Capítulo 36 - PARTE II

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Bernardo

-São filhos de um amigo, mãe. – Foi o melhor que consegui naquela situação.

-São lindos. Meu Deus, olha esses sorrisos! Como eles se chamam?

-Guilherme e Arthur.

-E porque você tem fotos dos filhos dos seus amigos no celular? – Ela me questionou, se tocando de que não haveria motivos pra isso.

-Eh...ué, ai mãe, sei lá, eu...nós gostamos dos meninos.

Eu gaguejei e ela percebeu. Mãe sempre sabe quando o filho está contando mentira, né. Percebendo também que eu não tinha convencido nem um pouco, Victor fez eu me levantar, se levantou também e tomou a decisão por nós.

"Conta" ele disse próximo ao meu ouvido.

-Mãe, então... Esses meninos, na verdade...

-Nós entramos na fila de adoção para adotá-los. – O Victor completou vendo que eu não conseguia terminar.

-Que? Como assim?

Sua expressão na hora me fez lembrar o dia que lhe contei que era gay. Ela, que estava de pé esse tempo todo, se sentou no automático e ficou nos olhando. Talvez esperando uma resposta ou que nós falássemos que era brincadeira.

-Seu pai sabe disso? – Ela perguntou. Fiquei impressionado como tudo naquela casa envolvia meu pai.

-Não. Na verdade ninguém sabia ainda... Eu e o Victor não queríamos contar.

Não falamos mais nada, até porque ela não deixou, saiu apressada dali deixando a gente sem saber o que pensar. Quando voltou, trazia consigo meu pai que pela boca suja deveria estar comendo.

-O que foi? – Ele perguntou.

-Bê ou Victor, vocês poderiam repetir isso?

Ela nos pediu. Por um momento, e pelo tom de sua voz ao nos pedir aquilo, até pensei que estava fazendo uma coisa errada.

-Á algumas semanas entramos numa fila de adoção e vamos adotar, pai. – Falei mais uma vez, embora eu tenha dito tempo pra me acostumar, dizer aquela frase sempre me causava um arrepio, mas um arrepio bom.

-Uma criança? – Ele perguntou alarmado.

-Não, uma tartaruga... É, uma criança, pai, na verdade, duas pra ser mais exato.

Nesse momento minha mãe deu a ele o celular para lhe mostrar o que tinha visto um pouco antes.

-Eu não sabia que vocês tinham essa vontade. Caramba! Não sei nem o que falar. Quer dizer que eu vou ser avô? Inacreditável.

-Calma aí, pai, mãe. Não é bem assim como vocês estão pensando, essas coisas são complicadas... Vai demorar e pode nem acontecer. – Fui obrigado a cortar sua empolgação, igual fizeram conosco quando achamos que seria mais fácil.

-Porque? – Meu pai perguntou.

-Aqui é Brasil. Podem não nos achar aptos, mesmo nós sendo, podem não ir com nossa cara. E se tudo der certo, ainda pode demorar mais de um ano.

Ele ficou um bom tempo pensando naquilo que eu tinha dito, talvez absorvendo tudo e finalmente caindo na real. Eu podia entender sua possível frustração, comigo foi exatamente assim e olha que eu já estava mais ou menos preparado. Mas, depois de um tempo, ele voltou a falar com uma voz animadora.

-E se... Sei lá, alguém der uma ajudinha? – Perguntou.

-Ajudinha? Como? – Indaguei estranhando sua mudança de postura.

Quando o Amor Prevalece - LIVRO 2Where stories live. Discover now