Capítulo Doze.

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Maju narrando:

─ Não, não e não ─ cruzo meus braços e ando pela sala impaciente.

─ Maju, eu preciso fazer isso.

─ Você tá louco é? Nossa família tá em paz Luan, tudo tá em paz, aí você decide jogar toda a paz pelo ralo abaixo como se não fosse nada? Pensa na sua filha, pensa no seu irmão, pensa em mim! ─ eu grito com raiva e ele segura em meus braços olhando dentro dos meus olhos, meu rosto já ardia, eu já sabia que ia chorar.

─ Paz? Tu chama isso de paz? Eu tô foragido, o exército tá ocupando a Rocinha e tirando todo o sorriso da favela, o único jeito de desocupar os becos e vielas cheio de militares é tomando de volta o morro.

Me desvencilhei de suas mãos fortes e me afastei do mesmo. Fui até a janela e me apoiei no parapeito olhando através do vidro toda a favela, quase não se via ninguém nas ruas além dos militares e os tanques de guerra, claro que aquilo era horrível porque simplesmente a felicidade dos moradores se dissipou de seus semblantes.

─ Aí como vai ser? Você vai tomar o morro, assumir a boca de fumo, voltar de novo pras drogas e no final acabar sendo preso de novo? Vai perder a vida da sua filha mais do que já perdeu? Ela cresceu sem você Luan, ela não teve ninguém pra se sentir completa em família além de mim, você não faz noção de como dói ver sua filha de três anos perguntando pelo pai e todas as vezes eu mentir que você estava viajando em vez de falar que você estava atrás das grades, que estava preso! ─ gritei sentindo minha garganta doer, mas logo depois me arrependi quando Lua desceu as escadas segurando o ratinho de baixo dos braços e com um semblante de sono misturado com curiosidade.

─ Por que vocês tão brigando? ─ ela perguntou baixinho e meu coração amoleceu, sei que é ruim demais pra uma criança presenciar brigas e sei que isso afetaria o crescimento dela, mas como Luan quer que eu fique bem sabendo que ele entregaria a vida dele novamente pras drogas?!

─ Não estamos brigando, meu amor ─ Luan falou todo carinhoso indo até ela e a pegando no colo, Lua olhou pelo ombro de Luan as armas todos espalhadas pela mesa de jantar.

─ Essas coisas são dos policiais malvados? ─ ela apontou pras armas e Luan assentiu beijando a bochecha da nossa filha e subindo com a mesma.

Assim que eles desapareceram meu campo de visão eu suspirei pesado e passei minha mão por dentro dos meus cabelos, fui até a janela e fiquei olhando pra toda a favela com meu coração batendo forte.

Eu queria pode entender Luan, eu queria mesmo, mas também queria que ele entendesse meu lado, entendesse minha preocupação, porque o problema não é somente eu, mas sim nossa filha de três anos que sempre viveu em meio de uma guerra, e pelo que vejo uma guerra que nunca terá paz. Todos almejam a paz, eu sei disso, eu também almejo-a.

Eu só queria ter uma família normal, eu só queria que Luan fosse um cara normal, que não tivesse como serviço drogas e armas, só queria que nossa filha crescesse em paz, que ela fosse feliz. Mas quem é feliz ao meio de guerra, armas e drogas?!

***

Fiquei por quase meia hora lá em pé apreciando a paisagem pela janela e lutando e debatendo com meus próprios pensamentos, e enfim cheguei à uma conclusão, sei que da minha parte era difícil toma-la, mas como dizem: quem ama faz tudo.

Luan desceu alguns minutos depois, ouvi seus passos em minha direção mas o mesmo parou deixando o silêncio voltar a reinar...

─ Maju... ─ eu o interrompi.

─ Eu te aceito, Luan ─ eu disse mesmo com um nó na garganta. ─ Eu aceito seu jeito, eu aceito viver com você mesmo com o perigo, eu aceito tudo pra não te perder outra vez.

Me viro e encaro Luan que estava com as mãos na cintura de um jeito sexy, sua bermuda estava meio caída e seus cabelos desgrenhados. Eu suspirei forte.

─ Eu só tenho medo, eu tenho medo de te perder outra vez, tenho medo de acontecer algo com você, tenho medo de não existir mais nossa família ─ eu digo tentando controlar o choro. ─ Mas infelizmente eu não posso mudar você, não posso mudar seu jeito, não posso mudar o tráfico que já está dentro de você, mas eu só quero te pedir uma coisa, eu só quero que você não me abandone nunca mais.

Luan se aproximou de mim em passos curtos e levantei minha cabeça para encarar o mesmo, ele estava sério, mas seus olhos brilhavam. Senti seu braço ser enlaçado em volta da minha cintura e ele me puxar para um abraço, repousei minha cabeça em seu peitoral fechando meus olhos e sentindo as lágrimas descerem pelo meu rosto.

─ Eu nunca vou te abandonar, nunca!

─ Eu te amo demais, Luan ─ disse baixinho inalando o cheiro de seu peitoral desnudo. ─ Eu te amo o bastante pra te aceitar do jeito que é, dizem que quando amamos simplesmente aceitamos, e sei que vai ser difícil daqui pra frente.

Luan me soltou do abraço e segurou meu rosto em suas mãos grandes e quentes, ele enxugou minhas lágrimas com o polegar e fixou seus olhos nos meus.

─ Não te prometo que o perigo acabou, não te prometo que teremos paz, não te prometo que tu vai estar segura sempre, não te prometo que essas lágrimas não vão mais cair, mas eu te prometo que vou fazer de tudo pra te fazer feliz, pra fazer nossa família feliz, porque minha família é a coisa mais preciosa para mim ─ ele diz sério e determinado, em seguida sela nossos lábios rápido. ─ Teu sorriso é o que ilumina meu dia, minha patricinha.

Ele então segura em minha nunca e cola nossos lábios formando um beijo quente, nossas bocas se encaixaram perfeitamente enquanto as mãos nervosas dele exploravam meu corpo, eu desfrutava o sabor refrescante dele enquanto segurava em seu rosto sentindo sua barba roçando em minha mão. Luan me pegou no colo e parou o beijo me levando até o andar de cima, com passos lentos ele chegou até nosso quarto e juntos caímos na cama voltando a nos beijar.

Após já estar despida e Luan também, o mesmo foi beijando cada parte do meu corpo e me fazendo arrupiar e gemer de prazer, Luan e aquela boca maravilhosa dele que causava altas loucuras.

Ele ficou por cima de mim, beijava meu pescoço e minha boca nervosamente, minhas mãos suavam enquanto retribuía os beijos morrendo de saudades. E enfim ele me penetrou com movimentos rápidos e prazerosos, mas que deu perfeitamente para um provar do outro.

Ainda estava meio chateada mas resolvi confiar e acreditar em Luan, ele sabia bem das escolhas dele, e acreditava que qualquer uma que fosse ele pensaria na família dele, e além de tudo o que importava era o amor, eu daria todo meu amor possível pra nossa filha pra que ela se esquecesse que no mundo lá de fora há uma guerra.

***

Luan chamou Neguinho e RL quando nós terminamos de fazer amor e tomamos um banho juntos, Lua tinha voltado a dormir e Gabriel estava em um sono profundo no quarto bagunçado dele. Quando Neguinho e RL chegaram foi como um espanto, eles se abraçaram quase chorando, mesmo Neguinho dizendo que era só suor descendo dos olhos dele, enfim, foi um reencontro de irmãos e eles ficaram igual eu quando viram o Luan, ficaram céticos, Neguinho até deu um tapa na cara do Luan pra ver se era verdade e não alucinação.

Agora eles estavam em uma conversa de quase duas horas sobre tudo, e já já eu tinha escola, mas estava bem atenta nas gírias do Neguinho que era o que mais falava lá, acho que ele tava meio bêbado ou xilado.

Me acomodei no colo do Lua e voltei a sentir o carinho que ele fazia nos meus cabelos me fazendo quase pegar no sono.

─ Mano, esses vermes aí são mó cuzão, atrapalharam a merda toda ─ Neguinho falava e RL concordou sorrindo.

─ Atrapalharam tipo o quê?

─ Em tudo, na vida dos moradores, nas drogas e tal ─ Neguinho explicava. ─ Maju te contou da militar safada que deu um tapa nela? E ainda por cima jogou as coisas dela no chão...

Fuzilei Neguinho com o olhar reprovando-o, que diabos ele tinha que tocar nesse assunto? Agora Luan iria ficar uma fera.

Dito e certo, Luan me tirou do colo dele e já se levantou pegando a fuzil que estava encostada no sofá com uma cara de dar medo, que merda Neguinho tinha que falar? Que merda!

Apenas um Traficante IIWhere stories live. Discover now