Capítulo 3

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Capítulo 3

Passou-se uma semana desde daquela noite inesperada na galeria. Está tudo calmo, demasiado calmo até, o que me leva a pensar que a qualquer momento algo inesperado vai acontecer.
Sempre que tento concentrar-me, a imagem do rapaz do cabelo encaracolado aparece na minha mente, distraindo-me. É quase impossível conseguir não pensar nele a todo o momento, mas com ele vem-me também à cabeça o outro homem, na qual não me pareceu nada amigável… Estava sentada na minha secretária, debruçada sobre a mesa, pensando no que ia fazer agora da minha vida que se tornou um puzzle, só que as peças andam espalhadas por aí.
Fiquei farta daquele ambiente fechado, e fui dar um passeio, arejar. Estava nublado, e passava uma brisa ligeira, mas era o suficiente para fazer o meu cabelo levantar. Decidi ir ao centro comercial, ver as montras, passar tempo. Parei para comer um gelado. Observava as famílias que se sentavam, a lanchar. Os mais novos brincavam e riam-se, enquanto os pais os observavam com carinho.

#Flashback on #

"Sim, e também quero um castelo das princesas!" gritei eu, sorrindo.
"Tudo o que tu quiseres, hoje a princesa és tu."
Abracei-os, com muito força. Gostava muito dos meus pais e de passar tempo com eles, era tão bom!
"Bem" começou o meu pai "vamos parar para comer alguma coisa?"
#Por mim tudo bem querido. Lia, que queres comer? " Perguntou-me ela carinhosamente.
Olhei para eles a sorrir e com cara de traquina e respondi:
"Hmmmm, eu quero um gelado"
"O costume não é filha?" gozou.
Acenei com a cabeça em forma de um grande e óbvio sim. Eles riram-se da forma como o fiz. Deram-me a mão, a minha mãe de um lado e o meu pai do outro e lá fomos os três comprar um gelado.


#flashback off#

Uma lágrima escorria pelo meu rosto que estava sério a olhar para aquela família. Sinto saudades da minha mãe, sinto saudades da minha infância, sinto saudades de mim. Tornei-me fria e afastei-me de todos. A única pessoa que falo é com o meu pai, abandonei os meus amigos e agora estou sozinha, sinto-me isolada do mundo… já não sei o que é amar alguém, já não sei como o demonstrar como sentir. A única coisa que sei é preocupar-me com uma chave que não faço ideia o que contenha e pensar num rapaz que lhe salvei a vida e não teve o carácter de me agradecer sequer. Se calhar estou nesta situação porque quero, porque nunca soube admitir que no meio de toda a minha vida o erro sempre foi meu, a mãe morreu e eu desliguei-me da luz, desliguei-me da felicidade, desliguei-me do amor! Só quero a minha vida de volta, os meus amigos, mas e agora? Agora que já os magoei é que os quero de volta?
Peguei bruscamente na minha mala e sai dali, limpando a lágrima que ainda escorria. Notei várias pessoas olhando-me, com cara de pena, estava farta que me olhassem assim. Foi um dos motivos pela qual abandonei a minha casa, porque todos tinham pena de mim e faziam de mim uma criança, mas eu já tenho 19 anos e sei cuidar de mim. Fui direta para casa a passo apresado para me fechar no meu quarto escuro, ouvir musica deprimente e chorar, sempre sozinha é claro.
Sai do elevador e quando ia abrir a porta, vi em cima do tapete um envelope em branco. Peguei nele e virei-o, tentando procurar algo que identificasse quem o poderia ter deixado ali. Abri a porta de casa, pousei as minhas chaves no móvel da estrada e a mala no sofá. Sentei-me e abri-a
“ Tenho algo para te dizer. Aparece logo às dez da noite no “Ibiza”, estarei à tua espera. xxx “
Fiquei a olhar para o pedaço de papel que tinha nas mãos, confusa. Quem quer que fosse sabia onde eu morava, e tinha algo a dizer. Por um lado poderá ser perigoso, mas pensando bem, ninguém me ia magoar no meio de tanta gente. Será que é alguém sobre alguma informação da minha mãe? Será um parvalhão qualquer que se lembrou de querer brincar? Ou… o rapaz do cabelo encaracolado?
Vou lá estar sem sombra de dúvida, prefiro arriscar do que ficar em casa a pensar quem poderia ter sido. Não sinto medo nem receio, apenas ansiedade e curiosidade, o que deve parecer estranho visto que me vou encontrar com alguém que não conheço e sabe onde eu moro. Olhei para o relógio, era seis da tarde, parece que vou ter que esperar até às dez para ver o que acontece.

~4 horas depois~

Tirei o carro da garagem, em direcção ao centro da cidade, onde se encontrava o tal bar. Estacionei perto da entrada, sai do carro e olhei para trás de mim, pois notei uns parvalhões parados a admirar-me. Não lhes dei conversa e entrei. Começo a pensar que as pessoas daqui não dormem, os bares estão sempre cheios até às tantas da madrugada, e pelo que vejo este não é excepção. Estava cheio lá dentro, mal se podia andar. Sentei-me numa mesa livre encostada a uma parede, e fiquei a observar as pessoas a dançar, à espera. Passou-se uma hora… duas… e eu no mesmo sitio. Vários rapazes tentaram a sua sorte comigo, mas não deu em nada. Estava farta, aquela espera estava-me a matar aos poucos, provavelmente foi um atrasado que se lembrou de fazer uma piadinha de mau gosto. Senti-me um pouco gozada, e revoltada com o dia que foi hoje.
"Só podem estar a gozar comigo, uma noite perdida, um dia horrível." sussurrei.
Dirigi-me ao bar e pedi um shot… depois outro… e mais outro. Sabia tão bem esquecer da porcaria que temos de lidar todos os dias, e mesmo não sendo esta a forma mais correta de o fazer não via outro meio. Adorava a música que estava a passar agora, “wake me up – avicci”, para além de mexida era inspiradora e tinha um toque country, adorava-a mesmo! No meu estado meio embriagado não resisti em ‘saltar’ para a pista e dançar ao som da música. Mexia o meu corpo à batida da música, passava a mão lentamente pelo meu cabelo, sentia-me estupidamente contente e por mais que soubesse que era devido ao álcool queria cair na fantasia de estar feliz por umas horas, como era bom estar a sentir-me assim.
A música terminou mas logo a seguir vieram mais e mais músicas com elas vieram mais bebidas e eu só queria aproveitar o momento e divertir-me. Notava vários olhar sobrepostos em mim, se tivesse num estado normal estaria incomodada mas assim desta maneira não, estava mais focada na música.
Repentinamente sinto umas mãos na minha cintura e paralisei, uma coisa é olharem outra é tocarem-me. Estava de costas para a pessoa, ela aproximou-se do meu ouvido e sussurrou-me:
"Obrigado."
A sua voz era rouca e bastante sensual e o seu toque fez-me estremecer. Era ele, estava ali mesmo atrás de mim com as suas grandes mãos na minha cintura. Depois de dizer aquilo, viro-me de frente para ele, para poder agora apreciar bem a pessoa que me tocava. Olhei para os seus grandes e lindos olhos verdes, ele estava a sorrir, como o seu sorriso era perfeito e querido… querido pois formava umas covinhas de cada lado. O rapaz do cabelo encaracolado estava agora à minha frente… 

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