Capítulo Três.

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Luan narrando:

Cada dia que passava sentia mais saudade, sentia meu peito doer mais, sentia que já não aguentava aqui nessa prisão.

O tempo aqui passava mais lento que uma tartaruga, era torturante, sentia falta do meu lar, do meu povo, da minha família...

Eu realmente havia privado as visitas, não queria Maju vindo aqui na penitenciária e trazendo nossa filha, esse lugar não era um lugar adequado pra ela, mas sentia saudade de ver os olhos azuis que eu tanto amava, só queria que tudo passasse mais rápido.

Viver aqui é um inferno, aqui a metade dos detentos eram parceiros meus, e quando tinha briga fazia de tudo pra não me meter pra ver se os bacanas reduziam minha pena, queria logo me mandar daqui e voltar pra minha família.

Eu tava fazendo isso era pela Maju, ela queria me ver fora do tráfico, e também queria sair. Mas quando se tem algo dentro de você é difícil tirar, o tráfico em mim era como um órgão, não podia simplesmente arrancar, mas a minha família também era como um órgão.

Todo dia eu sinto meu peito doer, sinto vontade de fugir daqui e voltar pras mulheres da minha vida, queria saber como elas estavam, como minha filha era, às vezes sorria sozinho ao me lembrar do nascimento dela, mesmo com todos esses anos que passaram eu nunca havia me esquecido da primeira vez que vi minha princesinha.

Queria saber como meu irmão tá, como meus amigos estavam, como meus filhos haviam crescidos, queria muito voltar. Tentava de tudo abraçar as lembranças, mas sentia cada vez elas se distanciando.

Hoje era mais um dia, mais um dia lento e doloroso.

Saí da cela e fui descendo de acordo com a fila até o pátio pro banho de sol, a cadeia era de segurança média, ficava vários vermes por lá humilhando a gente, mas eu aguentava, eu aguentava tudo pela Maju.

Eu nunca me vi me entregando tão fácil pros vermes, mas veja só o quê o amor faz.

─ Luan? ─ Paulo me chamou baixo. ─ Chega aí.

Eu me aproximei dele e vi que ele escondia uma faca dentro do calça alaranjado da penitenciária, eu entrei em pânico.

─ Tu tá maluco? ─ perguntei sussurrando e ele suspirou.

─ Vai ter rebelião hoje, falei com um verme e ele vai liberar pra mim, todas as forças vão se concentrar aqui no pátio e nessa hora a gente foge ─ ele me diz seu plano e nego contrariado.

─ Não vou fugir, eu quero ver minha família de novo.

─ Eu também, e por isso mesmo vou fugir.

─ Vamos ser procurados...

─ Tu paga um cana e ele limpa tua ficha todinha, aí pra sempre tu vai tá livre, vamos lá vai, tu é meu parceiro desde sempre e tô contigo sempre, mano!

Neguei e ele suspirou, eu não queria fugir e ser procurado, mas ele estava certo, se pagasse um cana ele limparia toda minha ficha e finalmente eu não seria mais procurado, até porque eles não podem me prender por algo que não cometi.

Fiquei preso naqueles pensamentos, não conseguia parar de pensar na proposta do Paulo, já havia roído todas as minhas unhas e nada vinha até mim, nenhuma decisão.

Fui até o Bob, o cara das correspondências.

─ E aí, alguma coisa pra mim? ─ pergunto pro velho da portaria e ele ajeita o óculos de grau no rosto me fitando.

─ Tem sim, Luan ─ ele remexe as cartas e me entrega três.

Agradeço e saio dali indo até o refeitório e sentando em uma das mesas, o refeitório estava vazio naquele momento, a metade dos presos estavam no banho de sol.

Rasgo a primeira carta e vejo que é da Maju, não abro, deixo em um canto e abro a segunda.

''Obrigada por facilitar o serviço pra mim, DG.''

Havia uma foto da Maju imprimida com um X bem no meio, naquele momento meu coração disparou, tentei me conter, ele não podia fazer nada... A Rocinha estava pacificada e ele não entraria em um lugar cheio de militares.

Peguei aquela carta e amassei de raiva, deitei minha cabeça na mesa empoeirada do refeitório e fiquei nadando em pensamentos, nadando em decisões, já havia passado três anos... Cada vez me arrependia mais por estar perdendo o crescimento da minha filha, e perdendo os melhores momentos da vida dela com a Maju.

Até que tomei minha decisão, respirei fundo e me levantei em direção ao pátio.

Apenas um Traficante IIOnde as histórias ganham vida. Descobre agora