Capítulo 31

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Victor

-Senta aí.

Disse, de forma meio indiferente, ao meu pai que continuava parado em pé na minha frente, esperando que eu falasse algo. Eu não fazia idéia do que ele queria comigo, sua postura estava estranha e ele nem de longe parecia estar confortável quando se sentou ali conosco e nos observava.

-Eu vou falar com meus pais. – Disse o Bernardo tentando nos deixar às sós.

-Não. Fica aqui. Não temos nada a esconder, você é meu marido e esse é o nosso momento. Se ele quiser falar, vai ter que ser com você aqui.

-Continua o mesmo bocudo e respondão de sempre. – Meu pai falou nostálgico.

-Viu só como ser um viadinho não me mudou em nada?

Eu falei amargo e me lembrando que ele usara essas mesmas palavras ao me definir anos atrás, pelo telefone, sem nem ao menos querer olhar na minha cara.

-Victor! – Bê me repreendeu.

-Só estou repetindo o que ele falou uma vez. Que eu era um viadinho, e que eu tinha morrido para ele, não foi isso? – Perguntei olhando do fundo nos olhos do meu pai.

-Falei. Falei sim e hoje, nesse dia que deve ser especial pra você, eu vim pedir desculpas. Sua mãe não estava certa, eu não estava certo, mas agora eu reconheço que exagerei. Não tinha o direito de falar o que eu falei. Você é meu filho, sangue do meu sangue. Eu achei que você de alguma forma fosse deixar de ser o que era.

Meu pai falou, me deixando em estado de choque e sem saber como reagir. Eu senti sinceridade dele, de verdade, não era algo falado só da boca pra fora, mas isso não alterava tudo que ele tinha feito e me falado. Se ele estava achando que tudo ia se consertar, ele estava muito enganado.

-Agora é fácil falar umas palavrinhas bonitas, pedir desculpas e achar que tá tudo bem... sinto muito, mas não está. Tudo isso não vai fazer que o tempo perdido volte atrás. – Falei recuando e disposto a não entregar os pontos.

-Eu sei que pra você não deve ser fácil, pra mim também não é, mas eu queria de alguma forma tentar começar de novo. Sinto falta do meu filho, demorou até que eu admitisse isso, mas é a verdade.

Ele disse, olhando pra mim de forma cuidadosa e um pouco apreensiva. Ao redor, os outros convidados nem imaginavam o que estava acontecendo ali, pois se divertiam e conversavam normalmente. Mas eu estava muito ciente, tão ciente que não pude acreditar no que estava ouvindo.

-Como é que é? Começar de novo? Santa hipocrisia! – Tomei cuidado pra não levantar muito a voz no meio das pessoas ali. – Vocês praticamente me abandonaram por quatro anos, sabe o que é isso, quatro anos! Sem nenhuma ligação, sem nenhuma noticia... quatro aniversários meus sem nenhum parabéns. Você tem idéia do que eu senti?

-Victor. – Bernardo chamou minha atenção, fazendo eu me virar pra ele e olhá-lo antes que eu acabasse chorando. Dessa vez um choro nada parecido com aquele que tive antes. – Esse dia é tão feliz pra gente, pra que ficar remoendo isso?

-Eu não consigo, Bê.

-Quantas vezes a gente se perdoou e seguiu em frente? Quantas vezes a gente achou que nunca mais ia dar pra olhar um na cara do outro? E agora estamos aqui...

-Eu não consigo.

Repeti de novo a ele que segurava meu rosto com as mãos e secava alguns lagrimas que insistiam em descer. Era magoa demais, rancor de mais e mais uma mistura de todos aqueles sentimentos ruins que senti logo depois que tudo aconteceu.

-Consegue sim. Por mim, por nós, por você mesmo. Ele é seu pai, passou pro cima de algumas coisas e tá aqui agora te aceitando, aceite ele também.

Quando o Amor Prevalece - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora