Capítulo 12

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Capítulo revisado

O resto do fim de semana foi bem tranquilo, a Beatriz chegou no dia em que eu ia embora, e não  pegou mais no meu pé. Eu até cheguei a pensar que ela ia ficar me perguntando sobre o meu "namorado" mas, parece que a Beatriz esqueceu, e eu não vou ter que me preocupar mais com isso.

Mais uma segunda chegou e não teve como fugir da escola nem de ter que aturar os animais que a habitavam.

O dia amanheceu frio, isso significava que eu podia usar um moletom e que tinha a desculpa para estar ainda mais desarrumada e com sono.

Entrei na minha sala e fiquei surpresa ao ver o Mateus sentado numa carteira ao lado da minha.

- O que você está fazendo aqui? E por que esses óculos? - perguntei assim que sentei na cadeira.

- Bom dia pra você também, Amora - ele diz estampando um sorriso simpático.

- Parece que agora você tem educação - digo e mais uma vez o Mateus finge demência depois de agir feito um idiota.

- Respondendo suas perguntas, estou aqui porque eu estudo aqui e estou usando óculos porque esqueci minhas lentes reserva na casa do meu pai, e as que uso sempre, sumiram - dei atenção ao que ele disse e depois o ignorei, era impossível olhar pra sua cara e não lembrar do que ele tinha me dito no mercado, ou da falta de vergonha na cara que tinha de falar comigo como se não tivesse feito nada.

- Mateus por favor, me dá licença.

- Não entendi, o que foi que eu te fiz?  

- Você não sabe mesmo? Então me deixa refrescar a sua mente, primeiro você me trata como se fôssemos amigos, ignorando todas as vezes que você me humilhou, fez piadas ou riu de mim, mesmo assim eu te dei uma chance, mas você me mostrou que não valia a pena tentar te ver de outra forma, ainda assim eu quis te dar uma segunda chance, só pra ter certeza, e eu enfrentei meu orgulho, fui falar com você e você tentou me beijar, não dá pra…

- Espera aí, o que você disse? Eu tentei te beijar? - Mateus me interrompe e pergunta como se estivesse realmente surpreso. Balanço a cabeça afirmando e ele continua com aquele teatrinho - Só pra eu me lembrar mesmo, você me beijou?

-  É óbvio  que não, Mateus - dou um leve empurrão no seu braço e ele suspira aliviado - Ei, me beijar não é tão ruim assim, pelo menos eu acho que não deve ser, mas isso não vem ao caso. Além de tudo isso você me tratou muito mal na fila do mercado - e mais olhadas confusas, ele parecia realmente não saber do que eu falava - Mateus? - toco em seu braço e digo em um tom um pouco mais baixo do que antes - Você sofre de algum transtorno de personalidade ou algo do tipo?

- Não, não é isso - ele salta da carteira e praticamente grita, fazendo toda a turma barulhenta, olhar para nós.

- Não precisa ficar assim, eu já li sobre isso na internet, se chama Transtorno Dissociativo de Personalidade, é quando uma pessoa tem duas personalidades totalmente distintas mas ela não tem controle sobre isso. Talvez esse seja seu problema, ou você é só um descarado mesmo.

- É claro que não, é só que…- ele olha pros dois lados para ver se alguém prestava atenção na conversa e se aproxima de mim - é complicado, eu… - Mateus começa a sussurrar mas a professora entra na sala e nossa conversa se encerra ali.

A manhã levou mais tempo pra passar do que os outros dias, dessa vez eu não estava tão sozinha, e por um lado foi até bom, pelo menos eu não precisei aturar os amigos do Mateus, que o dispensaram por não estar combinando com eles, tudo isso, pasmem, pelos óculos.

De certa forma um lado de mim sentiu um pouco de pena do Mateus, por ter esses tipos de pessoas como amigos. Gente que só te coloca pra baixo nunca acrescentar nada na sua vida além de negatividade.

