Capítulo 31

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 Capítulo 31

-“ Haja o que houver” - Madredeus – cover by Diogo Piçarra. (porque também é importante ouvirmos música portuguesa, fica a dica (;)

“O que é que tu estás aqui a fazer?”

O meu batimento cardíaco acelerou, os meus músculos ficaram tensos, queria falar mas as palavras não se formavam, o meu corpo ficou sem reação possível. Mantive os meus olhos bem abertos, pestanejando constantemente, certificando vezes sem conta que estava a ver bem, que era mesmo esta pessoa que se encontrava à minha frente e que tudo isto não fazia parte de mais um pesadelo meu, porque se fizesse, eu queria acordar e era já. Passado tanto tempo, nunca pensei voltar a vê-lo, principalmente dentro da minha casa, nesta altura tão estranha e que me está a deixar louca. Porque é que está aqui? Como está aqui? São as perguntas que se formam na minha mente, mas não me atrevo a exigir respostas para elas, limito-me a ficar assim, olhando para esta criatura sem abrir a boca.

“Lia…”

Era mesmo ele, podia conhecer esta voz rouca e melodiosa em qualquer parte do mundo. Ele estava aqui, mesmo à minha frente. Um sentimento de nostalgia invadiu o meu ser assim que olhei para o verde intenso dos seus olhos, como já tinha saudades daquela tonalidade tão pura e que transportava tanto mistério, continua sendo a minha cor preferida. O seu cabelo encaracolado estava puxado para cima, mas mesmo assim, continuava com um aspeto divinal, tão belo e perfeito. Vestia as seus típicos jeans, uma t-shirt sem grandes efeitos, lisa e branca, deixando transparecer um pouco a sua boa forma física. O meu anjo está de volta.

“Responde-me.” O meu tom de voz era frio, queria que assim fosse, ele magoou-me tanto e só o facto de ele ter voltado não quer dizer nada. O Harry deu pequenos passos, aproximando-se de mim, mas eu recuei.

“Não fujas de mim por favor.” Suplicou-me. Por momento, no seu rosto, vi uma criança abandonada, perdida, que queria amor, queria afeto, mas que ninguém lho deu. Uma criança que lutava todos os dias para impressionar quem amava, mas todos os dias ganhava uma nova desilusão. Uma criança que foi forçada a algo terrível, que terá para sempre um peso na sua vida.

“O que é que tu queres?” tentei que o meu tom de voz se mantivesse firme, tentei suportar toda a vontade de chorar, por mais que me magoasse vê-lo assim, eu não podia ficar indiferente depois de tudo. Ele foi-se embora, ele deixou-me.

O seu olhar percorreu todo o meu corpo e voltou a encontrar-se com o meu. Ele voltou-se para a janela agora, ele e a janela. Nunca irei entender o seu fascínio por ela. Caminho até ele, tentando conter as lágrimas mais uma vez, mas é tão difícil, ele está aqui, ele voltou. Porquê? Estou a sofrer tanto por dentro, só a presença dele, consegue fazer-me ficar tão vulnerável. Permanecemos em silêncio, o que me estava a deixar extremamente irritada. Fala!

Diz qualquer coisa! Explica-te! Faz qualquer coisa, agora por favor não me deixes assim no nada, apenas abre a boca, quero ouvir a tua voz rouca, quero ver a tua face, quero abraçar-te e dizer o quão senti a tua falta, quero-te bem junto a mim, apenas diz algo…

“Belo quadro.” Disse, já em frente ao mesmo, no meio dos meus pensamentos nem dei conta que ele já não se encontrava a meu lado.”Foste tu que o fizeste?”

“Sim.” Respondi. “Mas não tentes desviar o assunto, ainda não me respondes-te.”

“Continuas a mesma…” sorriu.

“Gostava de poder dizer o mesmo de ti.” Ele engoliu em seco. “Podes começar a explicar o que é que estás aqui a fazer?”

Ele suspira, um suspiro profundo e lento, tentou sentar-se mas tudo estava de pernas para o ar e então permaneceu em pé, ajeitou o seu cabelo para cima e olhou para mim, começando finalmente a falar: “Vou ser sincero, eu vinha apenas ver como tu estavas, estou de regresso à cidade por uns tempos, mas quando cheguei aqui a porta estava aberta e bem, o apartamento estava neste estado.” Voltou a um tom frio e despreocupado, Harry e as suas mudanças bipolares.

The Key ||h.s||Where stories live. Discover now