Capítulo 20

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Capítulo 20

"A chave."

Não podia ser, a chave? Para que é que ele queria a chave? Ou melhor, como é que a minha mãe tinha uma coisa que lhe pertencia? O que é que me está a escapar aqui? Quando finalmente pensei que não iria ter mais dúvidas, elas aparecem com mais força.

"A chave?! " questionei admiradíssima.

" Sim, ela foi-nos roubada pela tua mãe."

Quando ouvi a sua voz rouca pronunciar ‘tua mãe’, lágrimas formaram-se nos meus olhos, mas evitei a todo o custo que elas se prolongassem. Falarem da minha mãe era uma das minhas fraquezas, e não era do meu agrado que ele descobrisse isso. Nada lhe disse, limitei-me a conter toda a vontade de chorar, e permaneci calada. Às vezes, a melhor resposta é o silêncio.  Eu não sei se o que ele me diz é verdade, indiretamente ele chamou a minha mãe de ladra. Apetecia-me responder-lhe à maneira, mas não tenho forças para começar uma discussão agora. Eu não confio nele ao ponto de lhe entregar algo deixado pela minha mãe.

"Bem… Visto que sabes o que eu procuro, deverias…"

"Não." interrompo-o" se eu a tiver comigo, não te vou dar. " não lhe vou dar certezas já que a tenho.

A sua expressão mudou. Ele estava zangado, furioso, só lhe faltava deitar fumo pelas narinas.

" Tudo bem."

O quê?

" Tudo bem?" repeti, de forma a que ele me explicasse o que acabou de dizer. De tudo o que me passou na cabeça, este ‘tudo bem’, não foi de certeza uma opção.

"Sim Lia. Não te vou forçar a nada. A escolha é tua." falou, o seu olhar contradizia o que ele estava a dizer. Parecia que na sua boca saí uma coisa, mas nos seus olhos estava escrito outra.

Na minha cara só faltava estar desenhado um grande ponto de interrogação, porque eu simplesmente não estava a entender a sua atitude. Pensei que ele me ia exigir que lhe desse a chave, que me ia forçar a fazê-lo , o que iria ser inútil porque eu não funciono à força, nunca funcionei.
Os meus pensamentos foram interrompidos com o toque de telemóvel do Harry. Ele olhou para o ecrã e sorriu, depois olhou para mim e disse que ia atender, apontando para outra divisão. Detesto meter-me na vida dos outros, mas gostava de saber quem é era a pessoa que lhe estava a ligar e que lhe provocou tal sorriso. Rapidamente voltou a aparecer, já com a sua chamada terminada.

"Tenho que ir." falou.

Ele ainda me devia muitas explicações, mas já estou cansada, por enquanto, não quero saber mais nada. Foi uma bomba demasiado grande hoje de tarde.

" Claro… " não o estava a encarar, apenas andei até à outra divisão da casa, o meu quarto, e peguei no meu casacão. Vou dar um passeio.

Harry foi-se embora sem mais nada dizer, o que até foi bom, a vontade de falar desapareceu.
A cidade estava decorada com efeitos natalícios, em cada esquina, via-se luzes de natal piscando, crianças maravilhadas com todas as cores, e os pais rindo das suas reacções. Foi inaugurada na noite anterior a grande árvore de natal, todos os anos isso atrai ainda mais turistas à cidade. Não pensava em nada, foi como se neste momento desligasse os meus pensamentos, estava farta de pensar, penso demais. Se calhar é esse o meu problema… pensar de mais.

Ouvi música natalícia vinda do longe, provavelmente haveria um concerto hoje, pois estava a atrair multidões para lá. Segui a grande confusão, acabando por assistir um pouco. Esta banda não me é nada estranha. A resposta estava mesmo debaixo do meu nariz, odeio quando isto acontece! Acabei por ir para um lado com menos gente, estava demasiado abafado ali.
Calquei alguém sem querer, pedi perdão e logo reconheci aqueles olhos cor de caramelo.

The Key ||h.s||Where stories live. Discover now