- Tchau frutinha - Mateus diz na hora da saída me fazendo sorrir e revirar os olhos logo em seguida.

- Tchau - andamos um na direção oposta ao outro, mas antes de virar a esquina dou uma última olhada para trás e o Mateus faz o mesmo, depois dá um sorriso tímido de lado e acena uma última vez.

Cheguei em casa e tudo estava estranhamente quieto. Obviamente minha mãe não estava em casa e o Júlio dormindo.
Coloquei o almoço no prato e gritei meu irmão que não deu um sinal de vida até eu terminar de comer. Ele estava dormindo, como esperado.

- Estou morrendo de tédio hoje, tem planos para a tarde?

- Tenho sim, mas não é muito sua praia. Festa na casa de uns amigos - ele abre a geladeira e pega um refrigerante.

- Não é mesmo, acho que vou ter que passar o resto do dia sem fazer nada, nem matéria acumulada eu tenho.

- Sorte a sua, e minha também, porque mesmo com atividade da escola pra fazer eu vou sair. Assuntos da escola, ficam na escola - Júlio coloca a comida num prato e sobe de volta para o ninho dele.

Pouco tempo depois ouço meu telefone tocar, era um número desconhecido, mas mesmo assim resolvi atender.

- Amora? - o garoto diz do outro lado e eu fico quieta - é o Marcos.

- Ah! Oi Marcos, algum problema?

- Não, só queria saber se você não está a fim de fazer alguma coisa comigo hoje, talvez sair, não sei.

Fiquei um tempo em silêncio, sem reação, esquecendo completamente que eu tinha que dar uma resposta.

- É, pode ser - resposta errada Amora, reposta errada, maldita hora pra responder sem pensar.

- Que tal um cineminha?

- Claro! - agora não tinha mais como voltar atrás, mas pelo menos no cinema eu não teria que conversar tanto com ele.

- Passo na sua casa às 17, tudo bem pra você?

- Certo - ainda bem que ele não podia me ver, eu estava mais vermelha que tomate maduro e mais arrependida que condenado a pena de morte.

Desligo o telefone e tento consolar a mim mesma dizendo que fiz isso porque estava muito entediada e para realizar o desejo da Amora de 15 anos que mora dentro de mim.

A medida que o tempo passava mais eu ficava ansiosa pra sair com o Marcos. Não que eu ainda sentisse algo por ele, mas por alguma razão, lá no fundo, eu queria que nada desse errado, queria que ele se arrependesse de me dar um fora anos atrás.

Apesar de ocupada, a Carol sempre tinha um tempo para mim quando eu precisava dela, e dessa vez não foi diferente.

- Carolina Sousa às suas ordens - ela diz assim que abro a porta - Fala o que é que manda.

- Lembra do Marcos não é? - sentei em um sofá e a Carol no outro.

- O cara do primeiro ano.

- Isso! Ele me chamou pra sair hoje.

- É simples, só diz que você não está a fim de ser feita de trouxa por ele de novo.

- Acontece que antes que eu pudesse dar alguma desculpa, eu aceitei ir - digo com um pouco de medo da reação dela, que só arregala os olhos e fica boquiaberta - Eu não estou gostando dele nem nada, só quero saber como teria sido se ele dissesse sim da primeira vez.

- Tudo bem, Mora. Eu não estou aqui pra te julgar, só fiquei surpresa, e muito, mas se é o que você quer fazer, vai em frente - ela sorriu como se tudo fosse simples como é na cabeça da Carol - Agora está mais calma?

- Sim, como você faz isso? - rio surpresa com o poder que a Carol tem de me tranquilizar, mesmo ela já tendo feito isso várias vezes.

- Um mágico nunca revela seus segredos - reviro o os olhos e rio da sua cara.

Não demorou muito e a Carol foi embora. Tomei um banho, me arrumei e fiquei na sala esperando a campainha tocar.
Até que tocou. Era ele.

Eu definitivamente não gosto de vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora