Capítulo 35

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Bernardo

Mais ou menos no meio daquela mesma noite, os pensamentos torturantes voltaram com força total, mas ao invés de continuar me torturando como vinha fazendo, eu comecei a ver umas coisas que até então estavam presas em algum lugar da minha mente. Lá no hospital, eu tinha ficado verdadeiramente encantado e bobo pelos filhos da Lari e do Lucas, agora meus sobrinhos, porque então eu insistia em falar que não conseguia gostar de crianças? Tinha ficado nítido que, ao ver aquelas carinhas, algo nasceu dentro de mim, quase como uma adoração, não sabia explicar. Algum sentimento existia, isso era fato. Eu poderia julgar o que estava sentido por ser amor? Tudo era muito novo, ser tio era novo pra mim, mas acho que sim. Eu já amava os gêmeos Manuela e Mateus. Até que ponto esse novo sentimento que julguei ter por crianças seria bastante o suficiente pra eu ter meu próprio filho? Eu conseguiria amá-lo da forma incondicional que via os outros falando por aí? Talvez se eu conseguisse responder todas essas perguntas, eu teria a solução do meu problema nas mãos.

Resolvi levantar quando meu corpo tinha começado a doer de tanto ficar deitado na mesma posição e pensando coisas que já não faziam sentido nenhum. Fui até a cozinha e fiz o café forte que eu sempre gostei de fazer. Lembrei-me de mais tarde ligar pro mestre de obra e ver como estava os últimos detalhes da nossa nova casa, pois me parecia que esses últimos detalhes estavam demorando mais que a própria casa. Sentei ali e permaneci até que o dia começou a clarear, sabia que tinha que ter uma conversa com o Victor, e saber que essa conversa estava se aproximando, só piorou ainda mais meu embrulho no estômago.

Fiquei sabendo o momento exato em que ele acordou quando ouvi ele chamar meu nome meio distante e sonolento lá do quarto. Logo ele apareceria ali e eu teria que encará-lo e tomar uma decisão da qual eu ainda não estava certo.

-Achei que tinha perdido hora e já estava me vestindo pra trabalhar.

Ele falou, coçando os olhos e cambaleando só de cueca em minha direção, até me afastar de perto da mesa e se sentar em uma das minhas pernas. Fazia tanto tempo que ele não fazia isso que eu fiquei até meio assustado com essa atitude, então, pra aumentar minha surpresa, ele veio beijar meu pescoço e ficou ali por minutos incontáveis, nos trazendo sensação de bem-estar. Virei meu rosto pra ele, no mesmo momento em que ele me puxou para um beijo lento e demorado.

-Desculpa. – Ele disse quando me soltou.

-Pelo que?

Perguntei, pois o errado naquela história era eu, bom, pelo menos eu achava.

-Por insistir em uma coisa que você não tem obrigação de querer, não posso virar a cara com você por isso. Você tem razão e eu não posso trocar o certo pelo duvidoso... Não posso arriscar perder uma coisa que eu já tenho, e amo mais que tudo, por outra que eu posso nunca ter. É você que eu quero, e se seus planos não são os mesmo que os meus, nós precisamos nos adaptar a essa realidade. Talvez você mude de idéia no futuro, mas o que eu não posso fazer é impor isso a você como vinha tentando fazer. Tô cansado disso, dessa distância entre a gente, sinto sua falta. A gente lutou tanto pra ficar junto.

Como sempre, ele sendo o que se desculpava, o que cedia e o que forçava a luz no final do túnel a aparecer. Não me surpreendi em nada ouvir aquilo dele, ele era, sobretudo, tão perfeito que aceitava minhas imperfeições e chiliques. Mas eu precisava fazer minha parte também, um relacionamento não funciona só com uma parte cedendo. 

-Me responde uma coisa, o que mudaria entre a gente, sabe, caso tivéssemos um filho.

-Seriamos uma família. - Ele respondeu sem hesitar.

-Não isso, Victor. O que mudaria na nossa forma de relação. O quanto esse amor que você sente por mim seria prejudicado com a chegada de uma criança?

Quando o Amor Prevalece - LIVRO 2Where stories live. Discover now