Quando o Amor Prevalece - LIVRO 2

Capítulo 24

Victor

Eu sempre ficava nervoso diante daquele homem, não importava quantos anos tenham se passado, ou quantas vezes nós nos encontramos num jantar entre sogro e genro ou até mesmo aquele tempo em que ficamos no hospital. Era como se eu fosse um simples súdito diante do rei da Inglaterra, lá ainda existem reis? Sei lá... Talvez seja o fato dele emanar poder até sentado em sua cadeira sem fazer nada, ou de ter dinheiro pra comprar até a cor verde dos meus olhos. Heitor Sanchez, o pai do Bernardo estava do outro lado daquela mesa analisando meu currículo e me olhava com uma cara indecifrável. E o fato de estarmos em seu ambiente, tudo se tornou ainda mais angustiante.

Meu namorado havia me informado que a empresa de seu pai estava abrindo o processo de entrevistas para uma nova vaga que ficara em aberto, e que eu era um dos candidatos a essa tal vaga. Na hora minhas pernas tremeram e eu pensei em recusar. Quem precisa de emprego? Certamente não um cara que morria só em ouvir o nome do sogro, e que agora poderia ser chefe também. Eu já vi essa historia antes. Sogro barra chefe estava prestes a se tornar um clichê na minha vida. Percebi que estava eufórico e pensando demais quando meus pés começaram a batucar o chão da sua sala, parei imediatamente, respirei fundo três vezes e desejei ter um calmante no bolso.

-Então, Victor, estou vendo aqui que você possui muitas qualificações. Até mais que eu imaginava.

Ele falou, embora eu poderia jurar que não saberia nem soletrar a alfabeto se ele me pedisse. A, B, C, D. Comecei mentalmente pra ver se me acalmava, mas fui interrompido.

-O Bernardo deve ter lhe dito que é um cargo que vai exigir muita responsabilidade e requer muita confiança. Você acha que está preparado?

A de amor. B de Bernardo. C de coração. D... D de que mesmo? Tentei me concentrar outra vez, ele tinha me feito uma pergunta, mas eu estava tão nervoso, como responder sem gaguejar? Preparado? Como estar preparado se eu não consigo nem falar com o chefe direito?

-Senhor, eu posso lhe garantir que me esforçarei ao máximo pra não decepcioná-lo. É um desafio enorme, eu sei, mas se o senhor me permitir eu gostaria de enfrentá-lo... Enfrentar o desafio, não enfrentar o senhor.

Droga! Ele disfarçou o riso com uma tosse, e voltou ao seu ar sério. Perfeito, o namorado do seu filho e seu novo funcionário é um idiota.

-Bom, gosto de pessoas assim, persistentes e sem medo do desafio, eu era muito assim quando tinha sua idade. Acho que posso confiar em você, afinal nos conhecemos á tantos anos. E também acho que você não prejudicaria uma empresa que pode ser sua, não é mesmo?

-Han pai?

O Bernardo, que eu já tinha me esquecido que estava todo o tempo ali, perguntou antes mesmo que eu o fizesse. O pai antes de responder se virou pro filho me obrigando a seguir seu olhar. Os dois tinham uma sala conjunta, mas desde que eu entrara ali tentei ao máximo não olhá-lo, nervosismo e distração não são uma boa mistura.

-Ué, vocês já moram juntos, e acho que isso vai ser por muito tempo, no futuro você, Bernardo, vai herdar tudo isso aqui... Logo o que for seu, irá ser dele, e vice e versa.

-Não tinha pensado nisso, pai.

-Mas eu pensei e a idéia me agrada bastante, até mais do que eu jurava pensar. Ele me parece ter mais faro empresarial que você, Bernardo. Juntos vocês poderão formar uma grande dupla.

Empresa? Dinheiro da empresa? Dono de negócios? Eu queria poder falar que não queria nada disso. Nunca estive de olho em nada. Bom, se ele quisesse fazer um documento passando o Bernardo pro meu nome, já era outra história.

-Voltando... acho que já encontrei o cara que eu estava procurando. Victor, você pode cuidar das papeladas do contrato? Exames para sua admissão aqui, são procedimentos de praxe.