Capítulo Um.

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Maju narrando:

Três anos, três longos anos, três difíceis anos na qual passei longe do meu traficante.

O tempo passou, muita coisa mudou, mas os sentimentos nunca me deixaram e sabia que nunca me deixariam. Como falar desses três anos que passaram?!

Rocinha foi pacificada, mas a venda de drogas nunca parou, viver com o exército pra cima e pra baixo era algo realmente incomodante, principalmente quando eles queriam revistar os moradores, ficava puta da vida.

Gabriel entrou em depressão, muita gente ficou triste e abalada, realmente muita gente, inclusive eu que quase entrei em depressão mas me mantive firme pela Lua. Gabriel não para mais em casa, só vive na rua, quando tá em casa só vive no quarto, eu tentei ajudar mas ele rejeitou, até entendo ele, o mesmo só tinha Luan.

Não houve mais bailes nem festas, com a polícia aqui ficava meio difícil, e até porque não tínhamos mas ânimo de festas e comemorações, sem Luan nada tinha graça.

Só fui visitar Luan uma vez, e depois quando retornei descobri que Luan havia privado todas as visitas, ele não queria me ver, ele não me queria lá, mas ele não entendia o quanto era doloroso ficar longe dele, a dor não passava instantes nenhum, lembrava dele, lembrava de seu sorriso e me pegava chorando, tentava me manter forte pela Lua que não sabia nada do quê acontecia.

Lua é praticamente uma mini-Luan, havia herdado os cabelos loiros, os olhos esverdeados brilhantes, o formato da boca e do nariz e as sobrancelhas, ela não havia puxado nada para mim e isso me revoltava muito, ela era uma criança esperta e saudável, vivia correndo pra cima e pra baixo mas privava ela de ficar na rua por conta dos militares, ela era minha alegria, meu motivo de viver, mas ela me lembrava tanto Luan até mesmo no sorriso revelando as covinhas nas bochechas, e aquilo doía meu coração demais.

Todos da comunidade amam ela, toda vez que a viam corriam pra enche-la de beijos e mimos, ela amava, ficava tagarelando e sorrindo pra todos, exatamente igual o pai.

Priscila era louca por ela, e ela louca pela dinda, era muito engraçado ver essas duas conversando e ver principalmente Neguinho falando com ela. Em falar em Priscila, a mesma passou no vestibular e está correndo atrás da faculdade de medicina, RL saiu do tráfico e está terminando o ensino médio e trabalhando em uma loja no centro do Rio de Janeiro. Priscila está pensando em tentar a inseminação artificial já que ela não pode ter filhos naturalmente, mas RL quer adotar um menino.

Eu também voltei aos estudos e estou no terceiro ano fazendo supletivo, voltei ano passado e repeti o primeiro ano, estudo de noite em uma escola pública daqui mesmo, Lua fica com a Julieta enquanto corro atrás do meu futuro e do futuro da minha filha, não posso depender do dinheiro que recebo da penitenciária e da poupança pra sempre, eu tinha que trabalhar e ser honesta.

Lívia queria virar minha amiguinha, ela havia chorado quando soube que Luan havia sido preso, e Kayke também, finalmente conheci os filhos de Luan e todos eles amavam brincar com a Lua, eram todos carinhosos e puxavam algum traço do mesmo, mas não como Lua havia puxado, realmente em tudo.

Levo minha vida como posso, mesmo sabendo que demoraria até ver meu Luan de novo, mesmo chorando ao responder as perguntas da minha filha pelo pai, mesmo a saudade corroendo cada vez mais meu coração.

Sinto orgulho em dizer que mudei, que sou guerreira e batalhadora, que sou uma nova Maju, a Maju que é mãe. Em falar em mãe, meus pais nunca me procuraram e nem se quer ligavam, mas às vezes eu me esquecia que tinha pais, já era uma mulher, tinha meus dezoito anos e quando resolvi deixar todo o sofrimento para trás, meu passado estava incluído nele.

Apenas um Traficante IIWhere stories live. Discover now