Capítulo 9

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Capítulo 9

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" Para onde vais agora, assim vestida?"

Ela nada disse, apenas ajeitou os seus brincos prateados e deu um último toque no eyeliner que cobria os seus olhos sublimes.

" Responde-me." falei bruscamente. 
A sua boca continua fechada enquanto olha para mim numa tentativa de entender o meu tom de voz agressivo. Ultimamente tem sido assim, sai e nunca me diz com quem e para onde, e sempre pensei que nunca tivéssemos segredos.

"O que raio se passa contigo Lia?!"  a minha mãe pergunta " olha esse tom de voz sou tua mãe e tu não precisas de saber o que faço da minha vida sou maior e vacinada."
Nunca em toda a minha vida ela me tinha falado desta maneira, com tanta brutidão e arrogância. A minha boca formou um grande ‘o’ por momentos deixei de saber quem era esta mulher que se encontrava à minha frente. Dei um passo para trás e ela entendeu o quão intimidada fiquei e sentia no seu olhar que estava preocupada.
"Desculpa … "murmurou.
Eu não sabia o que lhe dizer, estou magoada com a forma que ela falou comigo, como se eu não fosse ninguém na vida dela.

"Eu não vou fazer nada de errado , apenas sair com amigas. Ando irritada ultimamente não devia ter agido contigo assim. " ela diz quando se aproxima de mim e passa a sua mão pela minha face. Não a repreendi e apreciei o seu gesto carinhoso. Algo nela estava diferente, ela mudou.
Um cheiro a fumo invade a casa e do nada, chamas aparecem queimando toda a divisão.
"Adeus filha…  " despede-se, e desaparece no meio das chamas.

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Sinto os meus olhos abrirem-se rapidamente, estava a transpirar por todo o lado. Mais um pesadelo. Impossível não deixar de sentir as lágrimas a caírem no meu rosto. Meto as minhas mãos no cabelo e encosto a cabeça na cabeceira da cama olhando agora para o teto. Fiquei assim por uns largos minutos até a minha respiração normalizar e parar de chorar abundantemente.
Já era um novo dia. Estava demasiado fragilizada para fazer o que quer que fosse, por isso sentei-me no meu sofá com uma tigela de cereais e fui ver televisão. Por incrível que pareça, não me importei nem insultei os programas, qualquer coisa servia agora. Uma angústia invade-me quando penso na minha mãe a desaparecer no meio das chamas, será que eu nunca vou ultrapassar isto?
Desligo a televisão, pousando agora a tigela na banca da loiça. Com o elástico que tinha no meu pulso faço um pompo despenteado no topo da minha cabeça, pego numa camisola branca larga que não me tapava um dos ombros e umas calças pretas. Sento-me de joelhos virada para a grande janela da minha sala, e por momentos lembro-me do Harry. A forma como ele olha por esta janela é intensa. Sempre gostei desta vista, ver tanta gente na rua, os grandes prédios e o transito a toda hora… e eu aqui sozinha. Por mais errado que seja, sinto saudade do vício nesta altura. Foi por isso que o comecei, por me sentir sozinha, acho que foi aí que comecei a destruir quem sou aos poucos. Quando o tomo, sinto-me feliz enquanto vagueia pelas minhas veias, sinto-me poderosa e com força para derrotar tudo e todos. Mas quando acaba , sinto-me pior do que estava antes de o consumir, mas por aquelas horas de relaxamento valia a pena.
Abanei a cabeça para que estas ideia do meu lado mais escuro se fossem, não quero voltar a essa vida de maneira alguma. Penso agora no momento que se passou ontem à noite e sinto as minhas bochechas arderem. Ele viu-me de roupa interior e beijou-me… Parece maluco de se pensar. Parece que ainda sinto os seus lábios carnudos em contacto com a minha pele e como fiquei excitada por minutos. Poderia ter impedido aquele momento, mas quando o beijei esqueci toda a merda da minha vida, foi como um entretenimento, uma distração melhor dizendo. Ele é a minha distração.
Para além do seu nome e do seu mau humor, não sei nada sobre o rapaz dos cabelo encaracolado, e pergunto-me o que ele já saberá sobre mim. Ele desperta algo em mim sempre que me toca, sempre que sinto as grandes mãos no meu corpo arrepios passam-me na espinha.
Olhei para o céu, estava nublado hoje, corro o risco de começar a chover,  mas a chuva nunca me meteu medo. Peguei numas sapatilhas e fui até ao outro lado da rua buscar um café e ir até ao parque principal. Sentei-me num dos muitos bancos de madeira e bebi aquele liquido azedo e quente, ficando por momentos relaxada sobre aquele assento. Como previa a chuva não tardou a cair, mas com uma intensidade que eu nunca pensei. As pessoas foram abrigar-se dentro das lojas e dos cafés, os carros já tinham o seu para-brisas ligado e eu permanecia sentada naquele banco.
Minutos depois estava completamente molhada, algo que disfarçou as lágrimas que me começavam a cair, o meu corpo tremia e sentia olhares em cima de mim, provavelmente de gente achando que sou maluca por ainda continuar aqui.
"O que é que fazes aqui com esta chuva?" uma voz rouca familiar questionou atrás de mim.
Não demorei a virar o meu olhar para trás e deparar-me com aquela figura alta de cabelos encaracolados. Ele estava ali. Queria falar, queria reagir, mas o meu corpo apenas tremia.

"Estás bem?" perguntou-me num tom de voz mais suave, como se tivesse preocupado. Senti algo quente a tapar-me as costas. O Harry retirou o seu casaco e colocou-me nas costas, o que me fez sentir mais quente.

"Anda comigo, vou tirar-te daqui." falou.

Ergueu a sua mão para mim e puxou-me para fora daquele banco. Estranhei a forma como o meu corpo lhe respondeu. Entramos dentro do seu carro preto, que não me era estranho. Cuidadosamente ele abriu-me a porta e ajudou-me a entrar no carro. Permanecia com a minha boca fechada, mas por dentro gritava. Depois de ele também entrar olhou para mim.

" O que estavas a fazer ali sentada com esta chuva? Olha só para ti estás a tremer por todos os lados e estás completamente encharcada! Vou levar-te para casa"
Continuei calada, só quero voltar para casa…

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Heyy! Eu sei que prometi por ontem o capitulo mas estava a trovoar e tive que desligar tudo. Se tiverem perguntas a fazer sobre a fic têm aqui o meu twitter https://twitter.com/caringharold (:

xxx

The Key ||h.s||Where stories live. Discover now