Capítulo 7

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Capítulo 7

Ela paralisou , como se tivesse congelado, interrompeu o silêncio:
"Lia querida, há quanto tempo não te via? Olha como tu estás… estás igual a ela. Anda entra!"
Fez um gesto com a mão de forma a indicar que eu entrasse. Sorri e entrei. A minha avó foi em direção à sala e eu seguia-a de forma silenciosa.

"Querido temos uma visita" declarou com uma alegria na voz.

"Quem?"Perguntou ele sem retirar o olhar do jornal.

"Vê por ti mesmo."  falou a minha avó.

Ele lentamente baixou o jornal e olhou para mim, e arregalou rapidamente os olhos, endireitando os óculos como se não se acreditasse do que via.

"Abby?!"

Naquele momento o meu coração parou, como se tivesse levado uma facada. Desviei o meu olhar para o chão fazendo força com os punhos. Já fazia muito tempo que não ouvia alguém pronunciar aquele nome, e foi um choque ouvi-lo depois de tanto tempo. Abby, a minha mãe.

"Não avô , é a Lia."

Rapidamente ele se levantou e olhou bem para mim, para cada traço.
"Por momentos pensei estar a ver a tua mãe à minha frente… "disse com um tom desiludido. " estás tão crescida."
Abraçou-me levemente, um ato repentino, mas reconfortante. Sorri.

" A que devemos esta tão agradável visita?"questionou delicadamente a minha avó, sentando-se no sofá juntamente com o meu avô.

" Ahh… Eu, eu… estava de passagem e como sentia saudades vossas, passei por aqui" 
Notei pela expressão das suas caras que a resposta não tinha sido muito convincente , mas ele nada disseram a contrariar.

"A gente já almoçou, se tivesses dito que vinhas esperávamos por ti ." sorriu.

" Eu já comi" menti "não se preocupe."
 
Ficamos um pouco na sala conversando sobre como estavam as coisas, como era o sitio onde vivia, como estava o meu pai , conversa fiada." Avó , posso ir ao quarto da minha … mãe?"
Observei como o meu avô apertou de forma delicada a sua mão , como um incentivo.
"Vai querida… já passou tanto tempo." disse baixo o meu avô para ela" vai."

"Não consigo…" 

"Eu sei o caminho avó, se não se sente bem com isso eu não vou."

Ela sorriu e olhou para mim.

"Vai tu querida, eu fico aqui com o teu avó, precisas deste tempo também. Vai lá." 

"Obrigada" agradeci.

Coloquei-me de pé e sorri-lhes. "Volto já."

Eles sorriram como resposta. Subi as longas escadas e fui até ao fim do pequeno corredor, onde se encontrava o quarto da minha mãe. Pus a mão lentamente na maçaneta e rodeia, abrindo a porta. Olhei agora para a divisão que se encontrava à minha frente, a parede rosa clara com um papel de parede com flores atrás da grande cama de casal. Estava o grande espelho junto do guarda-vestidos branco. Do outro lado tinha a secretária com caixas debaixo de si, e em cima pequenas prateleiras com fotos e pequenos guarda joias. Dirigi-me até uma foto da minha mãe, situada nessas mesmas prateleiras. Nunca vi uma foto da minha mãe em criança com os meus avôs, é estranho. As unicas fotos que posso considerar mais antigas, são com o meu pai. E foi mesmo uma foto deles os dois que eu vi.
A vontade de chorar começava a tomar controlo de mim, agora que a via naquelas fotos e me lembrava o quão bonita era. Os seus cabelos claros e compridos e ondulavam nas pontas, os seus grandes olhos verdes e o formato do seu rosto tão parecido com o meu.
Inspirei fundo e olhei novamente para o quarto. Abri as caixas de arrumo e só havia papeis na altura que a minha mãe estudava, os guardas joias tinham pequenos colares e pulseiras sem valor. Revistei o guarda-roupa, debaixo da cama e nas gavetas das mesinhas de cabeceira. Nada! Voltei a repetir todo a procura tentando ver se algo me tinha escapado, como um diário ou uma pequena caixa escondida algures… nada! Por teimosia até tentei meter a chave na porta do guarda-roupa e na porta , ela nem sequer entrava.

" Nada…" murmurei .

Sentei-me na beira da cama, um pouco decepcionada. Era o único sitio que pensei poder ter alguma coisa , a única referencia que tinha… nada! A vontade de desistir era muita agora, estava irritada e triste.
Desci as escada em direção à sala, onde os meus avós se encontravam a ver televisão. "Obrigada por me ter deixado ir lá avó… "

"De nada querida, ficas para jantar?" perguntou.

"Ah, desculpe mas noutro dia, queria voltar para casa antes de anoitecer."

"Claro."

Despedimo-nos e quando estava perto da porta ouvi a sua voz soar. "Lia… O que procuras?"
Engoli em seco, parecia ter sido tudo demasiado fácil até aqui. Nada disse ela aproximou-se de mim e olhou-me profundamente nos olhos , depois passou a sua mão pelo meu cabelo.

" Não te metas nos caminhos da tua mãe , não acabes como ela, opta sempre pela verdade."

"Caminhos… Mas que caminhos?! "perguntei confusa.

"Seja o que for o que procuras, cuidado sim? Este mundo não é o que parece ser." 
Não sabendo o que dizer, assenti com a cabeça e saí pela porta não dando lugar a mais dialogo. Devia de ter insistido para que ela me contasse em que caminhos foram esses, mas nem eu me sentia preparada, tinha sido muita coisa num só dia e sinceramente o que mais queria era chegar a casa , tomar um longo banho e dormir.
A minha vida transformou-se num quebra-cabeças… 

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