Capítulo 27

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Acordei com a garganta seca. Levei uns segundos para me situar e lembrar do que aconteceu ontem. A camisa de Bellamy cobria meus braços, e ele estava deitado atrás de mim, um braço embaixo da minha cabeça servindo de travesseiro e outro firme ao redor da minha cintura, me pressionando contra cada músculo do seu corpo.

Um filete de sol entrava pela brecha da madeira na janela, indicando que já era dia. Assim que me mexo para tirar o braço dele de cima de mim, ele acorda.

— Bom dia — sua voz estava pesada de sono. Ele tira o braço da minha cintura, e eu me sento na cama, tirando sua camisa de cima de mim. Isso tudo era estanho demais, mas eu me sentia bem.

— Bom dia — respondo olhando por cima do ombro. Não sabia como olhar ou o que falar agora. Me viro para ele, e sua cara de sono amassada e tranquila me alivia. Ele me passava essa sensação. Nada com ele era tenso ou pesado. Eu calço minhas botas e fico de pé.

— Tem um banheiro nos fundos. Não deve estar lá aquelas coisas, mas caso precise — ele diz quando se senta e veste a camisa.

— Ok. Vou lá — eu digo, pegando minha mochila.

— Espero você lá fora. A gente come enquanto dirige — ele avisa antes de eu sair pelo corredor para os fundos.

*     *     *

Essa era a única vantagem do mundo hoje em dia: dirigir sem trânsito.

Depois de várias horas na estrada, paramos em frente a um prédio de dois andares. Havia poucos caminhantes, e Bellamy conseguiu bloquear o portão com o carro.

Foi fácil chegar ao último andar porque não precisamos entrar, fomos pelas escadas de incêndio que tinham ao lado do prédio. No terraço havia várias placas solares. Algumas Bellamy desmontou lá mesmo e tirou o que precisava.

— Sério? — eu pergunto, segurando a pequena peça de metal nas mãos — Você veio até o inferno atrás disso?

Era uma pequena peça que cabia na palma da minha mão, que servia para ligar uma placa a outra. Bellamy tentou me explicar como funcionava, mas eu não entendi praticamente nada. A coloquei no chão com as demais.

— O diabo está nos detalhes — ele diz, agachado, olhando para mim com os olhos apertados por causa do sol. Ele tinha acabado de tirar o vidro de uma das placas. Essa era a última, então provavelmente iriamos embora depois disso.

Essas deviam ser as últimas semanas de verão, logo o inverno chegaria. Aqui de cima dava para ver tudo, e se não fosse pela cidade destruída e pelos caminhantes, seria uma bela visão. Um vento fresco soprou, bagunçando meu cabelo. Não tenho como não sorrir. Mesmo em meio de tanta coisa ruim, a natureza ainda cumpria seu papel.

— O que foi? — pergunto quando vejo Bellamy ainda abaixado, me olhando.

— Eu gosto disso — ele falou.

— Disso o quê? — pergunto e ele se levanta, vindo até mim e parando na minha frente.

— De ver você sorrindo — ele sussurra, com a língua umedecendo os lábios. Sua mão toca meu rosto, e minha respiração estremece quando seus lábios roçam no canto da minha boca.

Eu inspiro e permaneço imóvel por um momento, sentindo suas mãos suaves me puxando de encontro ao seu corpo. Ele roça seus lábios na minha boca antes de apertar os lábios contra os meus. Quando a ponta da língua dele tocou meu lábio inferior, eu abri a boca, sentindo sua língua quente se enrolar na minha. Era tão bom, tão calmo, mas eu não podia fazer isso com ele, não depois de ele ser tão bom comigo.

Depois do Fim | Negan | LIVRO UMWhere stories live. Discover now