Capítulo 10

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Capítulo revisado

Acordei mais cedo do que o despertador e com um mau-humor terrível só de imaginar que teria que ir pra escola. Parece que quanto mais perto estamos de terminar o ensino médio mais difícil de suportar ele fica.

Desci as escadas a procura de algo para comer ou para me despertar. Coloquei um pouco de café em uma xícara e tirei uma fatia do bolo de laranja, sentei na mesa e aproveitei para dar uma olhadinha nas minhas quase não vistas, redes sociais.

Nunca fui de perder muito tempo no instagram, twitter e essas coisas. Também, com quase 15 seguidores, não tem muito o que ver e postar. A melhor parte disso tudo era poder stalkear as pessoas, e eu acho que essa é a única razão para eu ainda ter um perfil e estar agora dando uma olhada, nada proposital, nas fotos do Mateus.

Se tem uma coisa que eu não posso negar é a beleza dele, e o pior é que todo mundo acha isso, e o Mateus sabe disso. Dava pra ver sua autoconfiança estampada em cada sorriso convencido, em cada fio de cabelo sedoso e naquele par de olhos castanhos. Fico curiosa pra saber se dentro dele há alguma insegurança, se sim, o que seria capaz de tirar toda a segurança do Mateus Soares?

Olho para o relógio que indica a hora de me arrumar pra escola ou pra fazer qualquer outra coisa, menos especulações sobre a vida do Mateus.

Depois do café, subi novamente para me arrumar e quando volto para o andar de baixo encontro meus pais sentados à mesa e o Júlio pronto para sair, assim como eu.

- Vamos? - parado na porta ele pergunta e eu passo direto para o lado de fora sem o responder.

Andamos por quase todo caminho sem dizer nada. Eu e o Júlio não somos do tipo de irmãos que são  amigos, quando éramos crianças costumávamos ser mais próximos, mas com o tempo fomos nos afastando, os interesses foram mudando e hoje ainda nos falamos porque moramos na mesma casa e de certa forma nunca deixaremos de ser irmãos.

Nossa relação não é das melhores, mas olhando pra ele agora, pulando as linhas da calçada, sei que o Júlio se importa comigo, assim como eu me preocupo com ele, mesmo sem demonstrar, mesmo me fazendo lamentar por tê-lo na minha vida as vezes, eu…

- Te amo, piralho

Entre risos ele diz:

- Tá legal, o que você  quer? - balanço os ombros para cima e ele não fala mais nada. Mais uma rua, chegaríamos  na escola - Também te amo - sorrio com sua declaração sussurrada, aposto que ele nunca vai admitir que me disse isso.

Entramos na escola e cada um seguiu o caminho em direção a sua sala.

Depois de andar pelo corredor que separa as turmas, entrei na minha, que já estava praticamente toda cheia. Não acredito que acordei cedo pra chegar tarde.

Poucos minutos depois o professor Mário, de física, entrou na sala pedindo a todos para sentarem em seus lugares e fazer silêncio, enquanto anotava no quadro o novo assunto que iremos estudar.

Para lá de vinte minutos depois da aula ter começado o Mateus entrou na sala, e não tinha como não notar que ele estava diferente, ou talvez isso fosse só coisa da minha cabeça.

De óculos escuros, uma jaqueta jeans por cima do uniforme branco e uma calça cor marrom ferrugem, fugindo um pouco do padrão de vestimenta da escola, ele entrou na sala ignorando a presença do professor e cumprimentando seus amigos.

- Bom dia, Mateus - o prof. Márcio interrompe seu momento de euforia.

- Bom dia - ele responde debochadamente tirando os óculos e colocando na gola da camisa e se sentando ao lado do Pablo.

- Não sei se está lembrando, Sr. Soares, mas o limite de atraso já passou a dez minutos - o professor de física disse.

- E daí? - ele rebate feito uma criança clamando por atenção. E de repente o Mateus que todos conhecem está de volta.

A sala inteira o encarou surpresa, parece que em alguns dias o Mateus acorda mais sem noção do que em outros. Prof. Márcio só aponta para porta e o acompanha até a diretoria.

Só voltei a ver o Mateus no intervalo, provavelmente ele matou as aulas anteriores ou teve algum problema muito sério na direção. Passei direto por ele, que como esperado nem olhou na minha cara, parece que o Mateus levou mesmo a sério  o que eu disse sobre se afastar depois do trabalho, mais uma prova de que não falava sério quando disse que queria ser meu amigo.

Depois das aulas de literatura e inglês, decidi deixar meu orgulho de lado e fui falar com o Mateus na hora da saída. Só pra ter certeza de que ele não era mais aquele Mateus que eu achei que conhecia.

- Oi - digo baixinho atrás dele, se não me ouvisse eu poderia sair dali e não iria me intrometer na sua conversa com outros alunos da escola que eu não conhecia.

- Oi - ele se virou pra mim e disse tirando os óculos escuros - Amora, não é? - reviro os olhos.

- Eu sei que você ficou chateado pelo o que eu disse, mas esquecer meu nome? Menos, Mateus - me viro para ir embora, foi um erro tentar conversar com ele.

- Ei espera - ele segura meu braço e mais uma vez estamos frente a frente - Não precisa ficar assim, eu tô tranquilo, não me importo mais com o que disse - Mateus passa o braço ao redor do meu ombro e me conduz até o portão da saída.

- Não? - falei o olhando confusa e tirando o braço dele de mim - Mas por que você está assim, tão… - o olho de cima a baixo e definitivamente aquele não era o Mateus, ou eu que não queria acreditar que era.

Sem me dar tempo de reagir, ele foi se aproximando de mim, prestes a me beijar. Imediatamente o empurro e dou um tapa no seu rosto, essa não era minha intenção mas não é minha culpa ele ter invadido meu espaço.

- Ai - ele praticamente grita, colocando a mão na bochecha em que eu bati, que está levemente avermelhada. Na verdade, está bastante vermelha  - você é maluca?

- Só quando  aproveitadores tentam me beijar sem minha permissão - falei bem alto para todo mundo ouvir.

- Mas eu achei que tava rolando um clima e que você queria me beijar - ele disse na defensiva.

- Conta outra Mateus - deixo escapar uma risada sarcástica - Não sei se já percebeu, mas eu não sou a Larissa, muito menos as meninas que vêem alguma graça em você - digo saindo antes de dar a ele a chance de dizer mais alguma coisa.

Volto para casa com a imagem que deixei para trás  da cara sem graça do Mateus, e sinto um misto de satisfação e raiva. Agora sem sombra de qualquer dúvida, sei que o Mateus não é o garoto que eu pensei que fosse e que ele sabe direitinho como enganar alguém.

Eu definitivamente não gosto de vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora