Capítulo 4

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Capítulo revisado

Se tem algum dia em que eu consigo acordar contente pra ir a escola, essa dia é quinta-feira.

Eu me sinto como se estivesse no jardim de infância, quando mal conseguia dormir direito de tanta ansiedade para me divertir no dia seguinte.

Entre os grupos da escola, como o de esportes, o grêmio, o de cientistas, temos o grupo de música, responsável pela trilha sonora de todos eventos.

Por breves momentos em que nos reunimos na sala de música nesse dia da semana, eu me sinto importante, realmente algo existente na escola, apesar de preferir ficar nos bastidores e nunca participar das apresentações. Acho que esse é um dos poderes da música, conectar as pessoas, fazê-las se sentir vivas, únicas.

Nosso grupo, em especial, é formado por pessoas de idade, turma e estilo muito diferentes, alguns de nós, se não todos, só se falam nas "reuniões da banda", como chamamos nossos encontros de quinta, mas apesar de tanta diferença nos sentimos unidos, por um sentimento muito maior, o amor que temos pela música e a vontade de compartilhar o que sabemos uns com os outros.

Durante a reunião, Marcos, o líder do grupo, decidiu que teria um teste para vocalistas e novos membros. Assim que ouvi a ideia tive vontade de me candidatar, afinal quando eu entrei no grupo, a dois anos atrás, não tinha mais vagas para vocalista, então eu fiquei no teclado, mas eu nunca cantei fora do meu quarto, as chances de tentar fazer o teste e me saí mal são infinitas.

Me desconcentro tanto com meus pensamentos que só percebo que a reunião acabou quando vejo todos se levantarem e saírem da sala.

Fui a última a sair, mas antes de atravessar a porta e seguir meu caminho pelo corredor, ouço o Marcos me chamar.

_ Então, eu só queria te pedir pra ficar aqui por alguns minutos, esperando pra ver se alguém vem se inscrever para entrar no grupo, enquanto eu vou colocar o anúncio do teste no mural.

_ Ah, tudo bem - Marcos já ia saindo mas voltou pra terminar de me ouvir - mas se alguém vier, o que eu faço?

_ Tem alguns formulários ali - ele aponta para uma pilha pequena de papéis em cima da mesa - quem quiser se inscrever para ser membro do grupo ou vocalista deve preenchê-lo e guardar...- com pressa, ele procura com os olhos algo, mas logo desiste - em qualquer lugar, só preciso que me entregue-o depois - e então o Marcos saiu disparado, talvez com medo de que eu o perguntasse mais alguma coisa.

Pego o formulário para vocalista e leio, releio, e leio mais um vez, o suficiente pra gravar todas as perguntas e pensar em trezentas e cinco formas de respondê-las.

_ Se eu tivesse sua voz, eu me inscrevia - derrubo todas as folhas que estão na minha mão ao ver que não estava mais sozinha na sala.

_ Ai que susto, Mateus!! - ainda sem fôlego tento pegar todos os papéis que caíram no chão.

_ Desculpa - ele ri do meu embaraço - não era a minha intenção, mas ainda acho que você deveria se inscrever, essa escola merece ouvir sua voz.

Continuo pegando os formulários que caíram, e o silêncio toma conta da sala de tal forma, que eu esqueço que o Mateus está ali.

Olho para a mesa onde ele estava encostado e o encontro ainda segurando o riso, por causa do meu susto.

_ Muito engraçado - reviro os olhos e coloco todos os papéis onde estavam - O que veio fazer aqui?

_ Eu fiquei sabendo das inscrições para participar do grupo, então vim me inscrever.

_ Mas você não é do grupo de esportes?

Eu definitivamente não gosto de vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora