Amora

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*Capítulo editado*

Muita gente me pergunta por que eu tenho nome de fruta. Talvez seja por que meus pais são loucos o bastante para pôr o nome da sua filha o nome da fruta favorita, mas prefiro acreditar que o motivo seja a cor dos meus cabelos, que lembram a tonalidade do vermelho de uma amora.  

O mesmo não se deu com meu irmão mais novo, o Júlio, que carrega um nome comum e a preferência dos meus pais desde que nasceu, quando eu tinha apenas dois anos de idade.

Tenho bem vividos 17 anos, e finalmente estou no último ano do ensino médio, pretendo fazer faculdade de psicologia infantil, porque apesar de ser um pouquinho impaciente e um tanto descontrolada, eu amo lidar com crianças e tenho certeza que vou ser bem-sucedida nessa área.

Mas enquanto o dia de realizar meu desejo profissional e estudar algo que realmente me interesse, não chega, tenho que aturar a escola, com todas aquelas pessoas que fazem de tudo para chamar atenção e se mostrarem melhores que os outros, talvez por sua popularidade, beleza exterior ou nível social.

Não tenho inveja desses que se destacam, só sinto pena de alguns por desperdiçarem sua juventude tentando humilhar e rebaixar as outras pessoas para se sentirem melhor com eles mesmos, sem ao menos se dar conta de que o que fazem é ridículo.

Eu e boa parte dos alunos "comuns" não participamos de nenhum grupinho, talvez por que não temos o que é preciso para se encaixar em alguma das rigorosas corporações criadas indiretamente pelos próprios alunos que não conseguem aceitar as diferenças dos outros.

Mas sinceramente, eu não me importo em ser encarada como a nerd, ou a anti social esquisita que prefere se isolar de todo mundo e viver no seu próprio mundo. Para mim é melhor viver rodeada de livros e histórias do que de pessoas que se preocupam demais com estereótipos e padrões.

Tenho tudo que preciso para ser feliz, uma única amiga que vale por dez, a Carol, meu companheiro de teclas que emitem sons, capazes de me fazer esquecer todos os meus problemas e me desligar de tudo, e meu diário, que eu sei, parece coisa de criança, mas escrever nesse caderno confidencial é como se eu tivesse um amigo do qual eu poderia contar a qualquer momento, com a certeza de que ele nunca me julgaria.

Por trás dessa garota um tanto cabeça dura que eu sou, existe uma garota que sonha em aproveitar ao máximo todas as experiências que viver, alguém que deseja encontrar uma outra pessoa para transbordá-la e compartilhar todos seus medos e alegrias. Pessoa essa que até agora não apareceu, talvez por causa da impressão que eu passo, talvez por não sair de casa além de ir pra escola, ou talvez por ser eu mesma e ninguém gostar de mim assim.

Eu sou muitas em uma só, uma garota com várias opiniões, com infinitos pensamentos, que muda constantemente e que acredita que um dia encontrará sua identidade, talvez logo ali na esquina, ou aqui, dentro de si mesma.

Eu definitivamente não gosto de vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora