Capítulo 1

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— Olá? — disse ele, dando alguns passos naque­la direção.

Ao som da voz dele a pessoa ficou paralisada. In­trigado, ele começou a andar na direção da presença misteriosa. Quem se esconderia no escuro àquela hora, a não ser que planejasse algo de ruim?

— Seja quem for, é melhor aparecer.

A pessoa se moveu, e ele viu que era uma mulher.

— Não se aproxime — disse ela agressivamente.

— Por quê?

Depois de um instante de silêncio, ela disse:

— Está invadindo meu espaço. Agora se afaste. Ele sorriu.

— Pare com isso. Não pode chamar uma varanda pública de "seu espaço". — A curiosidade dele fora estimulada, e ele estreitou os olhos para tentar vê-la melhor. Havia algo de misterioso na figura pálida da mulher, como um fantasma no meio da neblina.

Naquele momento a lua atravessava uma nuvem e iluminava a varanda. E ele perdeu o fôlego.

Ela era uma visão sublime, vestida de branco cintilante. Um anjo. Uma ninfa. Sob um ornamento brilhoso, seus cabelos chegavam quase até a cintu­ra. Uma sensação irreal, quase mágica, o dominou, como se ele tivesse entrado em um conto de fadas.

— Não se aproxime. Não estou com humor para conversar, então é melhor ficar onde está.

Sam riu e a pulsação dele se acelerou.

— Não sou muito de conversar.

Ele sentiu a intensidade no brilho dos olhos dela, e, quando se aproximou, percebeu que ela usava uma máscara.

— Deixe-me ver... — Ele sorriu ao observar o corpo esguio à luz da lua, deliciosamente envolto em cetim. Ela cruzou as mãos sobre os seios. No chão havia um par de asas prateadas apoiadas con­tra a parede. — O que você é? Um anjo? — ele perguntou sorrindo, e depois reconheceu a coroa. — Ah, claro. Você deve ser a Rainha das Fadas. Qual é o nome dela? Titânia, não é?

Presa em seu pior pesadelo, Ellie O'Dea segura­va com força o frágil corpete. Enquanto o homem se aproximava, ela fundiu suas idéias buscando uma forma de se livrar dele sem que antes pudesse per­ceber o quanto o vestido mal lhe cobria os seios.

— Parabéns. Foi um prazer conhecê-lo. Meu na­morado logo vai chegar, então não precisa me fazer companhia.

Ela prendeu o fôlego. A menção ao namorado que a deixara para ir para a Antártida parecia ter funcionado, pois o estranho permaneceu onde esta­va. Ele tinha pelo menos l,90m e era grande. Ape­sar de estarem no escuro, os ângulos do rosto dele sugeriam uma beleza estonteante.

Aos 29 anos, ela sabia o bastante sobre homens bonitos. Ele era bonito demais, ela pensou. Um perigo.

Sam a olhou da cabeça aos pés. Não conseguiu determinar a cor exata dos cabelos, mas o brilho deles era um convite ao toque.

Com olhos já ambientados à luz, ele a via mais claramente. Era como se a lua tivesse depositado seu brilho na pele clara dela. O vestido de cetim era longo e justo, revelando a cintura fina, os qua­dris arredondados e as coxas torneadas. O corpete estava preso numa corrente de prata ao redor do pescoço. Embora ela mantivesse as mãos cruzadas sobre os seios, era possível perceber que eram far­tos e firmes.

Ele ficou encantado com a beleza perfeita dela. Seu coração bateu descompassadamente, e a voz ficou rouca.

— Seu namorado não se preocupa em deixá-la sozinha aqui?

— Não estou sozinha, estou? Eu ficaria se pudes­se. Se você não tivesse insistido em invadir minha privacidade.

— Oh. Desculpe. — Sentiu uma pontada de cul­pa, como se tivesse invadido território sagrado. — Vou embora. Aproveite o ar noturno.

Ele foi em direção à porta, mas a cada passo a visão o atraía com mais força.

— Espere só um momento.

A voz doce e baixa despertou uma sensação agra­dável que ele quase esquecera existir.

— Tem certeza? Não quero causar problemas com seu namorado.

— Não se preocupe com ele. Ele não... Você viu uma mulher vestida de Scarlett O'Hara?

Ele parecia despreocupado, como se não hou­vesse uma emoção crescente tomando conta de seu corpo.

— Acho que não sei como é Scarlett O'Hara. Ele percebeu que o namorado não voltaria. Que

homem deixaria tal beldade ali fora para ser abor­dada por estranhos?

Ele queria ver o rosto dela, mas a máscara o frus­trava. Pelo que podia perceber, os lábios pareciam macios, como se fossem responder ao mínimo to­que da língua. O queixo dela era delicado e fasci­nante, característica que ele estava seguro que seria comum a todo o rosto.

— Minha fantasia à luz da lua — ele exclamou com uma risada. — Finalmente a encontrei.

Os olhos dela brilharam, e ele quase moveu a mão com vontade de retirar a máscara. Esticou o braço, mas ela se afastou. Ela parecia não conse­guir soltar a mão do corpete, então gesticulou com o cotovelo.

Ele franziu o cenho.

— Há algo errado com seu vestido? — Ele se inclinou para tentar ver melhor. Ela se afastou ra­pidamente.

Com ar zombeteiro, ele percebeu que ela segura­va o corpete e a corrente com as mãos.

— Ah, não! Você teve algum imprevisto? Acho que sei por que está se escondendo. — Pensamen­tos instintivos de sedução se insinuaram na voz dele. — Espero que esteja usando algo por baixo.

Houve um silêncio tenso. Ele finalmente se deu conta de que ela estava constrangida.

Ela o avaliou atrás de sua máscara com olhos bri­lhantes.

— Pode rir. Tenho certeza de que é uma situação divertida para um homem sem coração. — Apesar da expressão corajosa, uma emoção forte ficou evi­dente na voz dela e ele se arrependeu.

— Desculpe. Não é motivo para rir. Mas não pode fazer nada para consertar o vestido? Um alfi­nete, talvez?

Ela ficou em silêncio, como se lutasse consigo mesma para confiar nas boas intenções dele.

— Já tentei, mas não deu certo. O tecido come­çou a desfiar. — Ela mostrou um lado do corpete.

— Esta parte está presa apenas por alguns fios. Fo­ram essas asas idiotas que fizeram isso. Elas são pesadas demais.. Deviam ficar presas no fecho do pescoço. Aqui...

Ela virou de lado para mostrar a parte de trás. O vestido era decotado, e quando ela se mexeu para mostrar onde as asas danificaram o tecido, os ca­belos foram um pouco para o lado e revelaram as costas brancas.

Ele sentiu a boca seca. Imaginou-se percorrendo a coluna dela com os dedos, beijando a pele clara de cetim...

— Prendemos essa costura do melhor jeito pos­sível no lugar onde ficava o fecho, mas ainda assim o tecido está desfiando. A alça está soltando do cor­pete. — Ela se endireitou e o encarou, suspirando.

— Em pouco tempo, o vestido vai se desfazer. Uma amiga foi buscar uma roupa para mim.

Ele merecia ser chamado de "sem coração". Ela estava em uma situação embaraçosa, mas todos os pensamentos dele eram sobre acariciá-la. Beijá-la.

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