA
“Na água limpa de um regato, matava a sede um Cordeiro, quando, saindo do mato, veio um Lobo carniceiro.
Tinha a barriga vazia, não comera o dia inteiro. – Como tu ousas sujar a água que estou bebendo? – rosnou o Lobo, a antegozar o almoço. – Fica sabendo que caro vais me pagar!
– Senhor – falou o Cordeiro – encareço à Vossa Alteza que me desculpeis, mas acho que vos enganais: bebendo, quase dez braças abaixo de vós, nesta correnteza, não posso sujar-vos a água.
– Não importa. Guardo mágoa de ti, que ano passado, me destrataste, fingindo! – Mas eu nem tinha nascido. – Pois então foi teu irmão. – Não tenho irmão, Excelência. – Chega de argumentação. Estou perdendo a paciência! – Não vos zangueis, desculpai! – Não foi teu irmão? Foi teu pai ou senão foi teu avô – disse o Lobo carniceiro. E ao Cordeiro devorou.
Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece.”
O livro de capa ilustrada foi fechado.
E nisso, meu mundo caiu.
— Eu não gostei dessa ‘frábula! — Bufei, torcendo a boca em seguida num bico imenso de revolta. — Não gostei, não gostei! Odiei!
— Se diz “fábula” — corrigiu ele, sentado na beira da minha cama. O fedor de charuto empesteando meu quarto.
Então é isso: os versos acabam na tragédia; não há sequência agradável, ou mesmo bonança após a tempestade. O autor, Jean de La Fontaine, teve a infelicidade de enfiar um ponto final onde claramente não deveria.