Capítulo 24

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Capítulo 24

"Lia…" Harry chamou-me. Caminhava em sentido  contrário ao seu carro, apenas me apetecia fugir, esconder-me e nunca mais ser encontrada. Como é que este rapaz entra assim na minha vida e me dá esperança que um dia eu vou conseguir amar alguém? Eu fechei-me do mundo durante muito tempo, demasiado até, e ele apenas chega e mostra-me uma realidade tão diferente. Eu sentia-me confusa, e uma visão obscura veio-me à mente. Via a minha mãe no meio das chamas, chamando por mim, pedindo ajuda, gritava o meu nome tão alto que a minha cabeça começou a doer. Ela estava a tentar fugir do fogo, mas ele acabou por apanhá-la. Ela gritava de dor, o meu nome nunca antes foi dito assim. Via nos seus olhos lágrimas.

"Mãe!" gritei, enquanto caia de joelhos no chão, com as minhas mãos a agarrar o meu cabelo tentando acalmar esta dor. Eu quero que esta imagem pare, não consigo suportar isto. As lágrimas caiam abundantemente, quanto mais as lágrimas que derramava, mais a dor aumentava. Parece tudo tão real, eu quero salvá-la, não aguento mais isto, porque é que estas imagens me estão a atormentar?! Uma imagem escura interrompe tudo, deixando agora a minha mente mergulhada num mar obscuro sem sentimentos, sem ninguém, e depois, volta ao normal.

Continuava no chão, o meu corpo estava completamente fora de controlo. A única coisa que conseguia sentir agora era culpa, por não ter ajudado a minha mãe, como é que transformaram um dos meus maiores segredos num pensamento?

"Desculpa mãe" murmurei no meio do meu ataque de choro que parecia nunca mais ter fim. Respirei fundo, levantando a cabeça e vendo o Harry com uma expressão apavorada no rosto. Os seus olhos estavam escuros, e por momento pareceu-me ver lágrimas formarem-se no seu rosto. Se antes tinha duvidas sobre como é que isto me acabou de me acontecer, elas foram todas respondidas agora.

“- Não gosto de usar o termo ‘anjo’, porque na realidade, eu não tenho asas nem uma auréola nem pratico atos que ajudem as pessoas. Mas o termo correto é anjo, e quanto a ser marcado não precisas de saber. – respondeu-me sem emoção. – Pensa um bocado, sempre que te acontecia algo estranho, eu estava lá. O teu descontrolo, o facto de ver os meus olhos mudares de cor, foram culpa minha, eu levei-te a fazer isso, mas não foi por querer, é uma parte obscura que eu nunca aprendi a controlar… (palavras ditas pelo Harry, no capítulo 19)”

Agora, mais do que alguma vez, o que ele disse faz sentido e se calhar eu nunca quis acreditar que ele realmente fazia isto às pessoas. Harry levou-me a pensar nisto, levou-me ao auge de sofrimento e de tolerância. Graças a ele, vivi novamente o pior momento da minha vida. Nunca outrora revelei como a minha mãe morreu, tinha vergonha de ser julgada pelo que aconteceu, mesmo que, no fundo do meu ser miserável, sabia que não poderia ter feito nada. Eu tentei, eu tentei com todas as minhas forças ajudá-la, mas fui levada por pessoas que me salvaram em vez dela. Pedi tanto para que a levassem em vez de mim, mas nada, levaram-me, deixando a minha mãe a morrer. Estávamos no sitio errado, na hora errada.
O meu olhar transmitia tudo o que estava a sentir agora: medo, tristeza, revolta, fúria, culpa. Acabou, não vou continuar assim, fraca e indefesa, perante ele. Coloquei-me de pé, ajeitei o meu cabelo, limpei as lágrimas e suspirei.

"Leva-me para casa." ordenei, com um tom autoritário e seco. Nem uma palavra de protesto saiu da sua boca ainda bem que assim foi. O caminho de volta a minha casa foi feito com num ambiente pesado e tenso. Apetecia-me dizer-lhe o quão o estão a odiar neste momento, queria entender como é que ele conseguia controlar assim a minha mente. Por vezes esqueço-me que tudo o que ele faz é surreal, ele próprio o é.

Chegados finalmente a casa, ele tentou dizer algo, mas simplesmente não queria ouvi-lo. " Adeus Harry " foi tudo o que disse. Abandonei a viatura alta e preta entrei no meu apartamento rapidamente e quando avistei a minha cama, as lágrimas que estava a aguentar caíram. Deitei a minha cabeça na almofada e fiquei ali, sozinha. Acabarei sempre por ficar sozinha.

(…)

Dois dias passaram depois daquele incidente, nunca mais falei com o Harry. Fechei-me em casa, deprimida. A véspera de natal era já amanhã. O meu pai mandou-me ontem um e-mail avisando que não iria passar a consoada comigo, nem sequer se deu ao trabalho de me ligar. Já não me surpreende de todo. Por outro lado, Lotti contactou-me, perguntando como estava, claro que menti dizendo que estava tudo bem, não queria envolve-la nisto. A sua família já tinha chegado e ela contou-me a reação do seu tio, foi bastante engraçado, deu para descontrair de todo o drama que estava a viver. Combinamos marcar um lanche depois do Natal.

Encontrava-me agora sentada perante a grande janela que Harry tanto admira. Qualquer coisa me leva a pensar no Harry, há sempre algo relacionado com ele em mim. Escondi a chave num sitio seguro, não sei o que se vai passar daqui em diante, tenho de estar prevenida para tudo. Estava a nevar lá fora, as pessoas estavam extremamente agasalhadas, podia ver as crianças brincarem com a neve do outro lado da avenida, como estavam felizes, tão pequeninas e inocentes, sem nada para se preocuparem. Sinto falta desses tempos, mas mesmo antes da morte da minha mãe, já eu andava em caminhos onde não devia. Toda a minha ‘destruição interior’ começou a partir do momento que conheci o Damon. O que será feito dele? Desde que ele foi retido, nunca mais ouvi falar dele. Com tudo o que se tem passado nem me tenho lembrado dele, nem quero.

Sinto-me perdida.

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OLÁÁ! Desculpem por não ter publicado tão cedo, tenho estado a pensar um pouco e a escrever a heartbeat affff ! Já agora, gostaram deste capítulo? Harry entrou na mente dela… mas há que entender agora se foi por querer ou sem querer… aquele rapaz!
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The Key ||h.s||Où les histoires vivent. Découvrez maintenant