Conhecida como a patricinha revoltada que a mídia insiste em perseguir, Bella Lancaster não tem escolha a não ser comparecer em mais um aniversário de casamento dos pais.
Filha de uma socialite e de um dos magnatas mais prestigiados do Reino Unido...
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Covent Garden, Londres [14:49h]
BARONE
“O essencial é invisível aos olhos.”
A citação dançava em meus pensamentos, acompanhada do desenho aquarelado de uma raposa.
Sabe, Salazar revelou que costuma enxergar o rosto da filha após realizar uma execução; Nacho reza, em silêncio, para que a alma encontre seu caminho; Pancho disse que costuma cantarolar um bolero.
E eu, recordo a página de um livro específico.
Tia Sole me presenteou com “O Pequeno Príncipe” em meu 5° aniversário.
Não teve festa. Mas teve torta de maçã. E ganhei de presente a edição de bolso do clássico, repleta de figuras desenhadas pelo escritor.
Mesmo com a grafia adaptada para leitura infantil, o Salvatore de 5 anos não assimilou metade das reflexões contidas ali, claro. Porém, os desenhos sempre chamaram sua atenção.
Lendo as figuras, aprendi a ler palavras; e então, a ler pessoas. – Descobrindo, em seguida, que o último fator é curiosamente mais simples do que os anteriores.
Planando pelas ruas londrinas, o fim de tarde era um borrão alaranjado.
A moto voou comigo sobre o acostamento; os pneus cantando e seguindo feito mísseis pela rua deserta.
Cerrei os olhos através do visor do capacete.
Por ler as pessoas, não é sempre que me vejo carente de dialogar com elas. Creio que nunca conversei com outro na mesma medida que faço comigo mesmo. E isso partiu da infância.
Não foram poucas as vezes em que tentei conversar com minha mãe; contar a ela que coisas estranhas aconteciam em sua ausência.
Que a dor corporal que eu andava sentindo não era fase do crescimento, por exemplo, e que seu marido invadia meu espaço e vinha me tocando em lugares privados sem permissão.
Que vi num comercial da TV alertando sobre o pesadelo real que me ocorria em cada meia-noite. E que descobri através dele que isso ocorria com outras crianças também.
Ela nunca me ouviu. Até que perdi a vontade de insistir. Meus confidentes fiéis eram o pequeno príncipe, o walkman e Giulia, minha Zazu.
As circunstâncias fizeram de mim muitas coisas, e até aqui não parei para perceber que calado é uma delas. – Consequentemente, um observador e ouvinte para além do exército.