Capítulo 4

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Victor

-Victor, tô falando contigo.

Voltei meus olhos perdidos observando o nada para a realidade em que estava agora. Nem sabia quanto tempo eu tinha apagado total da conversa, mas pelo tom de voz da minha noiva, eu sabia que foi por muito tempo.

-Tô ouvindo, Karina.

-Não parece. Quando eu falei que a gente precisava sair pra algum lugar eu não me referia a comer no shopping.

-A gente tá junto, não era isso que você queria?

-Deixa pra lá... Como andam as coisas no projeto que você está desenvolvendo com meu pai?

- Andam bem, seu pai me deu bastante liberdade pra criar e dispensar o que eu não acho que vale a pena. No geral acho que vai dar certo.

-Eu já sabia, você é o máximo.

Ele falou se juntando mais a mim. Karina era uma moça muito bonita, filha e única herdeira de um famoso empresário, que também era meu chefe. Já nos conhecíamos antes de eu terminar meu namoro, mas nunca tinha rolado nada. Eu só tinha olhos pro Bernardo, ela era só mais uma que ás vezes eu percebia que dava em cima de mim, e eu gentilmente dispensava. Com o rompimento veio a minha tristeza e a dor que eu tentava disfarçar nas horas de trabalho, ela em uma das muitas visitas que fazia ao pai, acabou percebendo isso e assim começamos a nos aproximar. Aquela morena linda acabou se tornando um bote salva vidas ao qual eu me agarrei pra não afundar, e quando a maré baixou, eu me vi na situação que estou hoje. Noivo e sem amor nenhum.

Não sabia mais quando tempo ia agüentar levando aquela vida de hétero comprometido e prestes a se casar. Era broxante até pensar nisso. Tentava ver pelo lado de que se levasse isso adiante ia ter a família que eu sempre sonhei, e que o Bernardo nunca ia conseguir me dar, ter filhos e dar continuidade ao sangue que corria em minhas veias. Mas sempre que colocava a cabeça no travesseiro, depois de um sexo broxante e nada satisfatório com minha noiva, eu queria tê-lo ali comigo.

Ficamos o resto da tarde no shopping, comemos ali e fizemos algumas compras. Pessoas passavam por nós e nos víamos como um casal normal, sem problema e que se amava muito, era essa a imagem que deixávamos transparecer, mas na verdade só eu sabia o que se passava dentro de mim. Eu era gay, disso não tinha mais duvidas ou vergonha em assumir, mas, no entanto, estava noivo de uma mulher. Me sentia preso dentro de mim mesmo.

No dia seguinte apareceu uma criatura que só ela era capaz de me alegrar e me tirar dos pensamentos ruins, minha irmã. Logo depois que o Bernardo foi embora do apartamento, ela ficou uma fera comigo por ter deixado que isso acontecesse e até parou de vir me visitar por alguns meses. Acho que aquela li amava o Bê na mesma proporção que eu.

O único problema era que ela e Karina não se davam muito bem, sempre que se encontravam havia um enfrentamento entre as duas, por diversas vezes elas quase chegaram as vias de fato no chão da minha sala, o que certamente não era bom pra mim.

-Viiictor!

Ela me cumprimentou com seu jeito costumeiro. Saltitando me deu um beijo, um abraço apertado e entrou. Nesse mesmo instante a Karina estava saindo do quarto onde havíamos passando a noite. Em seu lindo corpo tinha uma camisola de seda vermelha, que eu mim chamou tanto a atenção quanto ter uma televisão ligada passando um documentário sobre coalas. Não gosto de coalas.

-Não sabia que ela vinha hoje.

Karina falou em seu tom de desprezo, ela não gostava da minha irmã e o sentimento era recíproco. Tentava não culpar minha irmã e muito menos a Karina por isso. Eu não também não gostaria de saber que meu irmão não estava feliz vivendo a vida que vivia. Ou até mesmo saber que existe uma pessoa torcendo pra que seu novo relacionamento acabe como minha irmã já tinha feito varias vezes.

Quando o Amor Prevalece - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora