PRÓLOGO

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Samos Stilakos se apoiou no balcão do bar. Uma expressão insatisfeita encobria seu rosto aborrecido e belo. Por que se deixara persuadir a comparecer ao Baile Anual de Máscaras do Banco Sirius? E onde estava a mulher que deveria recepcioná-lo?

Nada poderia salvar a situação, ele pensou, ob­servando a multidão de personagens coloridos.

Ele sentiu uma vontade incontrolável de fugir, de pegar um avião. Para algum lugar. Qualquer lugar. Para uma ilha deserta ou uma montanha no Peru, onde a única música fosse o som do vento. Qual­quer lugar longe deste barulho insuportável.

Ele olhou com raiva para a decoração do salão. Apesar do desempenho do banco demonstrar a imi­nência da falência, nenhum gasto fora poupado. Sob o brilho dos candelabros, a equipe do Banco Sirius esbanjava alegria, numa agitação quase delirante.

Era uma pena que eles não se dedicassem à reali­dade que o banco encarava.

Uma mulher-gato saiu da multidão e colocou as mãos nos ombros dele.

— Quer dançar, bonitão? — Os olhos dela bri­lhavam de sedução.

Sexy, ele tinha que admitir. Mas os diretores do banco achavam que ele sucumbiria a esse truque?

— Eu não danço — ele respondeu, afastando as mãos dela. Ela murmurou algo sobre deuses gregos antes de se misturar à multidão, mas Sam não en­tendeu.

Ele imaginou se fora ela a razão de terem lhe oferecido uma suíte. Teria a tal mulher a função de comovê-lo? Não seria a primeira vez que ofereciam a ele esse tipo de tentação.

Deveriam ter feito o dever de casa, ele pensou com uma careta. Se decidisse salvar o banco, eles aprenderiam.

Na Organização Stilakos, a ética era fundamental.

— Desculpe, senhor Stilakos. — Stephen Fletcher, o executivo sênior de recursos humanos do Sirius, não estava convincente em sua fantasia de gângster. — Não sei o que pode estar atrasando ele. Está gostando da festa?

Sam olhou incrédulo para o executivo corpulento.

— E assim que costumam fazer negócio no Sirius? Convidam investidores em potencial para as festas dos funcionários?

Fletcher olhou para ele com seriedade.

— Claro que não. Só você. Queríamos que enten­desse a Política de Pessoal do Sirius. Queremos que nossa equipe trabalhe. — Ele bateu no balcão para enfatizar a palavra. — Isso significa dar a nossos funcionários muitas oportunidades para diversão.

A boca de Sam se retorceu com humor.

— É sério? Achou que isso me convenceria a aplicar meu dinheiro em seu banco?

— Não apenas eu. Outra pessoa sugeriu que mostrássemos a, face humana do Banco Sirius. Ela achou que, se você visse os maravilhosos homens e mulheres cujo sustento está em jogo... — Por um segundo alarmante, ele quase segurou na lapela de Sam.

Sam ouviu pasmo. Não era de se admirar que o Banco Sirius estivesse com problemas. Como um banco funcionava com esta filosofia informal?

Ele levantou as sobrancelhas, zombeteiro.

— E quem é o gênio que planejou me impressio­nar com o charme de toda a equipe?

Pela primeira vez desde que conheceu Samos Stilakos, Fletcher sentiu um fio de esperança.

— Ellie O'Dea — ele respondeu ansioso. — Sua acompanhante. Ela trabalha para mim. Você vai gostar dela. E encantadora. E muito bonita também. Não vai se decepcionar. Ela já deve ter chegado. Ellie não costuma se atrasar. Espere!

Ele ficou na ponta dos pés para procurar Ellie no meio das mulheres fantasiadas. Ao se virar, depa­rou-se com a frieza dos olhos de Sam Stilakos. 

Stilakos olhou para ele com cortesia, mas o sorri­so causou um frio na espinha de Fletcher.

— Agradeço sua ajuda. Fletcher, não é? Já vi o suficiente. Não quero que perca a festa.

Fletcher sacudiu a cabeça, consternado.

— Mas eu queria apresentá-lo... — Ao se dar conta da derrota, ele encontrou o olhar implacável de Samos Stilakos, curvou os ombros e se afastou.

Sam observou o baile, desiludido.

O desafio do Banco Sirius teria sido interessante para ele. O fraco desempenho no mercado e a fal­ta de lucros o tornavam uma oportunidade atraente para a Organização Stilakos. Poderia comprá-lo por uma ninharia, fazer uma mudança radical em sua estrutura e, numa excitante medida de risco, levá-lo de volta ao topo. Se a filosofia permissiva da equipe não atrapalhasse. E se...

Admita. Se não estivesse tão entediado.

Ultimamente, seu entusiasmo em superar expec­tativas estava um tanto apagado. O que ele realmen­te precisava era de uma boa razão para comprar o banco, além de somente ganhar dinheiro.

Uma voluptuosa Cleópatra o avistou e seguiu lentamente em sua direção. Hoje não, querida, Sam pensou com repulsa. O que ele queria, o que preci­sava...

Foi tomado por uma nostalgia ao lembrar das noites quando era jovem. Noites onde havia mágica no ar e mistério no rosto de uma mulher. Onde es­tava tudo isso? De repente, o ruído e o calor atingi­ram um nível insuportável. Ele afrouxou a gravata e procurou a saída mais próxima.

No outro lado do salão, as cortinas pesadas pare­ciam atraí-lo. Ele procurou abrir caminho no meio da multidão. Se ao menos conseguisse se afastar da­quele clima de carnaval...

Felizmente, as portas não estavam trancadas. Ele saiu para a escuridão da varanda e foi recebido pela brisa salgada. A porta se fechou, cessando o som.

Sam levou um minuto para se ajustar. Andou até o parapeito e olhou para o vasto oceano. Ouviu o murmúrio das ondas na praia escura.

Enquanto alongava os músculos dos braços e ombros, ele respirou fundo, como se quisesse capturar a energia do céu brilhante. Observou a lua e se assustou ao ouvir um barulho.

Havia alguma coisa ali. Ou alguém.

Ele ficou tenso e vasculhou a varanda com o olhar. No canto extremo percebeu algo. A lua esco­lheu aquele exato momento para surgir, e a imagem tomou forma humana.

— Olá? — disse ele, dando alguns passos naque­la direção.

Ao som da voz dele a pessoa ficou paralisada. In­trigado, ele começou a andar na direção da presença misteriosa. Quem se esconderia no escuro àquela hora, a não ser que planejasse algo de ruim?

— Seja quem for, é melhor aparecer.

A pessoa se moveu, e ele viu que era uma mulher.

— Não se aproxime — disse ela agressivamente.

— Por quê?

Depois de um instante de silêncio, ela disse:

— Está invadindo meu espaço. Agora se afaste. Ele sorriu.

— Pare com isso. Não pode chamar uma varanda pública de "seu espaço". — A curiosidade dele fora estimulada, e ele estreitou os olhos para tentar vê-la melhor. Havia algo de misterioso na figura pálida da mulher, como um fantasma no meio da neblina.

Naquele momento a lua atravessava uma nuvem e iluminava a varanda. E ele perdeu o fôlego.

Ela era uma visão sublime, vestida de branco cintilante. Um anjo. Uma ninfa. Sob um ornamento brilhoso, seus cabelos chegavam quase até a cintu­ra. Uma sensação irreal, quase mágica, o dominou, como se ele tivesse entrado em um conto de fadas.

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Sejam bem Vindos!

Sonhos de Uma NoiteWhere stories live. Discover now