Capítulo 8

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Capitulo revisado

Estávamos no palco, a luz era baixa e o silêncio era tão gritante que se um alfinete caísse no chão dava pra ouvir. Com os olhos fechados comecei a tocar a melodia lenta no teclado, fazendo a música surgir aos poucos, agora era a hora do Mateus, que sem demora fez sua parte, e a harmonia da letra junto com a sintonia do ritmo tornou aqueles breves 3 minutos os mais mágicos de todos.

Ao fim da apresentação eu não tinha mais fôlego, nem voz, estava sem reação alguma, eu não fazia ideia de que conseguiria fazer isso. A adrenalina que senti lá em cima era algo indescritível, que eu podia ver nos olhos do Mateus que com ele foi a mesma coisa.

- Ah!! A gente conseguiu, eu nem acredito - abraço-o por impulso assim que saímos do palco, ainda ouvindo os aplausos da plateia.

- Sim!!! Passou tão rápido que eu acho que quero ir de novo - ele solta uma risada que resumi tudo que nós estávamos sentindo naquele momento.

E antes mesmo que eu pudesse falar mais alguma coisa, fomos cercados por pessoas da nossa sala, querendo saber onde eu tinha aprendido a cantar, quem tinha feito a música e esse tipo de coisa.

No meio daquela confusão toda senti alguém me puxar.

- Parabéns Amora, você foi incrível - o Marcos falou me abraçando.

- Obrigada Marcos, com certeza você me ajudou muito - completei sorrindo.

Atrás dele vejo o Mateus acenar, olho ao redor para ter certeza de que ele estava falando comigo, e parecia que sim. Pedi para o Marcos esperar e fui até seu encontro na saída da parte de trás do palco.

- Eu só queria falar com você antes de ir embora, e agradecer por essa coisa toda - rimos sem graça, já que agora não tínhamos mais motivos para nos suportarmos.

- Não vai ficar para assistir o resto das apresentações? - digo ao observar que sua mochila e o violão já estão nas costas.

- Não, preciso resolver uns assuntos com meu irmão - ele suspira alto o suficiente para eu perceber que esses assuntos não parecem ser tão simples assim.

- Olha que de resolver assuntos com irmãos eu entendo, viu? - e mais uma vez risadas sem graça - Então é isso, não é? Acabou, a gente não precisa mais se aturar.

- Verdade - Mateus sorri sem mostrar os dentes e ficamos em silêncio por um tempo - Mas, não precisa ser assim - ele dizia pausadamente, como se estivesse com receio - nós podemos ser amigos agora, foi muito bom passar esse tempo com você. Sei lá, a gente podia tentar.

- Não Mateus, acho que não - a medida que ele tentava se aproximar eu dava um passo para trás - Eu agradeço muito por toda a ajuda que você me deu, mas é melhor você voltar pros seus amigos e eu continuar sozinha como antes. Não sei se conseguiria...

- Não precisa continuar, eu já entendi - agora foi a vez do Mateus se afastar - Você não conseguiria ser amiga de uma pessoa como eu, ainda mais depois de tudo que eu te fiz.

- Mateus, não foi isso que eu quis dizer - era tarde demais pra tentar explicar alguma coisa, eu já tinha o perdido de vista em meio as pessoas que iam e vinham.

Voltei para o auditório e me sentei em uma das cadeiras vazias e mais afastadas das pessoas na plateia, para assistir o resto das apresentações. Assim que todas as turmas terminaram de se apresentar, ouvimos algumas palavras finais da diretora e do vice-diretor, e eu saí dali indo direto para casa.

Por sorte minha mãe ainda não tinha chegado do trabalho, pelo menos eu não tinha de que esconder minha cara desanimada de ninguém.

Fui direto pro meu quarto, entrei no banheiro e tomei um banho demorado, queria poder eliminar todas as emoções de hoje, como se o chuveiro pudesse levá-las ralo abaixo.

Deitei na cama e percebi que tudo tinha acabado, parece que foi ontem que a professora definiu que a minha dupla do trabalho seria o garoto mais popular de todo o colégio, e eu queria fazer de tudo pra mudar isso.

Me sentei em frente ao piano, que me custou todas as minhas economias, e toquei a música da apresentação, cantando baixinho, mesmo sabendo que ninguém poderia me ouvir, talvez eu quisesse esconder de mim mesma que já não sinto mais o que sentia pelo Mateus, arrisco dizer que ele é até um pouquinho legal.

Não Amora, não.Você não vai se deixar levar por ele, igual a todo mundo. O Mateus não vai te enganar.

_ Arrasou na apresentação, deve estar aliviada que já acabou - tomo um susto ao ouvir o Júlio dizer encostado na porta do meu quarto.

_ Não sabia que tinha chegado - levantei do piano e fingi mecher no celular - Foi legal, que bom que acabou.

_ Mamãe disse que vai chegar um pouco mais tarde hoje - só assinto na esperança que ele não prolongue a conversa, e eu possa ficar sozinha com minha confusão - Você não vai comer? - respondi que não com a cabeça - Tudo bem, então, é bom que sobra mais pra mim.

Ele desce as escadas e parece depois de um tempo com um prato de comida na mão.

_ Toma - Júlio estende a minha frente um prato com arroz, verduras e frango - Se você não comer eu vou ter que fazer aviãozinho.

Pego a comida da sua mão, antes que ele continue insistindo.

_ Você não está bem, não é? - coloco uma garfada na boca - É aquela coisa de mulher que você falou, TBM? - ele pergunta confuso, e sua estranha preocupação me convence a dar um pouquinho de atenção a ele.

_ Não, eu estou bem - digo rindo - e é TPM não TBM.

_ Você entendeu - continuei comendo e o Júlio sentou na cama junto comigo - Amora,sei que aconteceu alguma coisa que não quer me contar e eu só vou sair daqui quando você resolver me dizer.

_ Então você vai passar o resto da sua vida aqui.

_ Nada disso, eu confessei que estou afim da Stefane, agora é sua vez. Estou esperando - ele sorri convencido.

_ Está bem, se você insiste... - digo suspirando e reviro os olhos - Eu só estou um pouco confusa, quando a apresentação acabou eu disse ao Mateus que não seria uma boa ideia sermos amigos, mas agora eu já não tenho mais tanta certeza disso.

_ Então fala com ele que você se enganou e tá tudo resolvido.

_ Não é bem assim, Júlio, depois de tudo que eu vi o Mateus fazer comigo e com outras pessoas, não sei se conseguiria simplesmente ignorar.

_ Você quer dizer as piadas?

_ Não é só isso, desde que o Mateus chegou na escola eu vejo ele pisando nos outros pra ser o melhor, achando que o mundo gira em torno dele, sempre querendo indiretamente se sobressair em tudo, sem falar dos seus amigos, e então, de repente, eu convivo com ele por algumas semanas e não vejo nenhum sinal do Mateus que eu conhecia.

_ Olha Amora, eu ainda acho que você tem que falar com ele. As vezes a gente age com preconceito só pelo o que vemos de uma pessoa, quem sabe dando uma chance ao Mateus você não se surpreende e descobre o porquê dele ter agido assim.

Fiquei em silêncio por um tempo, pensando no que o Júlio tinha me dito e o melhor de tudo, surpresa por ele ter me ouvido, até que o vi levantando e saindo.

_ Ei pirralho - ele se virou pra mim - obrigada.

- Eu sei que sou demais, não precisa agradecer - disse piscando um olho pra mim.

_ Tá bom, agora leva meu prato por favor - entreguei-o e ele desapareceu porta fora. Agora eu só precisava de coragem pra falar com o Mateus, isso se ele ainda quiser me ouvir.





Eu definitivamente não gosto de vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora