Capítulo Quatro.

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Maju narrando:

Passei a tarde assistindo filme com Lua e Gabriel, na metade do filme Gabriel já dormia abraçado com Lua ocupando quase toda a enorme cama, enquanto eu estava no cantinho comendo pipoca amanteigada com refrigerante. Quando o filme terminou, desliguei a televisão e fiquei observando Gabriel que dormia tranquilamente com minha filha, eu não sabia o quê fazer, agora mais que nunca eu precisava muito de Luan.

Quando deu seis e meia da tarde fui me arrumar, tomei um banho, vesti uma calça jeans lavagem escura com o uniforme, prendi o cabelo em um rabo de cavalo e calcei minha rasteirinha. Espirrei qualquer perfume em mim, e já fui pegando minha bolsa de lado e meu caderno. Fui até Gabriel e cutuquei o mesmo que acordou coçando os olhos.

─ Já tô indo pra aula, quando a Lua acordar você pode dar o jantar dela? ─ pergunto e ele assente. ─ Mais tarde tô de volta, juízo e por favor fica em casa!

─ Boa aula, Maju ─ ele responde docemente e dou um sorriso me abaixando e beijando a testa do mesmo, também desfiro um beijo na bochecha da Lua que dormia como um anjinho.

Saí de casa comendo um misto que Julieta havia feito, já estava de noite e a Rocinha lá de cima ficava linda, as luzes estavam pequenas e brilhantes, desci o morro pela rua principal e passei direto sem olhar pros militares que ficavam tomando gosto com todas as meninas dali, eita ódio que eu tinha deles.

Passei na casa da Priscila e gritei o RL.

─ RL? Tu vai hoje pra escola? ─ gritei e Priscila surgiu toda descabelada.

─ Hoje não, ele tá muito cansado ─ ela gritou de volta e assenti sorrindo, sei bem esse cansaço.

─ Boa aula! ─ ela gritou fechando a janela e sumiu do meu campo de visão.

Continuei a andar até a escola, dentro de uns dez ou quinze minutos estava lá.

Já estavam entrando e me enturmei indo direto pra sala, quase não tinha amizades por lá, só tinha quatro horários e no intervalo e entrada aproveitava pra colocar as matérias em dia já que em casa não podia, a Lua não deixava.

Terminei de responder uma atividade e foi tempo que a professora entregou cumprimentando todos e já indo passar o conteúdo na lousa.

No recreio fiquei estudando pras provas e escrevi mais uma carta pro Luan falando sobre como estava tudo, e aproveitei pra falar do Gabriel, mas não disse exatamente o quê estava acontecendo.

Saí da escola umas nove ou dez horas da noite por aí assim, estava perigoso andar sozinha nesse horário, mas pediria um moto-táxi. Após pedi o moto-táxi fui andando até a parada que ficava bem perto da escola, lá era o ponto pro motoqueiro vim me buscar.

Enquanto andava me senti sendo observada, olhei pra trás e um carro cor prata estava com os faróis apagados e a velocidade reduzida, naquela hora gelei, estava tudo deserto por ali. Apressei meus passos mas senti o carro vim parando do meu lado e o motorista jogou o carro em cima de mim me fazendo me desequilibrar e cair de bunda no chão no pinche frio da noite.

─ Não me viu não, caralho?! ─ eu gritei com raiva e vi o carro parar e um sujeito alto sair de dentro do mesmo.

Ele caminhou apressado até mim e me estendeu a mão, mesmo com a pouca luminosidade pude ver o mesmo bem, tinha olhos cor de mel, a pele bem bronzeada, cabelos escuros que caiam sobre a testa, nariz fino e reto. Usava uma camiseta branca e uma bermuda da adidas tactel na cor preta, era forte e tinha uma imensa tatuagem no peito indo até o cotovelo. Ele estendeu a mão e olhei pro mesmo com raiva misturada com medo.

─ Desculpe, não vi você ─ ele diz se desculpando e bufo.

─ Não, você é cego! ─ bato na mão dele com força e me levantando limpando minha calça que estava suja de areia, que filho da puta!

─ É que estava no celular e não prestei atenção em você direito ─ sua voz é grossa e séria, ele não demonstra expressão. ─ Nem me apresentei, meu nome é Paulo Ricardo mas me chama de PR.

─ Não perguntei seu nome, agora tchau ─ falo andando depressa até a parada mas ele me puxa.

─ Você conhece alguma Lívia? Ela mora na Rocinha.

─ Eu não moro na Rocinha.

─ Claro que mora, Maria Júlia.

Eu arregalo meus olhos e me viro olhando pra ele atônita, o mesmo ri e levanta a camiseta revelando um revólver metido na bermuda, naquele momento eu gelo, ele vai dando passos para trás até entrar no carro e sair cantando pneu.

Naquele momento gelei e fiquei observando o carro prata até dobrar a esquina, como aquele louco me conhecia?! Fiquei preocupada, fiquei tentando me recobrar memórias onde esse nome estava mas não consegui descobrir.

─ Ei moça, foi você que pediu o moto-táxi? ─ saio de meus pensamentos e encaro o cara gordinho com o uniforme de moto-táxi, eu assinto e vou até ele agarrando o capacete e colocando em minha cabeça.

Desço na entrada do morro e pago o motoqueiro subindo, os militares me pararam de novo, mas agora só eram homens.

─ Abre a bolsa ─ um deles disse com um olhar lascivo.

Abri a bolsa e ele meteu a mão revistando tudo.

─ Essa gostosa aqui tá limpa, deixa passar ─ ele gritou e fui andando ligeiro com um nojo absoluto desses filhos da mãe, enquanto andava pisando fundo em direção de casa novamente aqueles pensamentos sobre o carinha invadiram minha cabeça, queria saber quem era ele, de onde ele me conhecia, o quê ele queria comigo. Ele não tinha cara de bandido, mas carregava uma arma e havia me mostrado bem querendo me causar medo, mas não estava com tanto medo assim, até porque ele não podia fazer nada comigo. Eu não saia da Rocinha nem que a vaca tossisse ou falasse meu nome.

Cheguei em casa cansada e já fui tirando minha rasteirinha e jogando minha bolsa no sofá, tirei meu uniforme e joguei em qualquer canto bebendo um pouco de água e subindo, meus amores estavam no mesmo lugar que havia deixado e realmente achei incrível esse sono dos dois, batiam um recorde.

Tive que acordar Lua pra dar banho e janta, e Gabriel também que se levantou resmungando.

Lua estava morta de sono, quase não jantou direito e tive que ficar chamando ela, no final vesti um pijama na mesma e arrumei a cama dela, a mesma deitou se embrulhando. Despejei um beijo amoroso na lateral do rosto dela e saí do quarto ligando o ar condicionado e apagando a luz, só a luz do abajur ficou acesa.

Tomei um banho morta de cansada e vesti qualquer roupa indo pra janela e apoiando meus cotovelos no parapeito, voei com meus pensamentos até Luan, então uma dor e preocupação inundou meu peito. Será que ele estava bem? Será que ele estava se alimentando direito? Será que pensava em mim e na nossa filha?

Quando me dei por conta já estava em prantos, eu chorava de saudades, a saudade é com certeza uma ferida profunda e que sempre iria doer em mim. Era tantos problemas que não conseguia tomar solução sozinha, eu precisava dele comigo.

Ouvi meu celular tocando e era número privado, enxuguei minhas lágrimas e atendi suspirando.

─ Alô?

Nada foi ouvido, no outro lado só chiava.

─ Alô? ─ chamei mas uma vez mas novamente fiquei sem resposta, não era possível ouvir nada, até que desligaram a ligação e joguei meu celular na mesinha perto da janela, devia ter sido só mais um engano.

Eu pensava que aquela noite seria mais uma, mas eu estava enganada... Eu nem imaginava o quê estava para acontecer.

Apenas um Traficante IIOnde as histórias ganham vida. Descobre agora